Leia íntegra do discurso de
posse do presidente interino Michel Temer
O presidente interino Michel Temer fez seu primeiro discurso como
mandatário da nação na tarde desta quinta-feira (12), após Dilma Rousseff ser
afastada de suas funções. A manifestação foi feita na cerimônia de posse de sua
nova equipe ministerial.
O peemedebista fez um apelo ao setor privado e à classe política pelo
apoio a medidas e reformas para retomar o crescimento do país e defendeu que a
Operação Lava Jato não sofra interferências que possam enfraquecê-la.
Leia a íntegra do discurso de Michel Temer:
Eu pretendia que esta cerimônia fosse extremamente sóbria e discreta,
como convém ao momento que vivemos. Entretanto, eu vejo o entusiasmo dos
colegas parlamentares, dos senhores governadores, e tenho absoluta convicção de
que este entusiasmo deriva, precisamente, da longa convivência que nós todos
tivemos ao longo do tempo. Até pensei, num primeiro momento, que não lançaria
nenhuma mensagem neste momento. Mas percebi, pelos contatos que tive nestes
dois últimos dias, que indispensável seria esta manifestação.
E minha primeira palavra ao povo brasileiro é a palavra confiança.
Confiança nos valores que formam o caráter de nossa gente, na vitalidade da
nossa democracia; confiança na recuperação da economia nacional, nos potenciais
do nosso país, em suas instituições sociais e políticas e na capacidade de que,
unidos, poderemos enfrentar os desafios deste momento que é de grande
dificuldade.
Reitero, como tenho dito ao longo do tempo, que é urgente pacificar a
Nação e unificar o Brasil. É urgente fazermos um governo de salvação nacional.
Partidos políticos, lideranças e entidades organizadas e o povo brasileiro hão
de emprestar sua colaboração para tirar o país dessa grave crise em que nos
encontramos. O diálogo é o primeiro passo para enfrentarmos os desafios para
avançar e garantir a retomada do crescimento. Ninguém, absolutamente ninguém,
individualmente, tem as melhores receitas para as reformas que precisamos
realizar. Mas nós, governo, Parlamento e sociedade, juntos, vamos encontrá-las.
Eu conservo a absoluta convicção de que é preciso resgatar a
credibilidade do Brasil no concerto interno e no concerto internacional, fator
necessário para que empresários dos setores industriais, de serviços, do
agronegócio, e os trabalhadores, enfim, de todas as áreas produtivas se entusiasmem
e retomem, em segurança, com seus investimentos. Teremos que incentivar, de
maneira significativa, as parcerias público-privadas, na medida em que esse
instrumento poderá gerar emprego no País.
Sabemos que o Estado não pode tudo fazer. Depende da atuação dos setores
produtivos: empregadores, de um lado, e trabalhadores de outro. São esses dois
polos que irão criar a nossa prosperidade. Ao Estado compete –vou dizer, aqui,
o óbvio–, compete cuidar da segurança, da saúde, da educação, ou seja, dos
espaços e setores fundamentais, que não podem sair da órbita pública. O
restante terá que ser compartilhado com a iniciativa privada, aqui entendida
como a conjugação de ação entre trabalhadores e empregadores.
O emprego, sabemos todos, é um bem fundamental para os brasileiros. O
cidadão, entretanto, só terá emprego se a indústria, o comércio e as atividades
de serviço, estiverem todas caminhando bem.
De outro lado, um projeto que garanta a empregabilidade, exige a
aplicação e a consolidação de projetos sociais. Por sabermos todos, que o
Brasil lamentavelmente ainda é um País pobre. Portanto, reafirmo, e o faço em
letras garrafais: vamos manter os programas sociais. O Bolsa Família, o
Pronatec, o Fies, o Prouni, o Minha Casa Minha Vida, entre outros, são projetos
que deram certo, e, portanto, terão sua gestão aprimorada. Aliás, aqui mais do
que nunca, nós precisamos acabar com um hábito que existe no Brasil, em que
assumindo outrem o governo, você tem que excluir o que foi feito. Ao contrário,
você tem que prestigiar aquilo que deu certo, completá-los, aprimorá-los e
insertar outros programas que sejam úteis para o País. Eu expresso, portanto,
nosso compromisso com essas reformas.
Mas eu quero fazer uma observação. É que nenhuma dessas reformas alterará
os direitos adquiridos pelos cidadãos brasileiros. Como menos fosse sê-lo-ia
pela minha formação democrática e pela minha formação jurídica. Quando me
pedirem para fazer alguma coisa, eu farei como Dutra, o que é diz o livrinho? O
livrinho é a Constituição Federal.
