Desacertos em projeto de
duplicação da 381 são investigados
Alessandra Mendes
Cerca de R$ 130 milhões foram gastos para construir túneis que não têm
como ser usados: eles dependem de construção de uma via de ligação
O Ministério Público Federal (MPF) vai apurar a responsabilidade de
eventuais prejuízos na execução do lote 3 da duplicação da BR-381. O inquérito
foi aberto após uma reportagem do Hoje em Dia, publicada no dia 9 de junho,
mostrar que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não
tem recursos para bancar, entre outras coisas, as intervenções previstas no
lote 3.1, que engloba um trecho de cerca de 30 quilômetros entre Jaguaraçu e o
Ribeirão Prainha, que vai ligar os túneis já construídos (lotes 3.2 e 3.3).
O MPF quer saber como e por que as ordens de serviço para os lotes
citados acima não foram expedidas de forma sincronizada para evitar que os
túneis ficassem obsoletos.
“A estimativa de custo dos túneis é de cerca de R$ 130 milhões e eles
estão prontos há quase um ano e são inúteis. Nesse caso, vejo que houve uma
alocação de recursos para uma obra que não serve para nada. Na administração
pública hoje não é possível que se admita uma alocação de recursos tão grande
sem a efetiva utilização do bem”, explica o procurador da República em
Ipatinga, no Vale do Aço, Bruno José Silva Nunes.
Para o representante do MPF, as obras deveriam ter sido pensadas de
forma que a execução dos três lotes ocorresse concomitantemente. “Já antevejo
uma licitude porque a ordem de serviço não foi conjugada. Vamos investigar quem
deu essas ordens e como foi feito esse controle da execução para apurar a
responsabilidade do fato. Temos que pensar que, se esse dinheiro estivesse
aplicado, estaria rendendo lucros. Mas tudo está lá parado, sem previsão de
uso”, ressalta Nunes.
Responsabilidade
O inquérito civil pode resultar na responsabilização de</CW> empresas ou do próprio Dnit. No caso da construtora, a sanção pode vir por meio de ressarcimento ou multa. Já a eventual punição para algum representante do órgão público pode gerar afastamento ou perda do cargo. A apuração deve ser concluída até meados do ano que vem.
O orçamento do Dnit para aplicação nas obras da duplicação da BR-381
neste ano gira em torno de R$ 60 milhões. O valor é suficiente apenas para
garantir que o trabalho que já foi feito nos lotes 3 (próximo a Jaguaraçu) e 7
(próximo a Caeté), que também é visto como prioridade pelo órgão, não seja
perdido. Obras de fato só devem voltar a ser realizadas na rodovia em 2017, a
partir de uma nova previsão de orçamento para o Dnit.
Projeto equivocado
E a questão não se resume à falta de dinheiro. Com a decisão do departamento de descartar a possibilidade de criação da variante Santa Bárbara, que funcionaria para desafogar o trânsito na rodovia entre Barão de Cocais e Nova Era, os projetos dos lotes 4, 5 e 6 terão que ser refeitos. Os trechos não previam duplicação e, com a inviabilização da variante, isso terá que ser revisto.
E a questão não se resume à falta de dinheiro. Com a decisão do departamento de descartar a possibilidade de criação da variante Santa Bárbara, que funcionaria para desafogar o trânsito na rodovia entre Barão de Cocais e Nova Era, os projetos dos lotes 4, 5 e 6 terão que ser refeitos. Os trechos não previam duplicação e, com a inviabilização da variante, isso terá que ser revisto.
Por causa da mudança nos planos, o MPF irá abrir outro inquérito para
acompanhar as medidas que serão adotadas pelo Dnit e pela União. “Não
descartamos a possibilidade de, se preciso for, entrar com um pedido para
garantir que sejam destinados recursos para a duplicação”, adianta o procurador
da República em Ipatinga, Bruno José Silva Nunes.
Com o aval da Justiça, uma medida como esta obrigaria a União a repassar
os valores necessários para as intervenções previstas e paralisadas por falta
de dinheiro. Isso alteraria os planos do Dnit, que anunciou para o segundo
semestre deste ano uma licitação para o recapeamento da BR-381, entre Belo
Horizonte e Ipatinga.
“É uma medida emergencial que não atende o pleito da população de Minas
Gerais. O estado da rodovia hoje não atende a quantidade de tráfego que passa
pela estrada. O recapeamento não muda essa realidade e é uma sinalização clara
de que a obra (duplicação) não vai sair num período curto”, avalia Nunes.
Outras três ações impetradas pelo MPF para apurar problemas na execução
da duplicação da BR-381 já estão em curso. Uma determina a alocação de recursos
para o lote 7, outra investiga a demora na análise dos projetos dos lotes 4, 5
e 6 e a terceira é sobre a rescisão do contrato com a empresa que ganhou a
licitação para o lote 3.1.

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