A arte de levar um fora
Simone Demolinari
Se dizer um “não” já é algo muito difícil, imagina ouvir um “não”? Além
de difícil é dolorido, sobretudo quando acontece no campo do sentimentos.
A possibilidade de levar um fora faz parte do jogo da conquista. Mas
saber disso não alivia o sofrimento, afinal de contas ser preterido mexe com
uma das nossas piores feridas emocionais: a rejeição.
A sensação de ser rejeitado em nenhum aspecto é bem digerida. Ela é
sentida quando somos demitidos, substituídos, desprezados, esquecidos, ou
quando a pessoa que você quer não te quer. Só não tem um peso de rejeição as
cantadas fortuitas em baladas, estas geralmente estão a serviço da diversão e
não do sentimento.
No intuito de minimizar a frustração de ser preterido, muitos tentam
avaliar se as condições são promissoras ou adversas através dos sinais. Algumas
pessoas – as mais destemidas – preferem ignorar estes sinais e manter firme a
missão da conquista. Preferem a certeza à dúvida pois tem convicções fortes de que são capazes
de se recuperarem mediante o revés. Já outros – os mais medrosos – preferem
pisar em campo seguro, na falta de indícios positivos escolhem não seguir em
frente, recuam.
Há um dito popular que incentiva os menos corajosos, dizendo: “o não
você já tem, vá atrás do sim”. Essa frase, apesar de ser bem intencionada,
despreza as consequências. O “não” subentendido é muito diferente do “não”
explicito. O segundo dói mais. O sujeito vai atrás do “sim” pode acabar
encontrando o “super não”, aquele que leva à lona.
Ganhar ou perder no campo do amor depende de vários fatores, inclusive
os subjetivos. Por isso é tão complicado procurar garantias, o melhor a se
fazer é conhecer seus próprios limites.
Quais são seus limites? Existem pessoas que ao ouvirem um “não”, apesar
de tristes, sentem-se aliviadas. Entendem que aquela negativa é o fim de um
investimento onde todas as possibilidades foram esgotadas. Carregam consigo a
leveza de quem tentou. Por outro lado, há aqueles que quando levam um fora
ficam deprimidos, com sensação de fracasso, arrependidos por se exporem frente
ao outro e com a autoestima baixa. Costumam buscar conforto com amigos que
entre uma fala ou outra, dizem: “não fique triste, quem está perdendo é ele
(a)”. Esse tipo de consolo não passa de papo furado, pois na prática quem perdeu
foi o rejeitado, afinal de contas era ele quem queria.
Se levar um fora é ruim, dar um fora também não é bom. Embora seja mais
confortável, há sempre um constrangimento para ambos. Por isso é comum àquele
que dispensa fazê-lo de forma mais cuidadosa possível. Geralmente até propondo
continuar a relação em forma de amizade, mas nem sempre é possível transformar
um desejo de atração em laços sociais.
O fato é: quando um não quer, dois não ficam. Uma vez constatado isso, o
melhor a fazer é ir para casa e conformar. Mas nunca esquecendo que, em que
pese toda a angústia da rejeição, houve uma experiência extremamente positiva:
a aposta. Só leva um “não” quem arrisca, quem ousa, quem supera o medo, quem
coloca suas inseguranças de lado e se desnuda para o outro, ou seja, quem faz o
que poucos fazem: são fieis a si.

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