Investimentos de R$ 66
bilhões em Copa e Olimpíada contribuíram pouco para avanço do país
Raul Mariano
Viaduto desabou em Belo Horizonte-MG
Somados, os custos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e da
Olimpíada de 2016 são de aproximadamente R$ 66 bilhões. Desse montante, mais da
metade (R$ 39,5 bilhões) saíram dos cofres públicos. No entanto, na avaliação
de especialistas, os investimentos bilionários para os megaeventos esportivos
não trazem ganhos significativos para o desenvolvimento do país.
Se comparado a outras demandas atuais, o dinheiro gasto na Copa e na
Olimpíada seria suficiente para cobrir duas vezes o valor que o governo
pretende arrecadar em 2017 com a volta da CPMF, cerca de R$ 33,2 bilhões por
ano. A mesma quantia poderia suprir, ainda, o déficit no orçamento da União em
2016, que será de R$ 60,2 bilhões, segundo o Ministério da Fazenda.
Parte do valor ainda foi desperdiçado em obras de mobilidade urbana que
ficaram inacabadas ou tiveram problemas estruturais. Em capitais como Cuiabá,
Recife e Fortaleza, corredores e trilhos planejados para transporte rápido de
passageiros não ficaram prontos a tempo da Copa e permanecem abandonados.
Em Belo Horizonte, o viaduto Batalha dos Guararapes, construído dentro
do PAC Mobilidade da Copa, desabou matando duas pessoas e ferindo outras 23 em
julho de 2014. A obra não foi refeita e não há previsão para novas intervenções
no local. No Rio, na última semana, parte da ciclovia Tim Maia, construída no
pacote de obras para a Olimpíada, desabou matando duas pessoas. Juntas, as duas
obras custaram R$ 57 milhões.
Impactos
De acordo com o Ministério dos Esportes, a realização da Copa gerou
acréscimo de R$ 30 bilhões ao PIB brasileiro, segundo pesquisa realizada pela
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Ainda segundo o Ministério,
dez mil empresas de pequeno porte faturaram pelo menos R$ 500 milhões com o
evento, o que impulsionou a geração de 50 mil empregos temporários e
permanentes.
No entanto, a julgar pelo desempenho da economia brasileira pós-Copa,
fica evidente que o evento influenciou pouco no crescimento do país, afetado
pelo cenário político turbulento e conjuntura econômica internacional
desfavorável. O Produto Interno Bruto (PIB) de 2014 recuou 0,6% no segundo
semestre, imediatamente após a competição. Além disso, a realização do evento
não modificou o ambiente de negócios, atraindo novos investimentos. Pelo
contrário, a economia se deteriorou ainda mais em 2015, encolhendo 3,8%
conforme o IBGE.
Problemas de infraestrutura permanecem após festa do esporte
A menos de cem dias dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, a situação
política do país torna o cenário ainda mais delicado. A presidente Dilma
Rousseff receberá a tocha olímpica amanhã, no Palácio do Planalto, mas corre
risco de ser afastada do cargo oito dias depois, caso o processo de impeachment
avance no Senado.
Na avaliação do professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
e Regional (Ippur) da UFRJ Orlando Alves dos Santos Júnior, por mais que a
situação política se resolva, é pouco provável que o país tenha melhorias reais
na economia ou na infraestrutura.
Para ele, os jogos olímpicos deixaram de ser eventos de congraçamento
entre nações e passaram a ser acontecimentos puramente comerciais.
“É fundamental desconstruir a ideia de legado. Isso é uma ideologia
construída para legitimar um evento. É evidente que, a partir de uma coalizão
de poder, há determinadas comunidades que são beneficiados com essas obras de
BRT, por exemplo. Mas esse modelo de megaevento precisa ser repensado”, afirma.
Segundo o pesquisador, o país não teve coragem de questionar exigências
da Fifa, que agora está sendo investigada por esquemas de corrupção, nem do
Comitê Olímpico Internacional (COI). Com isso, programas como a urbanização de
favelas no Rio, que ficariam como herança dos Jogos Olímpicos, foram
completamente descontinuados.
“São megaeventos de cidades que se negam a sediar suas próprias
populações. São promovidos por um conjunto de empresas e coordenadas por vários
interesses econômicos que impõem normas que ferem legislações locais”, critica
Orlando.
O economista do Ibmec Eduardo Coutinho afirma que os benefícios
econômicos e sociais dos eventos são residuais. “Há um aquecimento da economia
e do nível de felicidades da população apenas durante a ocorrência dos jogos. A
maior parte dos problemas de infraestrutura continua a existir. Não há, de
fato, um legado”.
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