Roma diz não aos Jogos
Olímpicos
Manoel Hygino
Roma: quatro letras de uma história eterna, como a própria cidade.
Escrever sobre Roma é mais difícil que visitá-la hoje, muitos séculos após sua
fundação, que pode ter ocorrido 1.400 anos antes de Cristo. A data tradicional
– 21 de abril de 753 a.C – foi convencionada no final da República por Públio
Terêncio Varrão.
Tudo atrai a atenção para a cidade, riquíssima em personagens célebres
na História. Séculos e séculos decorridos, o cristianismo sediou sua Igreja
ali, acrescentando interesses sobre as áreas fortificadas dos velhíssimos Rumi,
no monte Palatino, e os Titients, no Quirinal, além dos Luceres, que habitavam
os bosques ao Norte. São três entre as numerosas comunidades itálicas que
existiam no primeiro milênio a.C. na região do Lácio, uma planície da
península.
Do pequeno povoado de oito séculos antes de Cristo, Roma se transformou
no cérebro e braço de uma vasta civilização, que dominou a região mediterrânea
e grande parte do mundo. Sede da Igreja Católica, um pequeno estado
independente, a Cidade do Vaticano, continuou desempenhando papel de notável
relevo na política global, como o fora na história dos povos europeus durante
centênios e centênios.
Não me permito esquecer que, em tempos atuais, dois mineiros – Pedro
Rogério e José Maria, filhos do nosso querido e sempre lembrado Vivaldi
Moreira, presidente perpétuo da Academia Mineira de Letra, dedicaram-se com
extremo afeto ao estudo da velha cidade, produzindo livros memoráveis. O
primeiro com o delicioso e didático “Amor a Roma, Amor em Roma”, e o segundo
com dois volumes indispensáveis para quem pretende conhecer a cidade e seus
sítios mais famosos.
José Maria Couto Moreira, advogado, em artigo na Revista da AML, anotou:
“Percorrer a antiga Roma (antiga, jamais velha) é um lenitivo para o espírito e
um estímulo recriado ao corpo. Este sentir é compreensível em face da
caleidoscópica paisagem urbana, sempre surpreendente, nos oferecendo a cada
passo uma emoção nova, uma reflexão mais detida, um prazer introspectivo que
anima...”. Os espaços verdes são admiráveis, convidando a instantes
vedadeiramente contemplativos. Observa-se o esforço de sua gente para adorná-la
com encantos naturais e satisfazer o hedonismo da população ali instalada ou
que acolhe.
Dito e achado conforme o texto aqui, chego ao ponto desejado. Refiro-me
a uma decisão tomada pela jovem prefeita de Roma, Virginia Raggi, após examinar
o minucioso projeto de candidatura da Cidade Eterna para sediar os Jogos
Olímpicos de 2024.
Diz o noticiário que, apesar dos esforços do Comitê Olímpico Italiano, o
COI, e do governo do país, que esperavam o retorno da Olimpíada à capital 64
anos depois, a simpática Executiva do município não se curvou aos argumentos,
nem à possível vaidade pessoal.
Raggi foi incisiva: “Não estamos em condições de assumir novos gastos e
criar estruturas que não terão utilidade depois dos Jogos. Apenas há pouco mais
de dois anos, acabamos de pagar o que foi investido para a Copa do Mundo de
1990 e isso não pode repetir-se. O esporte é fundamental, mas temos outras
prioridades”.
Não caiu, pois, a prefeitura na perigosa aventura das recentes
competições realizadas no Brasil. Que Paris, Los Angeles e Budapeste o façam se
quiserem. Bom-senso ainda existe na terra de Berlusconi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário