"Grande salto adiante"
Em 16 de maio de 1966, políticos de alto escalão do Partido Comunista se
reuniram em Pequim para banir funcionários que haviam caído em desgraça junto
ao então líder Mao Tsé-tung e lançar o que ficaria conhecido como Revolução Cultural.
A cúpula produziu um documento que delineava o novo curso do
"Grande salto adiante", tomado pelo Partido. Tal curso englobava a
mobilização em massa de cidadãos em coletivos dedicados a uma única indústria
ou cultivo, como também um rompimento com os costumes tradicionais chineses por
meio da destruição dos chamados Quatro Velhos: velhas ideias, velhos costumes, velhos hábitos e velha
cultura.
Giovana Gia Yucing
Com a morte do ex-líder comunista Mao Tsé-Tung e com a ocupação da
presidência da República Popular da China por Deng Xiaoping, no final da década
de 1980, houve o início da realização de várias reformas econômicas no país,
entre elas, a abertura do mercado chinês ao mercado externo. Entre as
consequências dessas reformas, é possível destacar o rápido crescimento
econômico do país, a redução da desigualdade social da população chinesa e o
aumento de investimentos chineses em diversos países.
Introdução
O dinamismo da economia chinesa nas últimas décadas e o aumento da sua
importância no sistema internacional têm atraído cada vez mais a atenção do
resto do mundo, principalmente devido à sustentação de seu crescimento em um
período em que a maior parte do mundo tem vivenciado um crescimento econômico
mediano (GUIMARÃES, 2009). Atualmente, a China continua sendo uma das maiores
economias do mundo, permanecendo na segunda posição do ranking mundial da
economia, com o PIB estimado em US$ 9, 020 trilhões (50 MAIORES
ECONOMIAS…, s.d.).
As reformas econômicas, iniciadas em 1978 e conhecidas como
“Políticas de Portas Abertas”, fizeram com que o país vivenciasse um processo
econômico formidável, nunca antes visto, evidenciado pelas altas taxas de
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do PIB per capita. De 1980 a
2004, o PIB do país registrou uma média de crescimento real de 9,5%,
tornando-se a sexta maior economia do mundo em 2004. Isto se deve
principalmente ao seu rápido crescimento na área do comércio internacional,
cuja participação total nesta área passou de 1% em 1980 para quase 6% em 2003
(O CRESCIMENTO ECONÔMICO…, s.d.).
No entanto, a economia chinesa nas duas fases do comunismo, se
diverge quanto ao seu posicionamento perante o mercado externo, seus
planejamentos econômicos e pelas características sócio-econômicas de sua
população. A primeira fase, que durou entre 1949-1978, sob o governo de Mao
Tsé-Tung,foi caracterizada pelo isolamento do país do mundo dito ocidental, em
comércio e relações políticas; por uma população predominantemente rural e
empobrecida; pela existência de um planejamento centralizado das atividades
econômicas; pelo controle estatal dos meios de produção e pela adoção de planos
quinquenais que, por sua vez, deram ênfase ao desenvolvimento dos setores base
da atividade econômica, como a extração mineiral, siderurgia, petroquímica e
agricultura (DIAS, 2004).
Na segunda fase, iniciada em 1978, houve mudanças sócio-econômicas com a
ascensão de Deng Xiaoping ao poder presidencial. Alguns anos após a aprovação
de um novo plano de reforma do sistema econômico chinês,proposto pelo novo
presidente durante a reunião da 3ª Sessão Plenária do XI Comitê Central do
Partido Comunista Chinês, o país deu um salto econômico significativo, se
compararmos com a fase anterior, gerando efeitos positivos e negativosdentro e
fora do país (OLIVEIRA, 2005).
As bases para o crescimento econômico
O salto econômico chinês não ocorreu por acaso. Vários fatores foram
responsáveis pelo sucesso da economia chinesa. Contudo, apesar da colaboração
de diversos fatores para o crescimento do país, nenhum deles pode ser apontado
como o principal. Segundo Nonnenberg (2010), o que houve, na verdade, foi “uma
coincidência de fatores geográficos, históricos, políticos e econômicos, que
não podem ser replicados em outros países ou outras ocasiões.”
