A saga dos Vargas
Manoel Hygino
Os velhos astros da política brasileira continuam brilhando, mesmo post
mortem. Quando saiu a lista dos ministros de Michel Temer, procurou-se o nome
de Moreira Franco, sempre ao lado do vice-presidente em numerosas ocasiões,
além do que a vida política lhes permitiu ao longo de décadas.
Algum cargo importante, todavia, devia estar-lhe reservado, considerando
sua intensa atuação na gestão dos negócios públicos.
Como Francelino Pereira, que descera do interior do Piauí para Minas
Gerais, Wellington Moreira Franco, nascido em outubro de 1944, embarcou em sua
Teresina natal para fazer América no Sudeste, mais exatamente na antiga capital
da República. Foi uma porção de coisas, ocupou cargos relevantes e exerceu
funções importantes, principalmente no Rio de Janeiro, Estado de que foi
governador de 1987 a 1991.
Não sei como a família Vargas entrou em sua vida, mas incontestavelmente
lhe foi importante para o futuro. O fato é que a aproximação se fez através de
Amaral Peixoto e Alzira Vargas, um casal que entrou para a história brasileira
e nela permaneceu antes, durante e depois da ditadura do presidente nascido em
São Borja.
Naquele já remoto tempo, Amaral Peixoto foi até objeto de anedotas,
apelidado de “Almirante”. Por que? Porque se dizia que ele comandava a frota de
barcas que faziam a ligação Rio de Janeiro-Niterói. De qualquer modo, o casal
Ernani do Amaral Peixoto-Alzira, a filha preferida de Getúlio, marcou presença
em muitas iniciativas em favor do Estado do Rio. Alzira, que fumava cigarro com
piteira, era uma celebridade e brilhava nas reuniões sociais e no grand monde
internacional.
O prestígio do casal influenciou certamente no crescimento de Wellington
na carreira depois de passar por renomados colégios cariocas. Alzira se
destacava nos momentos decisivos de Getúlio e Dona Darcy, como uma espécie de
meio de campo harmonizador para o par que viera de terra gaúcha para o vendaval
da capital da República.
Quando houve a tentativa integralista de chegar ao poder, a partir da
tomada do Palácio das Laranjeiras, Alzira lá estava com o presidente naquela
madrugada que contribuíria para mudar os destinos nacionais. A família Vargas,
coadjuvada por alguns poucos soldados da guarda, soube responder com coragem.
Revólveres foram distribuídos entre a família e houve reação, até que
dispositivos das Forças Armadas chegaram. O plano falhou, como antes falharam
os comunistas na intentona de 1935.
Muitos anos depois, em agosto de 1954, nos momentos mais difíceis, senão
cruéis, para os Vargas e para a nação, Alzira não arredou pé do lado do pai,
até em reuniões de lideranças militares e civis, entre eles Tancredo Neves. Ela
acompanhou a evolução dos acontecimentos até o desfecho fatal, na manhã
sinistra do dia 24, no Catete.
Pois Moreira Franco se casou com uma filha de Amaral Peixoto e D.
Alzira, aproximando o Sul do Nordeste. O casamento foi com Celina Vargas,
socióloga, intelectual, união de que nasceram dois filhos e uma filha.
A união se estendeu até 1989; em 1995, o segundo enlace foi com Clara
Maria, filha de um político fluminense.
A saga dos Vargas se manteve até então.

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