Renovação, só que não
Editorial Jornal
Hoje em Dia
O leitor do Hoje em Dia sabe, pelas reportagens publicadas nos últimos
dias, que a crise política e as mudanças das regras para a disputa das eleições
deste ano estão influenciando na campanha. Embora a gente só possa fazer análises
mais específicas após o resultado, já podemos observar algumas tendências por
meio das pesquisas de intenção de voto.
Uma delas é o crescimento do chamado “centrão”, como mostramos hoje, que
é nada mais que um grupo de partidos de pequeno e médio portes, sem ideologia
facilmente identificada, e que ficou famoso por ter no ex-deputado federal
Eduardo Cunha (RJ) o seu líder mais famoso. Essas legendas possuem chances
reais de ir ao segundo turno em 16 das 26 capitais brasileiras.
O bom desempenho desses partidos nas pesquisas eleitorais mostram que o
eleitor se cansou das legendas tradicionais, como PT, PSDB e PMDB, mas ainda
não está seguro de votar em nomes completamente desconhecidos ou em partidos
menores com um discurso ideológico bem definido, às vezes até radical, como
PSTU e PSOL. Nesse contexto, os candidatos do “centrão” aproveitaram para obter
votos.
Talvez o que o eleitor não saiba é que esses partidos é que deram boa
parte da sustentação ao deputado cassado Eduardo Cunha durante o polêmico mandato
do parlamentar como presidente da Câmara. Muitas dessas siglas são compostas
por políticos tradicionais, ou de filhos de figuras carimbadas do meio, com
décadas de atuações, nem sempre elogiáveis, no poder público. Eles sempre
estiveram ao lado do poder, sempre corroboraram com as decisões do governo e,
se a situação política e econômica do país está dessa maneira, são, sim, também
responsáveis.
Claro que, habilidosos na política, a maioria tenta se descolar de Cunha
e dos recentes escândalos de corrupção, e vem conseguindo. Muitos até dizem na
TV e no rádio que “não são políticos”. Ora, até a decisão de não participar da
eleição é política. Portanto, quem se filia a um partido já é político. Quem se
candidata a prefeito de capital é, então, “muito político”.
O eleitor tem todo o direito de fazer a escolha que quiser, mas optar
por nomes desses grupos não parece um caminho pela renovação ou mudança
significativa da classe política. O risco é alto e já perdemos muito nos
últimos anos.
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