O que sobrar
Ruy Castro
RIO DE JANEIRO - Lula anunciou que montará um "governo
paralelo" para fiscalizar a gestão de Michel Temer. É o que os ingleses
chamam de "shadow cabinet" - um ministério informal, agindo à sombra
do oficial, para ver se este está trabalhando a favor dos interesses da
população. Já leu? Pois esqueça. Lula disse isto todas as vezes em que foi
derrotado numa eleição. O "shadow cabinet" é um de seus factoides,
destinado apenas a fazer espuma e adoçar seu minguante eleitorado interno.
Se Lula não fiscalizou seu governo, nem o de Dilma, como fiscalizará um
governo alheio? Nos 13 anos de PT no poder, houve o aparelhamento e a tomada do
Estado, o assalto à Petrobras, o festival de propinas, a farra das montadoras e
das empreiteiras, a venda de medidas provisórias, a bacanal fiscal e o rombo
nas contas públicas. Tudo isto levou o país para o buraco e, como a Carolina do
Chico Buarque, só Lula não viu.
Lula não fiscalizou as manhas e artimanhas de seus amigos José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, João Vaccari,
Silvinho Pereira, Delcídio do Amaral e demais cartolas do PT, dos
marqueteiros João Santana e Mônica Moura, dos empreiteiros Leo Pinheiro e Marcelo Odebrecht, do pecuarista José Carlos Bumlai e de outros que ficam,
literalmente, na geladeira.
Aliás, Lula não fiscalizou nem a si mesmo. Deslumbrou-se com os vinhos e
jatinhos da elite golpista loura e de olhos azuis, promoveu reformas em sítios
e tríplex que não lhe pertenciam e fez palestras milionárias de que não se
conhece uma palavra.
E, agora, Lula já não conseguirá fiscalizar seus antigos aliados, que
estão presos na Lava Jato e a fim de contar o que sabem para mitigar as
sentenças de que não escaparão. Marcelo Odebrecht, por exemplo, quer falar para
reduzir os 100 anos de cadeia a que está sujeito e, quem sabe, dividir com Lula
o que sobrar.

Nenhum comentário:
Postar um comentário