A orientação base para as reformas econômicas foi a da construção e
modernização socialista por meio do “Programa das 4 modernizações” (agricultura,
indústria, defesa nacional e tecnologia) que, por sua vez, visava a completa
transformação da estrutura econômica do país e a tentativa de recuperar as
décadas de atraso. Além disso, essas reformas possuíam dois objetivos
fundamentais. O primeiro dizia respeito à criação de uma economia de mercado
com características socialistas, visando a obtenção de lucros e sua
maximização, mas mantendo a propriedade estatal dos meios de produção. O
segundo, por sua vez, buscava atingir o crescimento econômico, especialmente
por meio do investimento direto estrangeiro e da assistência técnica (DIAS,
2004).
Entre alguns dos fatores que propiciaram o crescimento econômico chinês,
é possível destacar, em primeiro lugar, o processo de liberalização do sistema
de formação de preços[i], que teve o seu início em 1979 no setor
rural. Além disso, a liberalização do comércio exterior também foi um fator
importante para o crescimento econômico do país, tendo as medidas de
liberalização do comércio aceleradas após o ingresso do país na Organização
Mundial do Comércio em 2001 (NONNENBERG, 2010).
Outra base para a evolução do crescimento chinês foi a criação de Zonas
Econômicas Especiais (ZEE)[ii]. Essas Zonas possuem como objetivos
principais: atrair investimentos estrangeiros, desenvolver a produção
tecnológica do país e absorver as inovações tecnológicas desenvolvidas nos
países mais avançados.Junto a esses fatores, é possível acrescentar o
gigantesco tamanho da população da China que favoreceu a existência de
economias de escala na maior parte das indústrias. Um exemplo que ilustra o
tamanho do mercado e da escala de produção diz respeito à produção anual de aço
bruto: a China produz cerca de 420 milhões de toneladas, enquanto o Brasil
produz 31 milhões (NONNENBERG, 2010).
Os Investimentos Diretos Externos (IDE) também foram essenciais para o
salto econômico chinês que, entre 1981 a 2007, pularam de US$ 265 milhões para
US$ 138 bilhões. Por fim, as políticas de incentivo governamentais à inovação e
à transferência e geração de ciência e tecnologia, intimamente ligados aos
incentivos dos investidores estrangeiros, também contribuíram
significativamente para o crescimento econômico da China (NONNENBERG, 2010).
Os efeitos sócio-econômicos das reformas econômicas dentro e fora do
país
As reformas econômicas na China geraram consequências dentro e fora de
seu território. Em relação à situação interna do país, as reformas deram origem
a um amplo mercado de trabalho, como os donos de comércio, prestadores de
serviços privados, empresários urbanos e rurais, gerando um maior consumo e
investimentos no país. Ancorando-se nas exportações, essas reformas retiraram
30% da população de Pequim de uma situação de miséria entre 1981 e 2010,
produzindo empregos em massa nas indústrias voltadas para os mercados têxtil,
atacadista e de plástico (MORENA, 2013). Além disso, atualmente, a China possui
a 2ª maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA. Em 2013, o PIB chinês foi
calculado em US$ 9, 020 trilhões, enquanto o dos EUA em US$ 16, 237 trilhões
(50 MAIORES ECONOMIAS…, s.d.).
Apesar desse salto econômico, as reformas econômicas beneficiaram de
forma desigual a população chinesa. Um estudo realizado pelo Centro de
Estudos da Universidade de Pequim neste ano, revelou que a sociedade chinesa
está mais desigual, diferentemente do que as estatísticas oficiais divulgam. A
pesquisa mostrou que os 5% mais ricos do país detêm 23% da riqueza nacional,
enquanto que os 0,5% mais pobres contam com apenas 0,1% de toda a renda. Este
estudo atribuiu ao país um coeficiente de Gini [iii]de 0,49, aproximando-o ao de países onde
há grandes índices de desigualdade, como os da África Subsaariana e da América
Latina (MORENA, 2013).No entanto, é importante destacar que esse rápido
crescimento econômico, associado com o aumento da desigualdade social, não é um
fenômeno presente somente na China, pois também pode ser observado em outros
países, como o Brasil.
