sábado, 10 de setembro de 2016

GOVERNO E EMPREGADOS SACAM DO FGTS - UM DIA ACABA



FGTS pode quebrar com aumento dos saques e queda na arrecadação

Raul Mariano







O Fundo pode ser utilizado para a aquisição da casa própria

A redução da massa de trabalhadores empregados no país tem colocado em risco a saúde financeira do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Nos últimos três anos, o valor dos saques cresce em ritmo mais acelerado do que o total arrecadado.
Dados da Caixa Econômica Federal (CEF) mostram que, no 1º semestre de 2013, a diferença entre as entradas e saídas do Fundo foi de R$ 10,8 bilhões. No mesmo período de 2016, a diferença caiu para R$ 6,7 bilhões.
O FGTS é depositado todos os meses pelas empresas em contas abertas na Caixa Econômica Federal; o valor corresponde a 8% do salário de cada funcionário
Em outra base de comparação, os saques do FGTS saltaram de R$ 36 bilhões de janeiro a junho de 2013 para R$ 53 bilhões nos mesmos seis meses de 2016. A arrecadação, neste tempo, saltou de R$ 45,9 bilhões para R$ 59,7 bilhões.
Para especialistas, se o ritmo se mantiver e não houver uma reversão do quadro econômico com o retorno da geração de empregos em aproximadamente cinco anos, o valor sacado poderia superar o arrecadado pelo FGTS.

Desemprego
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) apontam que, só no mês de julho deste ano, 1,2 milhão de desligamentos formais foram efetuados no mercado de trabalho brasileiro.
Com a redução do contingente de trabalhadores com carteira assinada, o volume de depósitos feitos pelas empresas também diminuiu. Ao mesmo tempo, o aumento das demissões elevou o total sacado.
O coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, explica que os saques do FGTS podem ser usados para outras finalidades, como a aquisição de imóveis. No entanto, o fator desemprego está no centro do problema.
O Fundo pode ser utilizado para a aquisição da casa própria. É possível financiar compra, construção, pagamento de prestações ou até mesmo quitação do imóvel
“Quando as empresas demitem, é preciso fazer o acerto e dar ao trabalhador o acesso ao que ele acumulou no Fundo. Mas, agora (com a persistência dos níveis de desemprego), pessoas com muito tempo de casa também são demitidas e, geralmente, têm valores maiores a serem sacados. Isso aumenta o volume retirado”, ressalta.

Reversão
O professor de Economia da PUC Minas Daniel Furletti observa que o FGTS só faz sentido se houver emprego. Se o empregador, que é quem paga o benefício, está demitindo mais, é natural que o valor arrecadado pelo Fundo tenha retração. “As pessoas que são demitidas tendem a sacar o FGTS porque é o instrumento que elas têm para fazer face ao desemprego”, comenta.
Para Furletti, a geração de emprego é a única maneira de desarmar a “bomba”. Com as previsões já anunciadas de quedas menos acentuadas do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017, a tendência de reversão do cenário econômico pode reanimar o mercado.
“Nesse contexto, o futuro influencia o presente e o mercado está precificando um crescimento em 2017. Isso desarma uma variável muito importante que é a falta de confiança. A possibilidade de um colapso no FGTS até existe, mas está bem distante”, pondera o economista.
A CEF não se manifestou até o fechamento da edição.

Projeto permite a deficiente usar fundo para comprar veículo
O saque do Fundo de Garantia poderá ser autorizado para compra de veículos adaptados para trabalhadores com mobilidade reduzida, se o Projeto de Lei 625/2015, que tramita no Senado Federal, seja aprovado. A proposta, de autoria do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), já foi aprovada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.
No texto original do projeto, o saque seria possível para qualquer trabalhador com deficiência. “O uso de veículo faz-se especialmente importante às pessoas com deficiência que, no Brasil, têm de confrontar-se com cidades cruéis. O veículo, portanto, é uma forma de proporcionar autonomia”, argumentou Raupp na justificativa.
Segundo informações do Senado, na legislação que dispõe sobre o FGTS, são quase 20 as hipóteses que habilitam o saque do valor. Uma delas, aprovada em 2015, autoriza a retirada pelo trabalhador com deficiência que necessite adquirir órtese ou prótese. A proposta seguirá para análise da Comissão de Assuntos Sociais (CAS).




PL estabelece que FGTS pode ser movimentado quando o trabalhador com deficiência necessitar adquirir veículo automotor próprio



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