Ruptura de talude de mina em Barão de Cocais pode
acontecer a partir de domingo
José Vítor Camilo
Caso o talude se
rompa, a barragem de rejeitos também poderá vir abaixo
Um documento enviado
pela própria Vale ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apontou que, se
a movimentação em um talude no complexo minerário de Gongo Soco, da Vale, em
Barão de Cocais, na região Central do Estado, continuar no ritmo que vem
acontecendo, sua ruptura pode acontecer entre o próximo domingo (19) e o dia 25
de maio. Diante dessa situação, o MPMG emitiu nesta quinta-feira (16) uma
recomendação para que a mineradora adote imediatamente medidas para alertar a
população dos riscos a que está sujeita.
O rompimento do
talude em si não oferece risco à cidade, entretanto, caso a estrutura desabe,
uma vibração ou pequeno abalo sísmico pode ser um gatilho para que a barragem
que possui 4,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério se rompa e
parte do município seja tomado pela lama.
O documento assinado
por dezenas de promotores dá um prazo de seis horas para que a empresa responda
se irá adotar as medidas de informação à população sobre a real condição das
estruturas, com informações específicas e detalhadas sobre como isso será
feito. Caso a mineradora não adote as medidas, uma ação civil pública poderá
ser movida pelo órgão na Justiça. Até as 15h desta quinta, a empresa ainda não
havia se posicionado para o MPMG.
Na quarta-feira
(15), a Defesa Civil de Minas Gerais divulgou a movimentação de quatro
centímetros em um talude, que é um plano de terreno inclinado que limita um
aterro e tem como função garantir a estabilidade da estrutura.
A previsão sobre
quando o talude deverá se romper consta em um documento enviado pela própria
Vale ao MPMG às 12h39 de quarta. "A empresa Vale S/A estima que,
permanecendo a velocidade de aceleração de movimentação do talude norte da Cava
da Mina de Gongo Soco, sua ruptura poderá ocorrer no período de 19 a 25 de maio
de 2019, gerando vibração que poderá ocasionar a liquefação da Barragem Sul
Superior e sua consequente ruptura", aponta a recomendação dos promotores.
O promotor Leonardo
Castro Maia, que é coordenador regional das promotorias do Meio Ambiente da
bacia do rio Doce, foi um dos que assinaram a recomendação e explica que,
apesar da previsão feita pela Vale, a verdade é que o rompimento da barragem
pode acontecer a qualquer momento. "O risco já era iminente desde quando
subiu para o nível 3, tanto é que os trabalhos foram impedidos na mina pois
qualquer movimentação poderia ser o gatilho. Mas, agora, com essa movimentação
desse talude, a gente sabe que seu colapso pode levar ao rompimento da
barragem", explica.
Diante de tamanho
risco, até mesmo com previsão de quando isso poderá ocorrer, os promotores
decidiram que era necessário que a população que pode ser atingida recebesse o
máximo de informações possíveis. "O principal objetivo foi assegurar o
direito dos moradores de Barão de Cocais à informação, nosso foco é que os
atingidos pelo menos possam se preparar para o pior", completou Maia.
A situação da
barragem Sul Superior é considerada instável desde o dia 22 de março, quando
seu nível de alerta foi elevado para 3, grau máximo de risco para barragens no
que se refere à situação de iminência ou ocorrência de rompimento.
Mas mesmo antes da
elevação do nível de risco de 2 para 3, as comunidades que seriam atingidas
pela lama de rejeitos em caso de rompimento já haviam sido evacuadas. No dia 8
de fevereiro, 14 dias após a tragédia em Brumadinho, cerca de 500 pessoas
residentes nas comunidades de Socorro, Tabuleiro, Gongo Soco e Piteiras foram
desalojadas por conta do acionamento do Plano de Ação de Emergência de Barragem
de Mineração (PAEBM).
Mapa divulgado pela Defesa Civil mostra a mancha que deverá atingir a cidade de Barão de Cocais
Procurada na quarta-feira
para tratar sobre a movimentação no talude, a Vale informou, por meio de uma
nota, que está avaliando as possibilidades de eventuais impactos sobre a
barragem. As autoridades competentes foram envolvidas para também avaliarem a
situação e, em caso de necessidade, definirem as medidas preventivas a serem
tomadas. A cava e a barragem são monitoradas 24 horas por dia, de acordo com a
empresa.
O Hoje em Dia
procurou a assessoria da empresa também nesta quinta, entretanto, até o
momento, a mineradora não se posicionou sobre a recomendação emitida pelo MPMG.
A Defesa Civil de
Barão de Cocais divulgou uma nota em que afirma que, desde que foi informada
sobre a movimentação do talude, já foi realizada uma busca em toda a Zona de
Autossalvamento (ZAS) para certificar que a área que seria a primeira a ser
atingida já foi toda evacuada. "Foi avaliada a situação das pessoas com
mobilidade reduzida ou com quaisquer dificuldades de locomoção que residem na
Zona Secundária de Salvamento (ZSS). Também foi procedida à revisão de todo o
plano de evacuação do município", diz o órgão.
Recomendações
No documento
emitido, os promotores orientam a mineradora a fornecer imediatamente
informações claras, completas e verídicas sobre a atual condição estrutural da
barragem Sul Superior, com seus possívels riscos, potenciais danos e impactos
em caso de um rompimento "de acordo com o pior cenário tecnicamente
possível, adotando as recomendações advindas das defesas civis". Para
isso, a Vale deverá utilizar carros de som, jornais escritos e rádios e outros
meios de comunicação de rápida disseminação.
"Forneça
imediatamente às pessoas eventualmente atingidas total e incontinenti apoio
logístico, psicológico, médico, insumos, alimentação medicação, transporte e
tudo que for necessário, mantendo Posto de atendimento 24 horas nas
proximidades dos Centros das Cidades de Barão de
Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo, com equipe multidisciplinar preparada para acolhimento, atendimento e atuação rápida e pronta a serviço dos cidadãos da cidade", completa a recomendação do MPMG.
Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo, com equipe multidisciplinar preparada para acolhimento, atendimento e atuação rápida e pronta a serviço dos cidadãos da cidade", completa a recomendação do MPMG.
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