Outro aspecto negativo, é sobre as condições de trabalho em algumas
empresas chinesas e estrangeiras. Um relatório que estudou essas condições de trabalho
na Foxconn, empresa chinesa que emprega quase um milhão de funcionários,
mostrou que, mesmo com a existência uma legislação trabalhista, os chineses
trabalham a duras jornadas de trabalho, sem nenhum descanso semanal; possuem
salários baixos e insuficientes, e estão submetidos a gerenciamento
rígido que proíbe o funcionário de se movimentar durante o período de trabalho
para evitar desconcentração (ROZALES, 2011). Neste sentido, é possível dizer
que as reformas econômicas não geraram, de forma geral, melhores condições de
trabalho aos chineses.
Por outro lado, alguns dos efeitos econômicos que essas reformas geraram
no âmbito internacional, incluem a ampliação da atuação da China em vários
tipos de mercados, buscando a cooperação econômica de vários países, com o
intuito de aumentar as suas exportações – consideradas suas principais fontes
de rendas; obter matérias-primas e equipamentos para suas produções
industriais; alimentos para sua população de mais de 1,3 bilhões de pessoas,
além de adquirir produtos tecnológicos (DIAS, 2004). Essas demandas chinesas
por matérias-primas, alimentos e produtos tecnológicos propiciaram, por sua
vez, uma maior renda para os países exportadores com os quais a China possui
relações econômicas, como exemplos, o Reino Unido, a Rússia e o Brasil
(PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS, 2012).
No entanto, a atual realidade da China gerou um aumento da demanda de
energia no país. Isto se deve principalmente à instalação de várias indústrias
pesadas que requerem grandes quantidades de energia para seu funcionamento,
transformando o país em um grande emissor de CO2 do planeta. Além disso, os
investimentos chineses em suas indústrias pesadas, causaram uma enorme pressão
sobre os preços de commodities no mundo que, junto ao crescente consumo e
importação de alimentos, pressionaram o aumento de preços destes itens no
mercado internacional (DIAS, 2004).
Ainda segundo Dias (2004) , a China é uma grande economia, e sua maior
participação no mundo após as reformas econômicas de Deng Xiaoping, promoveu
mudanças no mundo, uma vez que uma população de mais de 1,3 bilhões de pessoas
passaram a integrar o sistema mundial de produção e consumo. Neste sentido, é
possível afirmar que o retorno da China ao sistema econômico e político mundial
após 1978, fez com que o cenário internacional adquirisse uma dimensão
bem maior, junto com suas consequências, como as emissões de gases responsáveis
pelo efeito estufa.
Considerações Finais
Desde as reformas econômicas realizadas por Deng Xiaoping na China no final
da década de 1980, a economia do país cresceu de forma significante. Nos
últimos anos, houve um aumento do PIB do país, responsável pela posição do país
como a segunda maior economia do mundo e pelo aumento de renda de parte de sua
população. No entanto, apesar desse crescimento ter gerado efeitos positivos
dentro do país, não se pode dizer que estes efeitos impactaram toda a população
chinesa de forma igualitária, pois ainda é possível observar um desequilíbrio
sócio-econômico entre os chineses, apesar deter ocorrido uma redução dessas
desigualdades em relação ao governo de Mao-Tsé Tung. Além disso, as condições
de trabalho dos chineses, na maioria das empresas nacionais e estrangeiras, são
precárias.
Sobre o cenário externo, estas reformas foram benéficas para vários
países, uma vez que a abertura do mercado chinês ajudou estes países a terem
acesso ao maior mercado consumidor do mundo, além de ter fornecido locais
produtivos para que suas empresas pudessem crescer e se expandir, utilizando-se
da mão de obra barata do país e aproveitando-se dos impostos baixos.
Entretanto, apesar desses impactos positivos gerados pelas reformas, houve
consequências negativas no mundo, como o fato do país ter se tornado o maior
emissor de gases-estufa do mundo, superando os EUA (POLUIÇÃO DERRUBOU
EXPECTATIVA…, 2013), e o aumento dos preços de commodities no mercado
internacional.
Por fim, é importante destacar que o ex-presidente Deng Xiaoping
promoveu essas reformas econômicas, mas sem grandes mudanças no sistema político.
Ainda não houve mudanças no papel dirigista dado ao Partido Comunista Chinês,
garantindo a manutençãodo regime de partido único no país. O aparelho de
repressão proporcionado pelo governo mantém-se, e as críticas feitas
pelos países ocidentais ao governo chinês, devido às suas violações constantes
aos direitos humanos, continuam.

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