sábado, 1 de outubro de 2016

POLÍTICA DESPOLITIZADA NO BRASIL



BH ignora modelo e faz a mais despolitizada eleição

Orion Teixeira 




Depois de 45 dias de uma curtíssima campanha eleitoral, Belo Horizonte vai às urnas, neste domingo (2), com um cenário praticamente definido, sinalizando para um duelo final e pessoal, de segundo turno, entre os candidatos João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS). De todo os indícios de atipicidade até aqui identificados, um deles é o principal responsável pelo baixo nível do debate sucessório e de resultados. Será, ao final, a eleição mais despolitizada da história política da capital mineira. Ao romper com o modelo tradicional, tudo pode acontecer.
A despolitização é o resultado desse ambiente antipolítico do qual o maior beneficiário foi o estreante Alexandre Kalil, que, mesmo sem tempo de televisão (20 segundos) e sem propostas objetivas, consegue manter-se em segundo lugar e chegar ao segundo turno na terceira capital do país em importância política. O último debate entre os candidatos, então, expôs a falta de propostas e a desqualificação geral. Optaram pelo bombardeio generalizado em desfavor das propostas de gestão sobre os principais problemas da cidade e região (Grande BH).
Não foi à toa que, durante toda a campanha, apenas dois candidatos se sobressaíram dos demais, exclusivamente, por conta do alto índice de conhecimento entre todos. João Leite, o mais conhecido, chegou lá por isso e por ter incorporado o antipetismo; Kalil juntou a fama com o sentimento de quem está com raiva da política. Candidatos como Reginaldo Lopes (PT), Rodrigo Pacheco (PMDB) e Délio Malheiros (PSD), que tinham posições ideológicas e programáticas para exibir, não tiveram espaço nem foram ouvidos.
As pessoas não estavam interessadas nessa discussão. Toda vez que Kalil era confrontado politicamente, por exemplo, ele puxava o conflito para a despolitização e seu argumento era o que mais viralizava nas redes sociais. Em um dos debates, ele foi cobrado por Délio pela inadimplência junto à Prefeitura, por conta de dívidas com o IPTU, que, somadas, poderiam bancar 10 mil mamografias. O candidato do PHS rebateu dizendo que o rival teria fracassado na missão de cuidar de 50 capivaras na Lagoa da Pampulha. "Morreram 20; quem não sabe cuidar de capivara, não sabe cuidar de gente", reagiu ele, e foi o comentário mais curtido nas redes. O eleitor gostou de ver o desafiante "bater em político".
Câmara de BH será pulverizada
Outro fator que colaborou para a despolitização da eleição de Belo Horizonte foi a ausência dos candidatos a vereador do debate e da campanha. Pela primeira vez, eles ficaram de fora do horário gratuito eleitoral, sobrando apenas o gogó e o corpo a corpo para buscar o voto.
Nessa difícil missão, novamente, os candidatos mais conhecidos terão mais chances, até mesmo sobre aqueles que têm mais dinheiro do que o concorrente. De tudo somado, a previsão é que a próxima Câmara de Belo Horizonte deverá contar com a presença de mais de 25 partidos em sua futura composição, numa pulverização inédita. Nenhum partido deverá ter mais de 3 vereadores.
Na Câmara dos Deputados, há 28 partidos em um ambiente de difícil articulação que desfavoreceu a governabilidade da então presidente Dilma Rousseff (PT). O futuro prefeito de Belo Horizonte viverá desafio semelhante para obter governabilidade a partir de janeiro próximo.


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