Prisões reforçam
necessidade de atenção máxima à ataque terrorista em Minas
Renato Fonseca
PREVENÇÃO – Mineirão recebeu, no início deste mês, treinamento de
militares para atuar a em caso de ataque terrorista durante a realização das
Olimpíadas
A prisão de dez suspeitos de ligação com o terrorismo, incluindo um
mineiro, reacende o alerta para o risco de ataques em Minas durante a
realização dos Jogos Olímpicos. Parte do grupo detido ontem em operação
deflagrada pela Polícia Federal fez um juramento de lealdade ao Estado Islâmico
(EI). No mesmo dia, a França solicitou reforço da vigilância em embaixadas e
consulados no Brasil.
A ameaça coloca as forças de segurança do território mineiro em alerta.
Na tentativa de prevenir e atuar em conflitos, grupos de elite da PM traçaram
um plano estratégico, que inclui treinamentos com o Exército e até com
policiais internacionais, além de um esforço para aumentar o efetivo nas ruas
durante os dias de realização do evento.
Reforço
Militares do interior e que atuam nos setores administrativos serão
deslocados para Belo Horizonte e cidades que vão receber equipes estrangeiras.
Ao todo, 1.280 pessoas de delegações internacionais farão preparação para os
jogos em Minas. Haverá profissionais em municípios da Grande BH, Viçosa e Juiz
de Fora (Zona da Mata) e Uberlândia (Triângulo Mineiro).
Um dos temores é o jogo de futebol feminino entre Estados Unidos e
França. A partida acontece em 6 de agosto, no Mineirão. Chefe da Sala de
Imprensa da PM, O capitão Flávio Santiago evita falar em “atenção maior” em
determinados locais, como o estádio da Pampulha durante essa disputa.
Ele garante que o patrulhamento e monitoramento serão constantes em toda
a metrópole, 24 horas por dia. “A Polícia Militar está preparada para atuar e
prevenir situações de risco”, diz. Além disso, ele afirma existir uma forte
interação entre diversos organismos públicos.
1,7 mil militares do Exército serão empregados em Minas; 156 viaturas,
quatro helicópteros e nove motocicletas também serão disponibilizados
Conforme a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), 40 órgãos
federais, estaduais e municipais compõem uma comissão em Minas responsável por
coordenar as ações integradas no período dos jogos e acomodação das delegações.
Criada em julho do ano passado, a Seds reforçou que a comissão vem
trabalhando em treinamentos, eventos testes, simulados e multiplicação de
conhecimentos sobre ações de segurança em grandes eventos. A pasta informou
ainda que haverá reforços em áreas sensíveis, como nos aeroportos mineiros.
Saúde
Um planejamento especial também foi traçado para a área da saúde em BH.
Segundo a médica Paula Martins, do Colegiado Gestor de Urgência da Secretaria
Municipal de Saúde, a preparação é semelhante à da Copa do Mundo, realizada em
2014. Haverá 31 ambulâncias e um helicóptero.
Hospitais de referência preparam uma escala de atendimento própria.
Profissionais passaram por treinamentos e ficarão sobreaviso em caso de
urgência.
“Os hospitais estão treinados. Em julho houve um simulado grande. No mês
passado outro junto com o Exército. Durante esse ano, fizemos vários treinamento,
e antes dos jogo haverá mais”, diz. Com relação ao banco de sangue da cidade, o
Hemominas faz recrutamentos para concentração maior de hemoderivados antes de
grande eventos na capital.
RISCO – Policiamento deverá ser reforçado em locais que receberão
delegações internacionais, como o clube CEU, da UFMG
Especialista afirma que sedes podem ser alvos de violência
Apesar de todo o esforço, especialistas em segurança pública são
categóricos ao afirmar que nenhuma cidade que vai receber os jogos ou
delegações está imune a atos de violência.
Professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas e
atuando há 14 anos em assuntos relativos a conflitos internacionais e ao
Oriente Médio, Dannys Zahreddine chama a atenção para outro agravante, os
chamados “lobos solitários”.
Em anos anteriores, explica o professor, os atentados eram diretamente
ligados a grupos ou redes terroristas. “Havia um mapa dessas pessoas e ações.
Hoje, esse monitoramento é mais complexo. Um único indivíduo pode ser capaz de
dizimar dezenas de pessoas. Ou seja, se antes já era complicado conter esses
ataques, atualmente o desafio é maior”.
Dentre os locais mais vulneráveis, o especialista destaca pontos de
grande aglomeração de pessoas ou com a presença de atletas. “Estádios,
possíveis protestos que devem ocorrer, nas hospedagens das delegações e na
chamada Fan Fest”. Apesar dos riscos, Zahreddine avalia que a Polícia Militar
de Minas tem planejado as ações necessárias e está preparada.
1,6 mil câmeras de BH e região metropolitana serão monitoradas no Centro
Integrado de Comando e Controle Regional, na Cidade Administrativa
A complexidade da prevenção e combate ao terrorismo também é reforçada
por Robson Sávio, professor da PUC-Minas e membro do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública. Apesar de lembrar que o histórico recente de grandes eventos
no Brasil, com as copas do Mundo e das Confederações, apontar uma boa
articulação entre as forças de segurança, ele diz que as situações nesse
momento são distintas.
“Em relação a terrorismo, que é uma situação muito mais complexa, não dá
para avaliar que o Brasil tenha expertise, não dá para avaliar a efetividade
policial”, afirma o especialista.
“Felizmente nunca vivenciamos uma ação terrorista. Nossas forças só
passaram por treinamento. Simulação é simulação”, lembra Robson Sávio.
Ainda de acordo com o pesquisador, faltando quinze dias para os jogos,
não é possível fazer grandes alterações em termos de segurança, somente revisar
os procedimentos feitos, como reforçar a atenção dos aeroportos, já prometida.
Dentre alguns pontos frágeis, que merecem atenção redobrada, ele cita as
estradas, situação que envolve a participação das policias Militar e Federal.
(Colaborou Filipe Motta)


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