Nós temos de organizar as bases do futuro. Muitas matérias estão em
tramitação no Congresso Nacional, eu até não iria falar viu, mas como todo
mundo está prestando atenção, eu vou dar toda uma programação aqui. As reformas
fundamentais serão fruto de um desdobramento ao longo do tempo. Uma delas, eu
tenho empenho e terei empenho nisso, porque eu tenho nela, é a revisão do pacto
federativo. Estados e municípios precisam ganhar autonomia verdadeira sobre a
égide de uma federação real, não sendo uma federação artificial, como vemos
atualmente.
A força da União, nós temos que colocar isso na nossa cabeça, deriva da
força dos estados e municípios. Há matérias, meus amigos, controvertidas, como
a reforma trabalhista e a previdenciária. A modificação que queremos fazer, tem
como objetivo, e só se este objetivo for cumprido é que elas serão levadas
adiante, mas tem como objetivo o pagamento das aposentadorias e a geração de
emprego. Para garantir o pagamento, portanto. Tem como garantia a busca da
sustentabilidade para assegurar o futuro.
Esta agenda, difícil, complicada, não é fácil, ela será balizada, de um
lado pelo diálogo e de outro pela conjugação de esforços. Ou seja, quando
editarmos uma norma referente a essas matérias, será pela compreensão da
sociedade brasileira. E, para isso, é que nós queremos uma base parlamentar
sólida, que nos permita conversar com a classe política e também com a
sociedade.
Executivo e legislativo precisam trabalhar em harmonia e de forma
integrada. Até porque no Congresso Nacional é que estão representadas todas as
correntes da opinião da sociedade brasileira, não é apenas no executivo. Lá no
Congresso Nacional estão todos os votos de todos os brasileiros. Portanto, nós
temos que governar em conjunto.
Então, nós vamos precisar muito da governabilidade e a governabilidade
exige –além do que eu chamo de governança que é o apoio da classe política no
Congresso Nacional– precisam também de governabilidade, que é o apoio do povo.
O povo precisa colaborar e aplaudir as medidas que venhamos a tomar. E nesse
sentido a classe política unida ao povo conduzirá ao crescimento do País. Todos
os nossos esforços estarão centrados na melhoria dos processos administrativos,
o que demandará maior eficácia da governança pública.
A moral pública será permanentemente buscada por meio dos instrumentos
de controle e apuração de desvios. Nesse contexto, tomo a liberdade de dizer
que a Lava Jato tornou-se referência e como tal, deve ter (falha no áudio) e
proteção contra qualquer tentativa de enfraquecê-la.
O Brasil, meus amigos, vive hoje sua pior crise econômica. São 11
milhões de desempregados, inflação de dois dígitos, déficit quase de R$ 100
bilhões, recessão e também grave a situação caótica da saúde pública. Nosso
maior desafio é estancar o processo de queda livre na atividade econômica, que
tem levado ao aumento do desemprego e a perda do bem-estar da população.
Para isso, é imprescindível, reconstruirmos os fundamentos da economia
brasileira. E melhorarmos significativamente o ambiente de negócios para o
setor privado. De forma que ele possa retomar sua rotação natural de investir,
de produzir e gerar emprego e renda.
De imediato, precisamos também restaurar o equilíbrio das contas
públicas, trazendo a evolução do endividamento no setor público de volta ao
patamar de sustentabilidade ao longo do tempo. Quanto mais cedo formos capazes
de reequilibrar as contas públicas, mais rápido conseguiremos retomar o
crescimento.
A primeira medida, na linha dessa redução, está, ainda que modestamente,
aqui representada, já eliminamos vários ministérios da máquina pública. E, ao
mesmo tempo, nós não vamos parar por aí. Já estão encomendados estudos para
eliminar cargos comissionados e funções gratificadas. Sabidamente funções
gratificadas desnecessárias. Sabidamente, na casa de milhares e milhares de
funções comissionadas.
Eu quero, também, para tranquilizar o mercado, dizer que serão mantidas
todas as garantias que a direção do Banco Central hoje desfruta para fortalecer
sua atuação como condutora da política monetária e fiscal. É preciso, meus
amigos, e aqui eu percebo que eu fico dizendo umas obviedades, umas
trivialidades, mas que são necessárias porque, ao longo do tempo, eu percebo
como as pessoas vão se esquecendo de certos conceitos fundamentais da vida
pública e da vida no Estado.
