Congresso aprova mudança da
meta fiscal e autoriza deficit de até R$ 170,5 bi
Felipe Amorim
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
Sessão do Congresso presidida por Renan Calheiros (PMDB-AL) durou mais
de 16 horas
O Congresso Nacional aprovou em votação simbólica, na madrugada desta
quarta-feira (25), a alteração da meta fiscal do governo para este ano, medida
considerada como o primeiro grande teste do apoio ao presidente interino Michel
Temer no Legislativo. A mudança vai para sanção presidencial.
O governo Temer havia pedido autorização do Congresso para mudar a meta
e ampliar o rombo previsto nas contas públicas. Assim ele poderá fechar o ano
com um deficit (diferença entre a arrecadação e os gastos) de R$ 170,5 bilhões.
Anteriormente, a presidente afastada Dilma Rousseff havia proposto um
deficit de R$ 96 bilhões, mas ela não chegou a ser votada pelo Congresso.
Com isso, o Brasil deverá completar três anos consecutivos sem conseguir
fazer economia para pagar os juros da sua dívida.
Caso a medida não fosse aprovada até o fim deste mês,
o governo teria que cortar despesas e poderia ficar sem dinheiro para programas
federais, já que teria que seguir a meta atualmente prevista na LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias) de fechar o ano com uma economia de R$ 24 bilhões.
Sessão foi tumultuada
A longa e conturbada sessão durou mais de 16 horas, e foi encerrada pelo
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pouco antes das 4h desta
quarta-feira.
Grande parte da sessão, no entanto, foi destinada à
votação de 24 vetos presidenciais, dos quais um foi rejeitado integralmente e
dois tiveram trechos também derrubados. A votação da meta fiscal
começou por volta das 1h15 e durou cerca de três horas.
Além desses vetos presidenciais, a sessão foi marcada pelas tentativas
da oposição de obstruir a votação. Os parlamentares oposicionistas, além de
atacarem o senador Romero Jucá (PMDB-RR) --que deixou o Ministério do
Planejamento após o vazamento de gravações--, também pediram, diversas vezes,
que a mudança da meta fosse votada na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Renan
Calheiros precisou intervir para evitar que a sessão se arrastasse ainda mais.
Durante a sessão, parlamentares interromperam os oradores ao falar fora
dos microfones ou sem liberação da palavra. Os senadores Vanessa
Grazziotin (PC do B-AM) e Lindbergh Farias (PT-RJ), em diferentes momentos,
chegaram a ocupar as tribunas do plenário em protesto contra o tempo de fala
concedido a eles, que entenderam ser menor do que o regimento determina.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) questionou o fato de, como o texto foi
enviado por Temer ao Congresso no dia anterior, não houve tempo para que os
parlamentares apresentassem emendas ao projeto.
Pimenta também criticou os cálculos feitos pelo governo Temer. Para ele,
o novo texto busca justificar um arrocho econômico. "Esse número é
absolutamente artificial e incorreto. É uma metodologia contraditória que busca
criar um cenário de terra arrasada, que não é o da economia brasileira hoje,
para justificar medidas que visam atingir os programas sociais. Conhecemos essa
história", afirmou.
Já Jucá, que teve papel importante para aprovar a nova meta,
principalmente como ministro do Planejamento, defendeu que o ajuste marca o
início de um período de mais realismo fiscal e orçamentário no governo.
"Já estive aqui neste plenário diversas vezes mudando a meta de
superavit para deficit, porque o governo não fazia um Orçamento realista. Esta
é uma noite histórica porque o governo mudou na sua política fiscal e
orçamentária. Estamos colocando um espaço fiscal equilibrado" disse Jucá.
Empenho de Temer
Numa sinalização da importância do tema, Temer foi pessoalmente entregar
a proposta da nova meta a Renan na segunda-feira (23).
Em reunião com líderes partidários na semana passada, Temer chegou a afirmar que, sem a aprovação da proposta,
"quem estará cometendo pedalada sou eu", disse, em
referência às pedaladas fiscais, objeto da denúncia de impeachment contra
Dilma.
Em pronunciamento na manhã desta terça (24), Temer pediu que os
parlamentares que "se esforcem" para aprovar a medida e disse que ela
iria "ajudar a tirar o país da crise".
"No dia de hoje [terça] temos uma votação de uma matéria importante
para o governo, que é a ampliação da meta [fiscal]", disse Temer.
A sessão do Congresso desta terça-feira foi aberta às 11h30 pelo
presidente do Senado, Renan Calheiros. Antes de votar a meta, os deputados
e senadores tiveram que analisar 24 vetos presidenciais que trancavam a pauta e
impediam a análise de novos projetos. (Com Agência Senado)

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