INDÚSTRIA DE MULTAS – É
VERDADE, MUITAS MORTES SÃO CAUSADAS POR IMPRUDÊNCIA DOS MOTORISTAS, MAS, AS
CONDIÇÕES DAS ESTRADAS SÃO A PIOR CAUSA DE MORTES DEVIDO A FALTA DE
INVESTIMENTOS DO GOVERNO NELAS E NÃO HAVENDO INVESTIMENTOS A CURTO A MÉDIO E
LONGO PRAZO O MAIS FÁCIL É AUMENTAR O VALOR DAS MULTAS EM ATÉ 900% PARA
ARRECADAR MAIS E TIRAR MAIS DINHEIRO DO POVO.
Multas
sobre principal motivo de mortes nas estradas sobem até 900%
Punições sobre ultrapassagens
perigosas e rachas ficam mais severas.
Medidas integram plano para reduzir em 50% mortes no trânsito até 2020.
Medidas integram plano para reduzir em 50% mortes no trânsito até 2020.
Peter
Fussy Do G1,
em São Paulo
As
punições para motoristas que fazem ultrapassagens perigosas e rachas passam a
ser mais severas neste sábado (1º) em todo o Brasil. Em alguns casos, as multas
ficaram 900% mais pesadas e se equiparam com a de dirigir embriagado, chegando
a R$ 1.915 – o valor mais alto para uma infração de trânsito no país.
É o caso,
por exemplo, de ultrapassagens forçadas quando outro veículo vem em sentido
oposto da via (artigo 191 do Código de Trânsito Brasileiro), que passam de R$
191,54 para o valor máximo, além de suspensão da carteira de habilitação (CNH).
Ultrapassagens ilegais ou perigosas são responsáveis pelo tipo de acidente que
mais mata nas estradas federais: as colisões frontais.
De
janeiro a setembro de 2014, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 5.042
acidentes deste tipo. Isso equivale a 3,99% do total de acidentes no período,
mas esse é o tipo mais letal.
Segundo
levantamento da polícia, as colisões frontais deixaram 2.067 vítimas fatais nos
9 primeiros meses do ano, ou 33,5% do total de mortes nas estradas. O número de
mortos em batidas de frente no período subiu 5,5% em relação ao ano passado.
Colisões
traseiras lideram em número de acidentes entre janeiro e setembro (37 mil), mas
o as mortes causadas por elas equivalem a um quarto do número dos que morreram
por causa de colisões frontais.
A segunda
principal causa de mortes nas estradas é o atropelamento, que vitimou 940
pessoas até setembro.
De acordo
com a PRF, as punições mais severas para determinados tipos de infração fazem
parte de um pacote para reduzir as mortes no trânsito em 50% até 2020.
No total,
são 11 artigos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) alterados, entre eles
ultrapassar em faixa contínua (artigo 203) ou pelo acostamento (artigo 202).
Neste último caso, a infração foi de grave para gravíssima - as demais já eram
consideradas de maior gravidade.
Além
disso, se o motorista repetir a infração em menos de 12 meses, o valor da multa
dobra na segunda autuação, para até R$ 3.830,80. A mudança na legislação foi
sancionada pela presidente Dilma Rousseff em maio deste ano, com validade após
6 meses.
Rachas
Ações de direção agressiva, como disputar corrida (artigo 173), promover competição ou participar de exibições de manobras (artigo 174), manobra perigosa, mediante arrancada brusca, derrapagem ou frenagem (artigo 175), agora são consideradas todas tão graves quanto dirigir alcoolizado, com multa de R$ 1.915.
Se for
pego nestes casos, o motorista poderá ficar mais tempo na prisão, de acordo com
a nova lei. A pena para participar de “racha” agora varia de 6 meses a 3 anos
de reclusão – antes o limite era de 2 anos. Caso alguém fique ferido, o período
passa para 3 a 6 anos. Já em caso de morte, a legislação prevê agora de 5 a 10
anos na cadeia.
Expectativa
A Polícia Rodoviária Federal espera que as multas mais pesadas reduzam o número de acidentes com vítimas fatais em pelo menos 5% nos próximos meses, com queda mais acentuada ao longo do tempo devido à fiscalização.
“A legislação era muito branda. O motorista
praticamente cometia um homicídio e a multa era de R$ 127. Temos a consciência
de que a maioria dos cidadãos dirige de forma correta. Nosso objetivo é tirar
de circulação estes poucos condutores que trazem risco muito grande à
população”, explicou, Stênio Pires, inspetor da PRF.
A entrada
em vigor dos novos valores ocorre perto do momento em que a PRF intensifica o
controle nas estradas, entre dezembro e fevereiro, quando grande parte da
população tira pelo menos alguns dias de férias.
Para o
consultor internacional em segurança de trânsito Philip Gold, a fiscalização
tem o mesmo peso que o aumento das multas para a mente do condutor. “Diversos
estudos apontam que o risco de pagar mais e a chance maior de ser multado têm o
mesmo efeito”, afirmou.
Já
Eduardo Biavati, sociólogo e especialista em educação e segurança no trânsito,
apontam para uma solução tecnológica. “A mudança é importante, mas resolve?
Não, porque teria de ser acompanhada por um plano de monitoramento com câmeras,
para os motoristas saírem nas férias com medo de serem autuados. Não adianta os
meios de comunicação falarem agora, as pessoas vão esquecer.”
Desequilíbrio
De acordo com os especialistas consultados, a correção dos valores é feita com atraso de mais de uma década, mas é importante para retomar a eficácia das punições. As multas foram fixadas em 1997 e deveriam ser corrigidas pela Ufir (Unidade fiscal de referência), que foi extinta em 2000. Desde então ficaram congeladas, com exceção das mudanças na chamada Lei Seca em 2008.
“Após um
período inicial com efeito muito importante de redução da mortalidade, de lá
para cá a coisa veio perdendo força. Agora, esse pequeno pacote foca em uma das
frentes do problemas, a alta gravidade dos acidentes nas rodovias”, afirma
Biavati.
As
mudanças pontuais criam um desequilíbrio dentro do Código Brasileiro de
Trânsito com relação às multas, dizem eles. A sanção para quem fala ou utiliza
telefone celular dirigindo continua de R$ 85 e 4 pontos na carteira, enquanto
quem não usar o cinto de segurança é penalizado com R$ 127 e 5 pontos na
carteira. “Algumas pessoas ‘colecionam’ essas multas de R$ 80 ou R$ 100. Não dá
em nada”, comentou Biavati.
No Reino
Unido, por exemplo, a multa para usar o telefone enquanto dirige é de 1 mil
libras, ou seja, cerca de R$ 3,9 mil (na cotação de sexta-feira) – mais do que
a multa máxima no Brasil. Por lá, a sanção para dirigir embriagado é de 5 mil
libras (R$ 19,5 mil) e não há limite para multa em caso de morte.
“Para o
motorista médio, um possível problema financeiro causado por multa gera uma
mudança no comportamento. No entanto, há um limite. Valores muito altos já não
fazem diferença, mas ainda não chegamos nem perto deste valor excessivo. Por
enquanto, quanto maior a multa, melhor”, afirmou Gold.
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