Número de
mortos em Brumadinho sobe e chega a 179 neste domingo
Juliana Baeta
Número de mortos subiu para 179 neste domingo
O número de mortos
em Brumadinho por causa do rompimento da barragem I da Mina de Córrego do
Feijão subiu para 179 neste domingo (23). Com isso, o número de pessoas dadas
como desaparecidas oficialmente cai para 131.
Mas como já havia
informado o Corpo de Bombeiros, dificilmente há chances de alguém ser resgatado
com vida passado quase um mês desde o rompimento que aconteceu no dia 25 de
janeiro.
Dos 179 mortos, 102
são funcionários da Vale, e 77 são moradores da região. Até então, o
número de mortos era de 177 e 133 pessoas desaparecidas.
Às vésperas de
completar um mês da tragédia de Brumadinho, o governo de Minas reiterou a
proibição do uso da água do Rio Paraopeba, que abastece a região. Em nota
divulgada pelas secretarias de Estado de Saúde (SES), de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (Semad) e de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Seapa), informou que "decidem, como medida de prevenção, ampliar a
abrangência da recomendação de que a água bruta do Rio Paraopeba não seja usada
pela população até o município de Pompéu". A publicação não informa por
quanto tempo vale a determinação.
O texto diz que a
orientação é válida para qualquer finalidade: humana, animal e atividades
agrícolas. Conforme o comunicado, a medida foi adotada após detecção de metais
em níveis acima do permitido pela legislação ambiental, bem como avaliação da
SES com base em requisitos da vigilância sanitária. A orientação é válida desde
a confluência do Rio Paraopeba com o Córrego Ferro-Carvão até a cidade de
Pompéu.
Conforme a nota, o
monitoramento da qualidade da água está sendo feito diariamente desde o último
dia 26 - um dia após o rompimento da barragem da mineradora Vale no município
de Brumadinho. O trabalho é realizado pelo Instituto Mineiro de Gestão de Águas
(Igam) em parceria com a Copasa , Agência Nacional de Águas (ANA) e Serviço
Geológico do Brasil (CPRM).
Até o momento, 177
corpos foram identificados e 133 pessoas permanecem desaparecidas.
Para monitorar
possíveis surtos de zoonoses decorrentes do rompimento da barragem em
Brumadinho, em 25 de janeiro, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) passou a
coletar mosquitos e pernilongos nas matas ao redor do local do rompimento. O
objetivo é identificar a presença de vírus que causam febre amarela e
também outras arboviroses como dengue, zika e chikungunya.
A medida é
importante para relacionar a alteração no ambiente à tragédia da Vale em
Brumadinho no caso de aumento das doenças no Estado futuramente, o que não
foi possível relacionar em Mariana. No entanto, dados da Secretaria de
Saúde de Minas Gerais mostram que o Estado não registrou nenhum caso de febre
amarela entre os anos de 2010 e 2015. Já em 2016 e 2017, foram
registrados 475 casos confirmados de febre amarela silvestre, e 162 pessoas
morreram em decorrência da doença. O rompimento da barragem da Samarco em
Mariana aconteceu em 5 de novembro de 2015.
Especialistas
afirmam que não é possível relacionar o surto da doença entre 2016 a 2017 à
tragédia de Mariana. Mas apontam para a possibilidade do aumento de doenças em
decorrência da tragédia de Brumadinho.
"Há uma série
de zoonoses, que são doenças que vêm da floresta para o ambiente urbano por
meio de vetores animais e que podem vir a se intensificar, como a dengue e
a leishmaniose. Porque os predadores naturais dos insetos que as transmitem,
como peixes e sapos, estavam no ambiente natural que foi degradado, o rio
Paraopeba", explica o professor Adriano Paglia, do Instituto de Ciências
Biológicas da UFMG, especialista na área de Ecologia e Biologia da Conservação.
Além disso, segundo ele, a eliminação de outros insetos competidores dos mosquitos transmissores das doenças também se torna uma agravante para o aumento de zoonoses. "Nas matas há outros mosquitos que estão competindo com os vetores das doenças pelos recursos ali. Quando existem estes competidores no ambiente, também naturalmente se controla a plorifeção do vetor da doença", observa.
Além disso, segundo ele, a eliminação de outros insetos competidores dos mosquitos transmissores das doenças também se torna uma agravante para o aumento de zoonoses. "Nas matas há outros mosquitos que estão competindo com os vetores das doenças pelos recursos ali. Quando existem estes competidores no ambiente, também naturalmente se controla a plorifeção do vetor da doença", observa.
Já o pesquisador
Mariano Andrade da Silva, membro do Centro de Estudos e Pesquisas em
Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) da Fiocruz, está mais otimista
em relação à estrutura para o atendimento de saúde em Brumadinho.
"Não temos como
confirmar se a causa do aumento de febre amarela tem a ver com o rompimento da
barragem em Mariana, mas a resposta do Estado no desastre ali não estava tão
estruturada como está agora. Em Brumadinho, por exemplo, há 100% de cobertura
de atendimento de saúde à família, há um SUS muito bem estruturado. Então caso
venha a ocorrer algum evento epidemiológico, o município vai conseguir responder
em tempo hábil", detalha.
Doenças crônicas
Mais do que o risco
de aumento de zoonoses, há a tendência do surgimento de doenças crônicas nas
pessoas que foram afetadas pelo rompimento da barragem, expõe o professor
do departamento de Medicina Preventiva e Social da faculdade de Medicina da
UFMG, Apolo Heringer, membro do Projeto Manuelzão e especialista em Pneumologia
Sanitária e Epidemiologia.
"O risco é o aumento de doenças crônicas degenerativas agravadas pelo estresse que a tragédia causou. As pessoas não dormem, ficam se lembrando dos familiares que perderam, estão convivendo com o barulho dos helicópteros dia e noite, há trabalhadores terceirizados que ficaram desempregados, donos de propriedades na região terão seus imóveis desvalorizados, há a preocupação, o medo, a ansiedade. Tudo isso adoece as pessoas", comenta.
"O risco é o aumento de doenças crônicas degenerativas agravadas pelo estresse que a tragédia causou. As pessoas não dormem, ficam se lembrando dos familiares que perderam, estão convivendo com o barulho dos helicópteros dia e noite, há trabalhadores terceirizados que ficaram desempregados, donos de propriedades na região terão seus imóveis desvalorizados, há a preocupação, o medo, a ansiedade. Tudo isso adoece as pessoas", comenta.
Monitoramento
A Funed informou
que, entre os dias 11 e 15 deste mês, foi realizado um inquérito
entomológico por meio da captura dos Culicídeos – família de insetos
habitualmente chamados de muriçoca, mosquito ou pernilongo – na área de mata no
entorno do rompimento da barragem em Brumadinho pelo Núcleo de Entomologia do
LACEN/MG – Funed.
"Esta ação
resultará na identificação das espécies de vetores circulantes naquela área com
posterior análise molecular, visando identificar a presença de vírus que causam
febre amarela e também outras arboviroses como dengue, zika e
chikungunya, no município de Brumadinho/MG. O objetivo é entender o ecossistema
do local e monitorar possíveis alterações no ambiente", disse o órgão.
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