Tecnologia
inovadora salva sírios dos ataques aéreos
Agence France Presse
Kahled e seu irmão
tiveram tempo de subir na moto e fugir à toda velocidade graças a um sistema de
alerta que os salvou de um ataque aéreo, mas destruiu a casa de seus vizinhos
na província síria de Idlib.
Este jornalista
cidadão de 23 anos e seu irmão poderiam ter morrido se não tivessem sido
alertados, minutos antes, através do telefone celular de um ataque iminente
contra seu bairro de Maaret al Shurin, na província de Idlib, último bastião da
insurgência ameaçado por uma ofensiva do regime sírio e da Rússia.
Eles se salvaram
graças ao sistema Sentry, lançado há dois anos por dois americanos e um
programador sírio. Nesta província do noroeste do país em guerra, o mecanismo
poderia desempenhar um papel essencial em caso de ataque.
Quando os aviões de
combate sírios ou russos decolam, o Sentry calcula e localiza o possível alvo
do ataque, analisando as trajetórias dos voos a partir de dados fornecidos por
pessoas no terreno e por uma rede de sensores.
O sistema lança
alertas que os usuários recebem através de aplicativos gratuitos em seus
smartphones, sobretudo via Telegram, o que lhes dá alguns minutos para ficar em
segurança.
No dia do ataque,
Kahled estava em casa para recolher alguns pertences que havia deixado após
fugir de um primeiro bombardeio. "Recebi um alerta no Telegram, dizendo
que outro avião havia decolado e se dirigia para o mesmo setor", conta à
reportagem.
Então saiu correndo
à toda velocidade com seu irmão. "Naquele dia só ficaram feridas três
crianças" no ataque.
Frequência de uso
Segundo seus
criadores, o dispositivo de alerta lançado em agosto de 2016 beneficia cerca de
dois milhões de pessoas na Síria, a maioria delas em Idlib.
A iniciativa
resultou ser eficaz, afirmam os criadores, inclusive durante a ofensiva deste
ano contra o reduto rebelde de Ghuta oriental, onde os bombardeios,
principalmente aéreos, deixaram mais de 1.700 mortos, segundo o Observatório
Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com uma rede de fontes no terreno.
"Observamos que
o uso (do sistema) alcançou um ponto máximo durante esta campanha"
militar, afirmou à AFP John Jaeger, cofundador da companhia Hala Systems, que
desenvolveu o Sentry.
Este apaixonado por
informática e ex-diplomada queria desenvolver meios que salvassem vidas de
civis na Síria. Criou o Sentry com o apoio do empresário americano Dave Levin e
de um codificador sírio cuja identidade é mantida em segredo.
É difícil obter
estatísticas confiáveis, mas a análise dos dados mostra que o uso do Sentry
reduz em 27% o número de pessoas mortas em ataques, afirma Jaeger.
O sistema,
financiado segundo ele pelo Reino Unido, Canadá, Holanda e Dinamarca, necessita
uma rede humana no terreno para vigilar as zonas e instalar sensores.
Oito minutos
Assim que recebem o
alerta pelas redes sociais, rádios locais ou sirenes de alerta ativadas à
distância pela Hala Systems, os residentes dispõem de uma média de oito minutos
para encontrar um refúgio, segundo o cofundador da companhia.
Os socorristas nas
zonas rebeldes, chamados de capacetes brancos, o usam com frequência.
"Os técnicos de
defesa civil tentam fazer com que os civis sem conexão à internet possam
acessar o serviço", afirmou à reportagem o coordenador do sistema de
alerta no norte da Síria, Ibrahim Abu Laith.
Nas últimas semanas
foram realizadas quase 200 sessões de formação para ensinar as pessoas a usar o
sistema por meio da internet, afirma o coordenador.
Segundo o OSDH,
entre as mais de 350.000 pessoas mortas desde o início da guerra em 2011,
33.000 civis perderam a vida em ataques sírios ou russos.
"Tentamos
evitar o maior número de mortes possível", diz Jaeger, que reconhece que
às vezes não se consegue o resultado desejado.
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