BH ignora modelo e faz a mais despolitizada eleição
Orion Teixeira
Depois de 45 dias de uma curtíssima campanha eleitoral, Belo Horizonte
vai às urnas, neste domingo (2), com um cenário praticamente definido,
sinalizando para um duelo final e pessoal, de segundo turno, entre os
candidatos João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS). De todo os indícios de
atipicidade até aqui identificados, um deles é o principal responsável pelo
baixo nível do debate sucessório e de resultados. Será, ao final, a eleição
mais despolitizada da história política da capital mineira. Ao romper com o
modelo tradicional, tudo pode acontecer.
A despolitização é o resultado desse ambiente antipolítico do qual o
maior beneficiário foi o estreante Alexandre Kalil, que, mesmo sem tempo de
televisão (20 segundos) e sem propostas objetivas, consegue manter-se em
segundo lugar e chegar ao segundo turno na terceira capital do país em
importância política. O último debate entre os candidatos, então, expôs a
falta de propostas e a desqualificação geral. Optaram pelo bombardeio
generalizado em desfavor das propostas de gestão sobre os principais problemas
da cidade e região (Grande BH).
Não foi à toa que, durante toda a campanha, apenas dois candidatos se
sobressaíram dos demais, exclusivamente, por conta do alto índice de
conhecimento entre todos. João Leite, o mais conhecido, chegou lá por isso e
por ter incorporado o antipetismo; Kalil juntou a fama com o sentimento de quem
está com raiva da política. Candidatos como Reginaldo Lopes (PT), Rodrigo
Pacheco (PMDB) e Délio Malheiros (PSD), que tinham posições ideológicas e
programáticas para exibir, não tiveram espaço nem foram ouvidos.
As pessoas não estavam interessadas nessa discussão. Toda vez que Kalil
era confrontado politicamente, por exemplo, ele puxava o conflito para a
despolitização e seu argumento era o que mais viralizava nas redes sociais. Em
um dos debates, ele foi cobrado por Délio pela inadimplência junto à
Prefeitura, por conta de dívidas com o IPTU, que, somadas, poderiam bancar 10
mil mamografias. O candidato do PHS rebateu dizendo que o rival teria
fracassado na missão de cuidar de 50 capivaras na Lagoa da Pampulha.
"Morreram 20; quem não sabe cuidar de capivara, não sabe cuidar de
gente", reagiu ele, e foi o comentário mais curtido nas redes. O eleitor
gostou de ver o desafiante "bater em político".
Câmara de BH será pulverizada
Outro fator que colaborou para a despolitização da eleição de Belo
Horizonte foi a ausência dos candidatos a vereador do debate e da campanha.
Pela primeira vez, eles ficaram de fora do horário gratuito eleitoral, sobrando
apenas o gogó e o corpo a corpo para buscar o voto.
Nessa difícil missão, novamente, os candidatos mais conhecidos terão
mais chances, até mesmo sobre aqueles que têm mais dinheiro do que o
concorrente. De tudo somado, a previsão é que a próxima Câmara de Belo
Horizonte deverá contar com a presença de mais de 25 partidos em sua futura
composição, numa pulverização inédita. Nenhum partido deverá ter mais de 3
vereadores.
Na Câmara dos Deputados, há 28 partidos em um ambiente de difícil
articulação que desfavoreceu a governabilidade da então presidente Dilma
Rousseff (PT). O futuro prefeito de Belo Horizonte viverá desafio semelhante
para obter governabilidade a partir de janeiro próximo.
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