quarta-feira, 30 de novembro de 2016

PROVÁVEIS CAUSAS DA QUEDA DO AVIÃO QUE LEVAVA O TIME DA CHAPECOENSE



Hipóteses de queda da aeronave vão de pane seca a 'avião intruso'

Folhapress 






A primeira hipótese é a de que a aeronave não teria capacidade de voar da Bolívia até a Colômbia
A combinação de pouco combustível e um imprevisto com outra aeronave nos céus da Colômbia podem ter contribuído para a queda do avião que transportava o time da Chapecoense e matou 71 pessoas próximo ao aeroporto de Rionegro, ao lado Medellím.

Ao longo da tarde desta terça-feira (29), a tese que ganhou mais força no meio aeronáutico é de que o Avro RJ85, de fabricação britânica, se baseava no fato de esse tipo de aeronave sair de fábrica com tanques de combustível capazes de cumprir apenas médias distâncias.


A rota entre a cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Meddellín, na Colômbia, num total de 2.900 km, estava, dessa forma, perto da capacidade de voo do Avro.

Ainda assim, no último mês a mesma aeronave realizou dois voos semelhantes entre Bolívia e a Colômbia.

O mais longo destas viagens durou 4 horas e 32 minutos. Já o voo que vitimou o time da Chapecoense, durou 4 horas e 42 minutos.

Para analisar o gasto de combustível de uma aeronave em pleno voo, devem ser levado em conta ainda outros fatores como condição do vento e o peso de carga.

"É uma possibilidade que está sendo muito aventada. Se esses parâmetros forem realmente próximos [autonomia da aeronave e distância entre as cidades], um voo desses não poderia ser feito sem uma escala para reabastecimento", diz Rodrigo Spader , piloto e presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas.

Para o especialista em aviação Lito Sousa, a falta de combustível pode ser uma das causas contribuintes para o acidente a serem investigadas. Para ele, no entanto, dificilmente um piloto apresentaria um plano de voo que previsse uma margem de segurança tão pequena.

Para um oficial da Força Aérea Brasileira, acostumado a investigações de acidentes no país, a falta de combustível parece crível diante das informações disponíveis até agora. "É possível ter ocorrido uma falha na alimentação do motor, ou um entupimento, ou o uso de um combustível de baixa qualidade. Dificilmente uma pane elétrica ou de motor teria causado o acidente", conta ele, que não quis se identificar.

Emergência
 
Para o oficial ouvido pela Folha de S.Paulo, uma das dúvidas que deverão ser esclarecidas pela investigação é o fato de a aeronave ter voado em círculos antes do acidente, enquanto aguardava autorização para pousar em Medellín. "Se ele estava com problemas de combustível, não tem sentido que tenha orbitado", diz.

Mas um imprevisto com uma aeronave Airbus, modelo A-320, que estava próxima de Medellín pode ajudar a solucionar essa dúvida.

O Airbus, da Viva Colômbia, partiu de Bogotá e voava ao Caribe, mas teve que solicitar um pouso não programado no aeroporto de Rionbegro, depois de identificar uma anormalidade em seu painel.

O Avro seguia normalmente pelo seu trajeto até Medellín até que, às 0h42, começou a realizar a manobra de espera. Neste momento, é possível que a torre de controle de Medellín tenha orientado o desvio da rota, enquanto realizava o pouso do Airbus.

Durante cerca de dez minutos, o Avro realizou a manobra normalmente, como previa as cartas de aproximação do aeroporto de Medellín. Mas a partir da segunda volta, segundo informações preliminares, a aeronave perdeu velocidade e altitude.

Em cerca de dois minutos, a aeronave desacelerou de 409 km/h para 263 km/h --situação compatível com a tese de pane seca. Depois disso, seu sinal deixou de ser visto pelo sistema de monitoramento de aviões Flight Radar.

Para Lito Sousa, a velocidade de 263 km/h era mais baixa do que a de costume em um voo regular e só compatível com uma grande aproximação da pista de pouso, o que não era o caso. O aeroporto de Medellín ainda estava a cerca de 30 km de distância.

Os especialistas, no entanto, observam que apenas a análise das caixas pretas encontradas no meio da tarde desta terça-feira poderá solucionar as causas contribuintes para o acidente. A análise pode demorar meses.

'Foi muito dramático', conta jornalista colombiano presente ao resgate de vítimas

Fernanda Simas      

                   
O colaborador da rádio Caracol, da Colômbia, Roberto Urrea foi o primeiro jornalista colombiano a chegar ao local do acidente nesta terça-feira e contou ao jornal O Estado de S.Paulo ter vivido um "momento muito difícil". Urrea, muito conhecido pelos jornalistas que atuam em Medellín, estava no aeroporto Olaya Herrera desde a tarde de segunda-feira esperando a chegada da delegação da Chapecoense para iniciar a cobertura do primeira partida da final da Copa Sul-Americana.

"Eu estava lá porque o avião chegaria entre 17h e 18h quando nos avisaram que o voo atrasaria e chegaria 21 horas. Deu 21h30, 21h40 e o avião não chegava. Fomos até a torre de controle e recebemos a notícia de que ele tinha perdido o contato às 21h55 e depois desaparecido dos radares", contou Urrea sobre o momento em que percebeu o acidente.

Em seguida, junto com autoridades, foi até o local da perda de sinal da aeronave. "Chegamos lá depois de uma hora e vimos uma cordilheira muito difícil de subir. Foi preciso usar laços e fazer uma espécie de escalada. Quando chegamos nos deparamos com o avião despedaçado. Foi um momento muito difícil".

O voo, com 77 pessoas a bordo, entre elas a equipe da Chapecoense - que disputaria a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional, em Medellín - e 21 jornalistas brasileiros, havia saído de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. O acidente ocorreu na região montanhosa de El Gordo, parte rural do município La Unión, no Departamento (Estado) de Antioquia. Segundo autoridades da aviação colombiana, a aeronave declarou "emergência" e falhas elétricas antes de desaparecer do radar.

Urrea contou ter conversado com bombeiros, que pediam ajuda e colaboração de todos que estavam no local. "Nós ajudamos, foi muito difícil. Eram 75 pessoas sem vida, foi um acidente muito trágico. Infelizmente apenas seis pessoas saíram vivas", explicou o jornalista.

O colaborador contou ter conversado com médicos para poder informar sobre o estado de saúde dos feridos. "Acompanhamos, por exemplo, o resgate do primeiro ferido, até ser levado à ambulância, foi o Danilo. Depois soubemos que ele morreu no hospital. Outro jogador teve as pernas amputadas, foi tudo muito triste", afirmou o jornalista, se referindo ao goleiro Jackson Follman, um dos sobreviventes, que passou por cirurgias e precisou amputar a perna e ao também goleiro Marcos Danilo Padilha, que morreu no hospital.

O jornalista colombiano afirmou que havia pesquisado sobre alguns jogadores da Chapecoense já justamente para fazer a cobertura da final do campeonato. "Foi tudo muito dramático, muito difícil ver tudo aquilo. Era um cenário desolador, quando chegamos vimos um panorama muito dramático", concluiu Urrea.


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