Gaza em Roraima
Manoel Hygino
A situação na
Venezuela é como se esperava. A nação sul-americana, que antes causara inveja
às coirmãs do hemisfério, desceu água abaixo, a despeito de seu poderio
econômico, decorrente essencialmente da imensa riqueza de reservas
petrolíferas.
O populismo ali
instalado, amarrado às sucessivas ditaduras durante numerosas décadas, resultou
no fracasso, que hoje incomoda todo o mundo novo descoberto por Colombo.
Os recentes
incidentes na fronteira com o Brasil, especificamente em Bela Vista e
Pacaraima, já faziam temer que a região se transformasse numa espécie de faixa
de Gaza, na qual muitos milhares perderam a vida sem se chegar à paz.
Não mais se fala em
democracia na Venezuela, o que, a esta altura, é quase secundário. O essencial
é salvar vidas com o mínimo de alimentação, já que produtos indispensáveis
faltam às mesas e até nos estabelecimentos comerciais. Ou escapar às
vicissitudes pelas fronteiras.
A descrição de
desagradáveis e condenáveis episódios pelos meios de comunicação do mundo
permitiu antecipar a visão de caos. E quando milhares de venezuelanos escapavam
da pátria, os bancos já estavam de portas fechadas, diante das dificuldades
para transações entre pessoas e operações comerciais e industriais e das
medidas postas em prática pelo governo.
Nas ruas, pessimismo
generalizado, com os cidadãos não acreditando no restabelecimento de
convivência entre a população e os detentores do poder. A economia periga e o
edifício nacional, por cuja construção gerações deram de si no decorrer de
centênios, balança. No maior centro produtor de petróleo das Américas, filas se
formavam junto aos postos de gasolina, após anúncio de reajuste de preços.
O presidente da
República, que decretara feriado por um dia, enfatizava que era o autor do novo
“plano econômico”. Assim, elevaram-se os salários em 600% – isto mesmo:
seiscentos por cento, desvalorizando a moeda, o bolívar, em 96%. Agora existe o
Bolívar Soberano.
As providências
tomadas resultarão no aumento da inflação em 1.000.000%. Isto mesmo: 1 milhão
por cento, tirando-se cinco zeros das moedas e cédulas.
As dificuldades não
se cingem às fronteiras. Levas de pessoas – homens, mulheres, anciões e
crianças – atravessam todos os dias os limites nacionais, ingressando em
território brasileiro e colombiano, fugindo às desditas bolivarianas. As
primeiras altercações mais sérias foram registradas e se tem de operar com
prudência, espírito de solidariedade, cristandade e consciência para evitar
males maiores, evitando a xenofobia, sobretudo porque os brasileiros também
sofrem dificuldades consequentes da longa crise.
O Brasil, compelido
pelas circunstâncias, tem procurado agir. Contingentes minguados de tropas
estão chegando a Pacaraima e Bela Vista, capital de Roraima.
O presidente da
Venezuela está suficientemente “maduro”. Falta cair, para amenizar a situação
do povo hermano. Se houvesse tempo, se lhe aconselharia com Michel Foucault:
“não se apaixone pelo poder”.
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