Então, quando eu digo "é preciso dar eficiência aos gastos
públicos", coisa que não tem merecido maior preocupação do Estado
brasileiro, nós todos estamos de acordo com isso. Nós precisamos atingir aquilo
que eu chamo de "democracia da eficiência". Porque se, no passado,
nós tivemos, por força da Constituição, um período da democracia liberal,
quando os direitos liberais foram exercitados amplamente. Se, ao depois, ainda
ancorado na Constituição, nós tivemos o desfrute dos chamados direitos sociais,
que são previstos na Constituição, num dado momento aqueles que ascenderam ao
primeiro patamar da classe média, começaram a exigir eficiência, eficiência do
serviço público e eficiência nos serviços privados. E é por isso que hoje nós
estamos na fase da democracia da eficiência, com o que eu quero contar com o
trabalho dos senhores ministros, do Parlamento e de todo o povo brasileiro.
Eu quero também remover - pelo menos nós faremos um esforço
extraordinário para isto –a incerteza introduzida pela inflação dos últimos
anos. Inflação alta - vai mais uma trivialidade –atrapalha o crescimento,
desorganiza a atividade produtiva e turva o horizonte de planejamento dos
agentes econômicos. E sabe quem sofre as primeiras consequências dessa inflação
alta? É a classe trabalhadora e os segmentos menos protegidos da sociedade, é
que pagam a parte mais pesada dessa conta.
Nós todos sabemos que, há um bom tempo, o mundo está de olho no Brasil.
Os investidores acompanham, com grande interesse, as mudanças no nosso país.
Havendo condições adequadas –e nós vamos produzi-las–, a resposta será rápida,
pois é grande a quantidade de recursos disponíveis no mercado internacional e
até internamente, e ainda maior as potencialidades no nosso País. E com base no
diálogo, nós adotaremos políticas adequadas para incentivar a indústria, o
comércio, os serviços e os trabalhadores. E a agricultura, tanto a familiar
quanto o agronegócio. Precisamos prestigiar a agricultura familiar, que é quase
um microempreendimento na área da agricultura, especialmente apoiando e
incentivando os micros, pequenos e médios empresários. Além de modernizar o
País, estaremos realizando o maior objetivo do governo: reduzir o desemprego.
Que há de ser, os senhores percebem, estou repetindo esse fato porque eu tenho
tido - e os senhores todos têm tido -, contato em todas as partes do País, com
famílias desempregadas. E nós vemos o desespero desses brasileiros, que contam
com um País com potencialidades extraordinárias e que não consegue levar
adiante uma política econômica geradora de empregos para todos os brasileiros.
Quero falar um pouco sobre a atuação nas linhas interna e externa do
Brasil. E esses princípios estão consagrados na Constituição de [19]88, senador
Mauro Benevides, que nós ajudamos a redigir, não é? Eu indico, porque esses
preceitos indicam caminho natural para definição das linhas da atuação interna
e externa do Brasil. Os senhores veem que eu insisto muito no tema da
Constituição porque, ao meu modo de ver, toda vez que nós nos desviamos dos
padrões jurídicos, e o Direito existe, exata e precisamente, para regular as
relações sociais, quando nós nos desviamos as (incompreensível) dos limites do
Direito, nós criamos a instabilidade social e a instabilidade política. Por
isto eu insisto sempre em invocação do texto constitucional.
Muito bem, nesta Constituição, a independência nacional, a defesa da paz
e da solução pacífica de conflitos, o respeito à autodeterminação dos povos, a
igualdade entre os estados, a não-intervenção, a centralidade dos direitos
humanos e o repúdio ao racismo e ao terrorismo, dentre outros princípios, são
valores profundos da nossa sociedade. E traça uma imagem de um País pacífico e
ciente dos direitos e deveres estabelecidos pela nossa Constituição.
São, meus amigos, esses elementos de consenso que nos permite
estabelecer bases sólidas para a política externa que volte a representar os
valores e interesses permanentes no nosso País. A recuperação do prestígio do
País e da confiança em seu futuro serão tarefas iniciais e decisivas para o
fortalecimento da inserção internacional da nossa economia.
Agora em agosto o Brasil estará no centro do mundo com a realização das
Olimpíadas no Rio de Janeiro. Bilhões de pessoas assistirão jogos, jornalistas
de vários países estarão presentes para reportar o país-sede das competições.
Muito além dos esportes, sabemos disso, as pautas se voltaram para as condições
políticas e econômicas do País. Tão cedo não voltaremos oportunidade como esta
de atrair a atenção de tanta gente, ao mesmo tempo, em todos os cantos do
mundo.
