Respaldado pelo Congresso, Mandetta não vai confrontar Bolsonaro para
seguir à frente da Saúde
Por Lisandra Paraguassu e Ricardo
Brito
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Reuters/Adriano Machado .
Por
Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, evitará confrontar diretamente o presidente Jair Bolsonaro
para seguir à frente da pasta ao menos durante a crise decorrente do avanço do
novo coronavírus no país, ainda mais após ter recebido respaldo da cúpula do
Congresso e sua gestão estar bem avaliada pela opinião pública, mas deu sinais
de que poderá sair do governo depois.
Essa avaliação foi feita à Reuters por fontes
ligadas ao ministro na pasta e no Legislativo nesta sexta-feira. Mandetta tem
sido o principal rosto do governo Bolsonaro durante a pandemia e tomado
decisões que contrariam o próprio chefe.
Na véspera, o presidente afirmou numa entrevista à
Rádio Jovem Pan que não pretendia demitir Mandetta durante a
"guerra". Mas admitiu que está se "bicando" com ele há
algum tempo, dizendo que o titular da Saúde em algum momento
"extrapolou" e tem faltado "humildade" a ele.
O presidente tem defendido o relaxamento de medidas
de contenção social adotada por governos estaduais e municipais e minimizado os
efeitos do vírus, com o argumento de que os efeitos econômicos da pandemia
--desemprego e até convulsão social-- podem ser maiores do que a pandemia em
si.
Mandetta, por sua vez, tem avalizado as decisões
dos governadores e prefeitos, valendo-se de dados técnicos. Defende a
manutenção dessas medidas para evitar a elevação expressiva do número de
infectados, o que poderia levar a um colapso do sistema de saúde brasileiro.
No ministério, segundo uma fonte, Mandetta continua
dizendo que não sai e não vai responder ao presidente, mantendo a linha de
atuação da pasta. Mesmo estando cansado de ser alvo de ataques, ele não vai se
contrapor.
“Quanto a eu deixar o governo por minha vontade,
tenho uma coisa que aprendi com meus mestres: médico não abandona paciente”,
disse Mandetta nesta sexta em entrevista coletiva no Palácio do Planalto após
ser questionado sobre se cogita deixar por agora o cargo diante dos atritos com
o presidente. "Foco é no trabalho."
Na noite de quinta, pouco depois da entrevista de
Bolsonaro à Jovem Pan, Mandetta reuniu-se em um jantar com os presidentes da
Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. Recebeu deles --os três são
do DEM-- apoio na sua atuação frente à pandemia, disse uma fonte.
O ministro, um médico ortopedista de 55 anos e
ex-deputado, chegou ao cargo com o respaldo da frente parlamentar da saúde e de
representantes das Santas Casas. Era uma figura secundária no governo, mas
ganhou projeção na crise e respaldo do Congresso e também de integrantes do
governo, como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
"Ele (Mandetta) não está isolado, nós temos
dado total apoio", disse uma liderança do Congresso, que preferiu falar
sob o anominato.
De qualquer modo, a avaliação é que Mandetta não
pode "provocar mais" Bolsonaro, sob risco de criar um pretexto para
ser demitido.
O próprio presidente, em entrevista na véspera, fez
questão de ressaltar que é ele quem tem a "caneta".
PRETENSÕES
Na coletiva desta sexta, Mandetta não quis
polemizar em relação ao resultado da pesquisa Datafolha, divulgado mais cedo,
que mostrou uma aprovação da sua pasta na gestão da pandemia o dobro da do
presidente.
Mandetta tem dito em entrevistas que o pior da
crise ainda vai chegar. Avalia que o pico da doença chegará na segunda quinzena
de abril ou em maio. O Brasil registrou nesta sexta 9.056 casos confirmados de
coronavírus e as mortes chegaram a 359.
A liderança do Congresso ouvida pela Reuters disse
que o momento de maior tensão na relação Bolsonaro e Mandetta já passou. Disse
que o pior foi no sábado passado, quando houve uma reunião tensa reunião no
Palácio da Alvorada em que o ministro afirmou ao presidente e a ministros que
iria defender o isolamento e pediu a ele que não minimizasse a pandemia.
"O que ele (Mandetta) pediu foi carta branca
para poder defender o que ele acredita. Aí foram 48 horas que ele esperou sem
saber o que ia acontecer", disse essa fonte, resumindo que a situação
ficou definida de "cada um no seu quadrado".
Esse parlamentar disse que se chegou a uma espécie
de "trégua" entre eles durante a pandemia. "Não tem problema,
Mandetta não tem ambição de ficar depois", disse essa fonte.
O titular da Saúde deu a deixa da porta de saída na
entrevista de sexta ao dizer que "talvez" poderia ser melhor para ele
ir discutir o sistema de saúde em razão do Covid-19 em outro lugar depois.
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