Garganta
ameaça o coração: inflamações nas vias aéreas podem atingir órgão vital
Flávia Ivo
Stefano manteve a
medicação por quase um mês após a detecção da miocardite
Muito comuns nesta
época mais fria do ano, as infecções de garganta, tratadas com frequência como
problemas mais simples de saúde, podem gerar complicações cardíacas e levar a
quadros sérios, incluindo internações. Susto pelo qual passou, recentemente, a família
do universitário Stefano Di Pietro, de 18 anos.
No início de junho,
o estudante apresentou um quadro de gripe com inflamação de garganta, buscando
atendimento médico em um posto de saúde próximo de casa, onde foi indicado
tratamento com antibiótico.
No entanto, antes
mesmo de iniciar a medicação, Stefano começou a sentir fortes dores no peito e
no braço direito. “Sintomas semelhantes ao de um infarto”, relata o pai do
jovem, Enzo Di Pietro.
Durante a triagem no
pronto-socorro, a informação foi de que o quadro de saúde do estudante
inspirava cuidados. O diagnóstico era de miocardite aguda.
A doença é definida
pela inflamação do músculo da parede do coração, o miocárdio, e atinge,
principalmente, jovens adultos, antes dos 40 anos, e do sexo masculino.
“A infecção viral
que deu na garganta ‘desceu’ para o coração, atingindo o miocárdio. O Stefano
ficou internado por seis dias”, descreve Enzo.
Causas
Não só os quadros de
faringite, amigdalite e outras inflamações das vias aéreas podem desencadear o
problema. De acordo com Saulo Emanuel Barbosa, cardiologista dos hospitais Vera
Cruz e Odilon Behrens, quaisquer quadros prévios de inflamações, sejam elas
provocadas por vírus ou bactérias, são passíveis de causar a miocardite.
“De 8% a 12% da
população é acometida pela doença, mas somente 30% dessa parcela dos pacientes
sentem os sintomas”, destaca o especialista.
Caso do também
estudante Túlio Gomes, de 19 anos, amigo de Stefano. O jovem teve um quadro
pior que o do colega, uma miopericardite, enfermidade que atinge não só o
miocárdio, mas também o pericárdio, parte mais externa do coração.
“Eu tinha 17 anos.
Comecei a sentir uma dor no peito e, ao chegar ao hospital, já me internaram
por uma semana. Mas só senti essa dor e mais nada. Foi mais assintomático”,
relembra Túlio.
Dentre os sinais
mais comuns e perceptíveis pelos pacientes estão: dores no peito, arritmias,
dificuldades para respirar e inchaço nas pernas.
Tratamento da
miocardite envolve uma série de restrições
Ter passado por uma
miocardite impôs a Stefano Di Pietro uma série de restrições. Ingerir líquidos
que estimulem os batimentos cardíacos como os energéticos está proibido. O
retorno às atividades físicas, por exemplo, ainda será avaliado. O repouso é
parte essencial do tratamento, revela o médico Saulo Barbosa, que tem
acompanhado o jovem após o episódio.
“O tratamento é
direcionado caso a caso. Mas, basicamente, consiste em hidratação venosa e
oral, a restrição de exercícios físicos de três a seis meses, dependendo do
grau da enfermidade. Cortar o consumo de álcool ou outras bebidas que contenham
taurina, cessar o tabagismo, se for o caso. Por fim, lançar mão de
anti-inflamatórios como AAS e ibuprofeno”, explica.
No caso de Túlio
Gomes, com a miopericardite, foram seis meses longe da academia e dos esportes.
Além disso, o lazer também ficou em segundo plano. Balada, nem pensar! “Perto
de completar os seis meses, eu fui a um show e precisei ficar em pé. Durei
apenas duas horas no local, tive que ir embora, tinha desacostumado”, conta.
Conforme o
especialista, o tempo de duração do tratamento depende da causa da inflamação e
do estado de saúde geral do paciente. A miocardite pode levar pelo menos duas
semanas para ceder, em alguns casos, meses ou até mesmo causar danos
permanentes.
“Em mais de 70% dos
pacientes, os sintomas cessarão sem sequelas; uma parcela terá arritmias e
insuficiência cardíaca”, diz o médico.
Prevenção
Manter atividades
físicas regulares, boa alimentação e hidratação são algumas das dicas para se
proteger da miocardite. Importante, também, é evitar as infecções.
“A vacinação de
forma geral é um ótimo método de prevenção de infecções e inflamações. É uma
proteção contra vírus e bactérias, por mais que muitas pessoas duvidem disso”,
ressalta Saulo Barbosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário