‘Tivemos que mudar a agenda’, diz Paulo Guedes
Thiago Bronzatto
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Adriano Machado/Reuters A SEGUNDA ONDA DA CRISE -- O ministro da Economia,
Paulo Guedes, diz que a retomada do crescimento dependerá da aprovação de
reformas estruturais
Instalado na Granja do Torto, residência oficial em
Brasília onde morou presidentes da República, o ministro da Economia, Paulo Guedes,
tem feito longas caminhadas pelas manhãs enquanto planeja quais serão os
próximos passos para retomar o crescimento do país. Com o avanço do coronavírus
(Covid-19), Guedes teve de deixar de lado a sua agenda liberal e
passou a abrir os cofres públicos para socorrer empresários, trabalhadores,
estados e municípios. Nesta semana, ele anunciou medidas que somam 750 bilhões
de reais, quase o mesmo valor poupado com a reforma da Previdência. Mesmo
mudando a sua rota, o ministro defende que o Congresso, em isolamento social,
aprove reformas estruturais para se antecipar a uma segunda onda da crise
– que, segundo ele, será “mais desagradável”. “A nossa capacidade de retomar o
crescimento vai depender da velocidade que vamos retomar as reformas
estruturantes”, afirma Guedes.
A pandemia do coronavírus mudou a agenda econômica
do Brasil. Agora, qual será o plano para proteger o país desta crise?
O Brasil estava em uma agenda de
reformas estruturantes, que iriam recuperar o nosso crescimento sustentável.
Estávamos reduzindo os investimentos estatais, abrindo a economia, reformando a
Previdência, diminuindo os juros e o endividamento. O grande salto ocorreria
com o pacto federativo, que iria transformar o país. Seria mais Brasil e menos
Brasília. O objetivo era jogar os recursos para os estados e municípios. Era
uma direção tão correta que, se isso tivesse sido feito antes, o coronavírus
iria encontrar os estados e municípios mais fortes, com mais recursos
financeiros nas mãos. Estávamos fazendo reformas estruturantes, jogando
dinheiro de Brasília para a ponta, justamente para a saúde, o saneamento e a
segurança pública, até que veio o coronavírus. Tivemos que mudar a agenda. Ao
invés de reformas estruturantes, passamos a adotar medidas emergenciais. As
reformas estruturantes são permanentes, sendo as que vão garantir o futuro do
Brasil, com recursos para a saúde, o saneamento, a educação e a segurança
pública na base, onde o povo vive. As medidas emergenciais são transitórias. É
só uma golfada. Elas criam uma camada de proteção social aos mais frágeis.
Agora, o nosso lema é: nenhum brasileiro será deixado para trás.
O senhor foi criticado por ter demorado para
liberar o auxílio de 600 reais para os trabalhadores informais. O que houve,
afinal?
Liberamos 98 bilhões de reais de ajuda
emergencial aos trabalhadores informais. Esse valor corresponde a todas as
despesas discricionárias para os ministérios neste ano. Fizemos isso em poucos
dias, com uma só medida. Liberamos mais 51 bilhões de reais para os empregados
que tiverem os seus salários reduzidos nos próximos meses. Queria ver quem
faria isso em três semanas e meia. Quem sairia de uma agenda grande de reformas
estruturantes para uma de medidas emergenciais com a mesma velocidade. Em um
primeiro momento, eu só podia fazer medidas infraconstitucionais. Depois,
consegui o direito de gastar mais, graças à decisão do ministro Alexandre de
Moraes (do Supremo Tribunal Federal). Mas, depois, eu tinha outra trava:
a regra de ouro (mecanismo que proíbe o governo de fazer dívidas para pagar
despesas correntes). Se eu gastasse mais, iria quebrar essa regra. Havia
uma divisão de opiniões dentro do ministério. Mas acabamos decidindo não
esperar mais para resolver essa questão. Batemos o martelo e seguimos em
frente. Os recursos devem ser liberados nos próximos dias. O Ministério da
Cidadania, com o nosso apoio, está cuidando disso.
O senhor tem dito que a pandemia do coronavírus tem
duas ondas. A primeira irá atingir a saúde dos brasileiros. Já a segunda terá
impacto na economia. Como será possível passar por esses dois momentos?
Daqui a três, quatro ou cinco meses,
essa primeira onda vai ter passado. A partir daí, estaremos presos numa segunda
onda, que é a do desaquecimento econômico. A primeira onda, da saúde, já nos
atingiu e começou a afetar a economia. Temos que pensar também em como sair da
segunda onda que virá. Como? Retomando as reformas estruturantes. Quanto mais
cedo, melhor. Se aprovarmos o saneamento, destravaremos a retomada dos
investimentos. O projeto do saneamento está no Congresso há um tempo. Se
aprovarmos o setor elétrico, as privatizações e as concessões, vamos ajudar a
atrair mais investimentos. A nossa capacidade de retomar o crescimento vai
depender da velocidade que vamos retomar as reformas estruturantes.
Mas o senhor acredita que, neste momento de
pandemia, há espaço para aprovar essas reformas?
Se ficar todo mundo trancado em casa,
com medo, a segunda onda vai ser mais desagradável. Mas se pensarmos como vai
sair logo depois da primeira onda, podemos destravar investimentos importantes.
Há projetos que estão parados há um ano no Congresso. Algumas pessoas cobram
pressa de uma medida que ficou parada durante dez dias, enquanto saneamento
está parado há um tempo. Como a pessoa vai lavar a mão se não tem água nem
esgoto? Ou seja, o nosso desempenho nesta crise do coronavírus seria outro se tivéssemos
destravado investimentos em saneamento. A mesma lógica vale para o Plano
Mansueto, que reforçaria financeiramente os estados e municípios que hoje estão
passando por apuros. A nossa parte estamos fazendo. Todas as principais medidas
contra o coronavírus têm passado pela Economia. Por exemplo: eu não só reduzi a
zero a alíquota de importação de mais cem produtos hospitalares como proibi a
exportação de máscaras e ventiladores. O Mandetta (ministro da Saúde)
disse que isso salvou o país. O nosso lema agora é: nenhum brasileiro será
deixado para trás.
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