Estrangeiros podem
aproveitar espaço deixado por empresas brasileiras barradas por corrupção
Tatiana Moraes
O mercado nacional de engenharia tende a passar por uma reviravolta nos
próximos anos. Com as principais companhias do setor envolvidas em escândalos
de desvio de dinheiro, superfaturamento e fraude de licitações, e, por isso, a
um fio de serem cortadas da lista de fornecedores do poder público, uma
avalanche de empresas estrangeiras e consórcios de médias organizações tendem a
disputar, de igual para igual, as concessões de infraestrutura realizadas no
Brasil. E os números são robustos. Segundo o Programa de Investimento em
Logística (PIL), lançado pelo governo federal há um ano, R$ 198,4 bilhões serão
distribuídos em leilões de rodovias, aeroportos, portos e ferrovias.
A primeira empreiteira a ser impedida judicialmente de prestar serviço a
municípios, estados e à União foi a mineira Mendes Júnior, em março deste ano.
No começo deste mês, a Skanska Brasil Ltda também foi considerada inidônea. Segundo
decisão da Controladoria Geral da União (CGU), as companhias ficarão pelo menos
dois anos sem ver a cor do dinheiro público. Outras 22 respondem a processos
administrativos e podem seguir o mesmo caminho. Entre elas, as gigantes
Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS, que tocam as principais
obras de infraestrutura do país.
Sinduscon-PR/Divulgação / Sinduscon-PR
PROJETOS
De acordo com o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), José Roberto Bernarcosni, as estrangeiras já abocanharam uma grande fatia do mercado de projetos. “A quantidade de empresas de fora que tem comprado e incorporado as nacionais é bem grande. O problema dessa realidade é que nem sempre o Brasil consegue absorver o conhecimento externo. Não há repasse de conhecimento”, ressaltou o executivo, durante o Construction Summit 2016, evento realizado na semana passada em São Paulo.
De acordo com o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), José Roberto Bernarcosni, as estrangeiras já abocanharam uma grande fatia do mercado de projetos. “A quantidade de empresas de fora que tem comprado e incorporado as nacionais é bem grande. O problema dessa realidade é que nem sempre o Brasil consegue absorver o conhecimento externo. Não há repasse de conhecimento”, ressaltou o executivo, durante o Construction Summit 2016, evento realizado na semana passada em São Paulo.
Prejuízo
O mesmo movimento nas empreiteiras pode causar um baque no setor. Empresas estrangeiras comandando a infraestrutura brasileira poderia refletir na desindustrialização da engenharia nacional. “Companhias de grande porte detêm know how, são especialistas em grandes projetos. Entregar nossa infraestrutura ao mercado externo poderia levar ao caos”, ressalta.
O mesmo movimento nas empreiteiras pode causar um baque no setor. Empresas estrangeiras comandando a infraestrutura brasileira poderia refletir na desindustrialização da engenharia nacional. “Companhias de grande porte detêm know how, são especialistas em grandes projetos. Entregar nossa infraestrutura ao mercado externo poderia levar ao caos”, ressalta.
Conforme o representante do Sinaenco, os responsáveis pelas fraudes
devem ser responsabilizados, não as companhias. “As empresas são pessoas
jurídicas. As pessoas que descumpriram a lei é que devem pagar pelo problema”,
pondera.
Caso as empreiteiras sejam responsabilizadas e impedidas de prestar
serviço ao poder público, a solução seria que os futuros consórcios fossem
divididos em módulos. Porém, mesmo que as organizações se juntem e preencham as
exigências das concessões, uma delas seria difícil de bater: a expertise em
grandes obras. “Dez empresas pequenas não fazem uma grande. Se as concessões
fossem divididas por módulos, no entanto, cada consórcio de pequena construtora
poderia ser responsável por uma parte da obra”, diz o presidente do Sinaenco.
Sicepot aposta em grande interesse das chinesas
Não há impedimento legal para que as empresas estrangeiras atuem no
Brasil. Elas são tratadas de igual para igual e competem no mesmo ambiente das
nacionais. Em setores como energia, telefonia, bancos e aeroportos, aliás, a
participação das companhias de fora já é grande.
A BHAirport, por exemplo, detém a concessão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (AITN). O consórcio é composto pelo grupo CCR (Soares Penido, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez) e pela suíça Zürich Airport, que detém o know how na administração de aeroportos.
A BHAirport, por exemplo, detém a concessão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (AITN). O consórcio é composto pelo grupo CCR (Soares Penido, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez) e pela suíça Zürich Airport, que detém o know how na administração de aeroportos.
Já no último leilão de energia, composto por 29 empreendimentos, elas
também aparecem em peso. Dois consórcios (EGP APC e EGP FA) compostos pela
italiana Enel Green Power venceram dois lotes. O consórcio 3Leões, composto
pela Angolana YOAfrica Onfraestrutura e Pavimentação, também venceu um lote.
Várias outras empresas de fora marcaram presença no certame.
No começo do ano, o governo assinou contrato de concessão de outras 29
hidrelétricas. A chinesa China Three Gorges assumiu a concessão das usinas
Jupiá e Ilha Solteira, no Rio Paraná, que antes eram concessões da Companhia
Energética de São Paulo (Cesp), em um contrato de R$ 13,8 bilhões. Foi a
primeira vez que uma empresa estrangeira assumiu sozinha a gestão de uma
hidrelétrica no Brasil. Na China, a companhia administra a hidrelétrica de Três
Gargantas, considerada a usina com maior capacidade de geração de energia do
mundo.
Com a possibilidade de as companhias nacionais ficarem pelo menos um
período sem prestar serviços para o governo, o presidente do Sindicato da
Indústria da Construção Pesada de Minas Gerais (Sicepot-MG), Emir Cadar Filho
acredita que as chinesas serão as primeiras a se interessar pelo país. “Elas
possuem conhecimento e estão acostumadas a trabalhar com grandes projetos”, diz
o representante do setor. Além disso, o país asiático possui ociosidade
produtiva, o que o faz mirar o ocidente. E demanda no país tem de sobra.


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