O que falta fazer
Manoel Hygino
Penso em falar em
literatura, comentar novidades que surgem a cada dia, referir-me aos escritores
já conceituados que continuam em atividade, mas enfim caio no atual lugar comum
de resignar-me à situação política, e, como não poderia deixar de ser, à greve
dos caminhoneiros, cujos efeitos nocivos ainda serão sentidos por muito tempo.
Não poderia ser de outro jeito.
Mas, encontro um
artigo assinado por Frei Betto, publicado em novembro de 2013, e cujo teor se
insere nos fatos de agora, cinco anos após. O articulista focaliza vários
assuntos e, em determinado trecho, pergunta: “amigos de ‘esquerda’ se queixam
que os aeroportos estão demasiadamente cheios de famílias de baixa renda. No
Nordeste, o jegue foi trocado pela moto. E as multinacionais automotivas continuam
a entupir nossas ruas de carros, sem que haja investimento em transporte
coletivo”.
O leitor já parou
para meditar sobre estas questões e tem resposta? Frei Betto, colaborador
semanal deste jornal, comentou: “É o efeito Tostines no Brasil: os produtos
são caros porque dependem do sistema rodoviário? Ou os produtos são caros
porque os caminhões são abastecidos com petróleo? Temos 8 mil quilômetros de
litoral, rios caudalosos navegáveis e quase nenhuma navegação comercial. E
quando se fala em ferrovia se pensa em trem-bala, capaz de transportar a elite
do circuito Campinas-São Paulo-Rio e não trilhos que cortem o país de ponta a
ponta, facilitando o escoamento barato de nossa produção”.
Após tecer críticas
compreensíveis ao governo federal reinante em 2013, o popular e prestigioso
sacerdote mineiro, amigo do saudoso Roberto Drumond, registra que o Ipea, órgão
federal, aponta que a desigualdade social entre os mais ricos e os mais pobres
no Brasil é de 175 vezes, uma constatação detestável. Aí, vem uma pergunta
indispensável: “por que não são tomadas medidas estruturais para reduzi-la? Em
dez anos de governo petista, houve apenas uma reforma estrutural no Brasil, a
da Previdência do funcionalismo público, que favorece o capital privado.
Enquanto o orçamento da República destinar mais de 40% do nosso dinheiro para
pagar juros, amortização e rolagem da dívida pública, e menos de 8% para a
saúde e a educação, o Brasil continuará sonhando em ser o país do futuro”.
As respostas são
ouvidas, frequentemente, por políticos, intelectuais, juristas, jornalistas,
enfim os que ainda neste país pensam e opinam, mas tudo fica com dantes.
Recordo que um dos que se expressam sobre o tema defende que reações
humanitárias comprometidas com a justiça são fundamentais para promover as
transformações sociais almejadas. Haverá muitas perdas nas eleições deste ano,
objeto de insinuações não gratas, com pouco impacto nos processos de mudança.
Certamente, muitos eleitos repetirão erros e continuarão presos a interesses
pouco confessáveis e nobres.
A sociedade civil
precisa reagir, comprometida com a verdade, com o bem, com o interesse
coletivo, para que se conquistem avanços úteis ao futuro.
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