Universitário se imola e gera debates sobre a precariedade dos
estudantes na França
RFI
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PHILIPPE DESMAZES / AFP
“Um
gesto desesperado que diz muito sobre a nossa precariedade atual", este
foi o consenso entre os alunos que se reuniram na manhã desta terça-feira (12)
em frente à sede do restaurante universitário em Lyon, onde um estudante ateou
fogo ao próprio corpo na sexta-feira, para manifestar.
Eles
estavam reunidos no local para apoiar o estudante de 22 anos que se imolou na
sexta-feira (8) em frente ao restaurante da universidade e que ainda está entre
a vida e a morte no hospital. Ele teve 90% do corpo queimado.
Passando
por dificuldades financeiras - ele havia perdido a bolsa de estudos ao
"triplicar" seu segundo ano na Universidade de Lyon 2 -, o jovem
explicou seu gesto em uma mensagem lida nesta terça-feira por um outro
estudante: "Hoje eu cometerei o irreparável, se eu viso o edifício do
restaurante universitário, não é por acaso, estou buscando um lugar
político", escreveu o aluno antes de passar para a ação.
No
comunicado, o estudante imolado dizia que, mesmo quando tinha direito à bolsa
de estudos, ela não era suficiente. Sua bolsa era de € 450 (aproximadamente R$
2.069).
Segundo
o sindicato dos estudantes Solidários, que convocou manifestações em 40
cidades, esse gesto "extremo" ilustra uma situação de precariedade
"comum". "Não estamos imunes a outras tentativas de
suicídio", disse um ativista, "exigimos uma posição pública do
ministério".
"São
dificuldades que muitos estudantes têm", diz Bastien Pereira Besteiro,
professor da Universidade Lyon 2 e militante do sindicato Sul-Educação.
"As autoridades públicas devem assumir suas responsabilidades", diz o
professor, completando que a precariedade é comum entre seus alunos.
Catar
lixo
Sophie,
uma estudante de ciências sociais do terceiro ano, foi à manifestação com uma
placa, onde disse que havia sido "banida do restaurante universitário
porque estava hospitalizada".
"Não
pude comparecer a alguns exames e por isso acabei repetindo o ano, e o
restaurante me cortou a comida", disse ela, contando ter que catar restos
no lixo para comer e acumular vários empregos para pagar o aluguel.
Ao
meio-dia, a manifestação transbordou no campus da Universidade Lyon 2 e a
Reitoria anunciou o fechamento administrativo de todos os edifícios
"devido a um bloqueio em andamento e a atos de vandalismo".
No
sábado, Nathalie Dompnier, reitora da Universidade Lyon 2, disse à AFP que a
instituição não estava ciente das "dificuldades pessoais"
relacionadas ao aluno imolado.
Em
Saint-Etienne, cidade da qual o estudante imolado é natural, 150 pessoas se
encontraram nesta terça-feira. Um de seus primos saudou "seu ato
heróico", dizendo aos participantes: "continue lutando, é o que ele
quer".
No
norte da França, cerca de 300 a 400 pessoas se reuniram ao meio-dia em frente a
restaurante universitário de Lille, atrás de placas dizendo "Precariedade
mata, solidariedade ganha vida". Os estudantes marcharam pelas ruas antes
de entrar na faculdade de direito, onde impediram uma palestra de François
Hollande sobre a crise da democracia.
Bate-boca
na Assembleia Legislativa
"Sua
política mata". Com esta frase, a deputada francesa Danièle Obono (A
França Insubmissa, partido da esquerda radical) acusou nesta terça-feira (12),
"políticas que vão contra os interesses sociais" do primeiro-ministro
Edouard Philippe de levarem um estudante de Lyon à auto-imolação.
"Sr.
primeiro ministro, a precariedade mata, ela é uma das consequências de suas
políticas que vão contra os interesses sociais. Quantas mortes serão
necessárias para o senhor colocar um fim nisso?", criticou violentamente a
deputada durante a sessão de perguntas na Assembleia Nacional, dirigindo-se a
Edouard Philippe.
Em
sua resposta à deputada, o secretário de Estado encarregado da Juventude,
Gabriel Attal, lamentou essa "tragédia" e lembrou que o governo
estava trabalhando para melhorar a situação dos estudantes.
"Esse
jovem acusa sua política; novas mortes acontecerão por causa dessa política,
muitas pessoas já perceberam que você não está nem aí para as vidas delas, você
prefere deixá-las morrer e continuar a designar migrantes e estudantes como
bodes expiatórios ", respondeu Danièle Obono.
"Nós
agimos, você está forçando a barra, seja um pouco responsável", lançou
Gabriel Attal, sob os aplausos da maioria.
(Com
informações da AFP)
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