Déficit público, juros e
inflação
Paulo Paiva*
As contas públicas vêm se deteriorando rapidamente. O déficit nominal –
soma do déficit primário (receita tributária menos gastos não financeiros) mais
os encargos da dívida pública (juros) – que estava em 2,27% do PIB, em 1012,
ultrapassou 6 %, em 2014, chegando a 10,38%, em 2015.
Esse descontrole nos gastos causou a queda da confiança dos investidores
no Brasil e, em consequência, a retirada do selo de bom pagador pelas agências
internacionais de rating.
Reverter essa tendência para recuperar a confiança é o principal desafio
de Temer na economia. Por isso, encaminha proposta de emenda constitucional ao
Congresso Nacional limitando o crescimento das despesas da União à variação da
inflação no ano anterior, que significa o congelamento das despesas, em termos
reais, nos próximos 10 anos.
Essa drástica medida tem como objetivo estancar o crescimento
desordenado dos gastos públicos, permitindo a volta da geração de superávit
primário, no futuro.
Se na composição do déficit público nominal, o déficit primário
representa apenas 18% do seu total, por que, então, não atacar os outros 82%
reduzindo a taxa de juros? É uma pergunta pertinente que muitos fazem.
A resposta para essa pergunta foi dada no início da semana pelos
presidentes do Banco Central, Alexandre Tombini, que saiu, e Ilan Goldfajn, que
assumiu o cargo, em seus discursos de despedida e de posse, respectivamente.
Tombini, em sua prestação de contas, indicou que uma das restrições à
eficácia na contenção da inflação foi “uma política fiscal que, desde 2012, se
manteve em terreno expansionista, com deterioração dos resultados em magnitude
e qualidade, o que levou a um aumento significativo do prêmio de risco do país,
que se transmitiu negativamente aos preços de nossos ativos, em particular na
taxa de câmbio”. Vale dizer, irresponsabilidade fiscal resultou em taxas de
juros mais altas.
Goldfajn, por sua vez, alertou que “é importante destacar que a
eficiência da política monetária do Banco Central será tanto maior, quanto mais
bem-sucedidos forem os esforços na implantação de reformas e na recuperação da
responsabilidade fiscal”.
Um exemplo estilizado mostra essa relação: a taxa Selic em 14,25%, no
final de 2015, poderia ser decomposta em duas partes: 10,67%, que foi a
inflação, e 3,58% que seria o juro real. Se, nas mesmas condições, a inflação
estivesse no centro da meta, isto é, em 4,5%, a taxa Selic poderia estar em
8,08%.
A combinação de responsabilidade fiscal com meta de inflação é o único
caminho para que, simultaneamente, déficit público, inflação e taxa de juros
caiam.
Política fiscal restritiva contribui para a redução da inflação e dá
maior flexibilidade ao Banco Central para conduzir a política monetária visando
atingir a meta de inflação e baixar a taxa de juros. Não há mágica.
Restará, assim, ao Congresso Nacional, nesses tempos tão conturbados,
entender sua responsabilidade para a recuperação da estabilidade da economia
brasileira.
(*) Professor
associado da Fundação Dom Cabral e foi ministro do Trabalho e do Planejamento e
Orçamento no governo FHC

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