Nesta tarde de quinta-feira, porém, e desde já pedindo desculpas pelo
possível, para usar um refrão, pelo possível alongado da exposição, eu quero
dizer, reiterar, que a minha intenção era realizar essa cerimônia, digamos
assim, com a maior sobriedade possível. Estamos fazendo porque, sem embargo do
entusiasmo de todos os senhores, todos nós compreendemos o momento difícil,
delicado, ingrato que estamos todos passando.
Por isso, nessa tarde de quinta-feira não é momento para celebrações,
mas para uma profunda reflexão: é o presente e o futuro que nos desafiam e não
podemos olhar para frente com os olhos de ontem. Olhamos com olhos no presente
e olhos no futuro.
Faço questão, e espero que sirva de exemplo, e declarar meu absoluto
respeito institucional à senhora presidente Dilma Rousseff. Não discuto aqui as
razões pelas quais foi afastada. Quero apenas sublinhar a importância do
respeito às instituições e a observância à liturgia nas questões, no trato das
questões institucionais. É uma coisa que nós temos que recuperar no nosso País.
Uma certa cerimônia não pessoal, mas uma cerimônia institucional, uma cerimônia
em que as palavras não sejam propagadoras do mal-estar entre os brasileiros,
mas, ao contrário, que sejam propagadoras da pacificação, da paz, da harmonia,
da solidariedade, da moderação, do equilíbrio entre todos os brasileiros.
Tudo o que disse, meus amigos, faz parte de um ideário que ofereço ao
País, não em busca da unanimidade, o que é impossível, mas como início de
diálogo com busca de entendimento. Farei muitos outros pronunciamentos. E meus
ministros também. Meus ministros é exagerado, são ministros do governo. O
presidente não tem vice-presidente, não tem ministro, quem tem ministro é o
governo. Então, os ministros do governo farão manifestações nesse sentido,
sempre no exercício infatigável de encontrar soluções negociadas para os nossos
problemas. Temos pouco tempo, mas se nos esforçarmos, é o suficiente para fazer
as reformas que o Brasil precisa.
E aí, meus amigos, eu quero dizer, mais uma vez, da importância dessa
harmonia entre os Poderes, em primeiro lugar. Em segundo lugar, a determinação,
na própria Constituição - e eu a cumprirei - no sentido de que cada órgão do
Poder tem as suas tarefas: o Executivo executa, o Legislativo legisla, o
Judiciário julga. Ninguém pode interferir em um ou outro poder por uma razão
singela: a Constituição diz que os poderes são independentes e harmônicos entre
si.
Ora, bem, nós não somos os donos do poder, nós somos exercentes do
poder. O poder, está definido na Constituição, é do povo. Quando o povo cria o
Estado, ele nos dá uma ordem: "Olha aqui, vocês, que vão ocupar os
poderes, exerçam-no com harmonia porque são órgãos exercentes de funções".
Ora, quando há uma desarmonia, o que há é uma desobediência à soberania
popular, portanto há uma inconstitucionalidade. E isso nós não queremos jamais
permitir que se pratique.
Dizia aos senhores que a partir de agora nós não podemos mais falar em
crise. Trabalharemos. Aliás, há pouco tempo, eu passava por um posto de
gasolina, na Castelo Branco, e o sujeito botou uma placa lá: "Não fale em
crise, trabalhe". Eu quero ver até se consigo espalhar essa frase em 10, 20
milhões de outdoors por todo o Brasil, porque isso cria também um clima de
harmonia, de interesse, de otimismo, não é verdade? Então, não vamos falar em
crise, vamos trabalhar.
O nosso lema - que não é um lema de hoje -, o nosso lema é Ordem e
Progresso. A expressão da nossa bandeira não poderia ser mais atual, como se
hoje tivesse sido redigida.
Finalmente, meus amigos, fundado num critério de alta religiosidade. E
vocês sabem que religião vem do latim religio, religare, portanto, você, quando
é religioso, você está fazendo uma religação. E o que nós queremos fazer agora,
com o Brasil, é um ato religioso, é um ato de religação de toda a sociedade
brasileira com os valores fundamentais do nosso País.
Por isso que eu peço a Deus que abençoe a todos nós: a mim, à minha
equipe, aos congressistas, aos membros do Poder Judiciário e ao povo
brasileiro, para estarmos sempre à altura dos grandes desafios que temos pela
frente.
Meu muito obrigado e um bom Brasil para todos nós.

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