Depressão, mal que chega sem pedir licença
Simone
Demolinari
“Sou aquela pessoa que não acha prazer em nada na vida, vivo
simplesmente por viver. Já pensei várias vezes em morrer, apesar de não ter
coragem para fazer isso. Vivo reclamando de tudo, não termino nada que começo,
já tranquei duas faculdades, academia, enfim, só quero ficar na cama. Como essa
vida é ruim”.
As vezes é difícil fazer com que uma pessoa que nunca sofreu deste mal
entenda o estrago que a doença causa na suas vítimas. Quem cai num quadro
depressivo grave perde a condição de continuar ativo, de encontrar sentido na
vida ou de sentir prazer. É uma morte em vida.
A razão para se desencadear um quadro depressivo são inúmeras e varia de
pessoa para pessoa. É uma doença que infelizmente vem crescendo muito nos
últimos anos.
A depressão apresenta diversos graus de intensidade. Nos quadros mais
severos, o depressivo por mais que queira, não consegue reagir aos estímulos,
ficando totalmente paralisado, geralmente trancado num quarto, sem vontade
tomar banho e nem ver a luz do dia.
Já em quadros mais leves, como a distimia, o indivíduo consegue exercer
normalmente sua atividade profissional, namorar, casar, constituir família e
até dar algumas risadas, porém não há dentro de si um vigor em relação a vida.
Pelo contrario, há uma forte tendência em achar tudo sem sentido. Há uma nítida
perda de prazer nas atividades cotidianas. Tudo fica meio chato, cansativo e
sem graça. Aos poucos o indivíduo vai se isolando, aumentando o sentimento de
negatividade/pessimismo, se desinteressando por atividades sociais, com maior
irritabilidade e até com mau humor.
A situação se agrava, pois, com essa condição modulada para baixo,
dificilmente há energia sobrando para manter uma rotina de vida saudável. Ao
contrário, há uma grande tendência aos vícios. Sem fonte de prazer saudável, o
caminho mais curto é buscar o prazer imediato: comida, açúcar, álcool, drogas,
jogo, compras, etc. A rotina que já não está organizada, desorganiza ainda
mais. A pessoa gasta o que não tem, bebe além do limite, perde o horário, dorme
muito, come compulsivamente, etc. Entra numa espiral descente.
A vida que já não está boa, piora. Viver de forma desregrada e com picos
de excessos, só aumenta a tristeza. Aos poucos o comportamento autodestrutivo
vira rotina e se incorpora de forma sutil, disfarçado de diversão.
Sair desse contexto não é fácil. É preciso vontade seguida de ação.
A depressão é uma
doença séria que chega sorrateiramente e não escolhe sua vítima. A experiência
mostra que cuidar de uma doença enquanto ela ainda não se instalou é bem melhor
do que esperar que ela fixe residência permanente. É importante procurar ajuda
profissional, despido de preconceito ou vergonha. Pior que adoecer, é viver
negando a existência de algo tão sério.
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