Lula não defendeu Dilma das
críticas de Temer
Josias de Souza
Em conversa com Lula, o vice-presidente Michel Temer atribuiu a Dilma
Rousseff a responsabilidade pelo rompimento do PMDB com o governo. Temer fez um
histórico das atribulações que marcam as relações da presidente com o partido.
Atrasou o relógio para incluir na conversa barbeiragens que vem colecionando
desde o primeiro mandato de Dilma. Crivou-a de críticas. E Lula se absteve de
defender sua criatura. Passou a impressão de concordar com as críticas.
Temer encontrou Lula no último domingo. Como voaria para Brasília,
recebeu-o na sala de autoridades da Base Aérea de Congonhas —é o mesmo local
para onde a Polícia Federal levou Lula quando o inquiriu na condição de
investigado, por ordem do juiz da Lava Jato, Sérgio Moro.
Ao relatar a conversa a integrantes do seu grupo político, Temer contou
que foi franco com Lula. Disse-lhe que já não havia a mais remota chance de
retirar o PMDB da rota do rompimento com o governo. Tampouco seria possível
adiar a reunião do diretório nacional na qual a legenda formalizará o desembarque,
nesta terça-feira.
Numa das críticas que endereçou a Dilma, Temer disse que foi graças a
ela que a reunião do diretório do PMDB, inicialmente prevista para 12 de abril,
foi antecipada. Nessa versão, Dilma afrontou a legenda ao empossar o deputado
mineiro Mauro Lopes, há duas semanas, no cargo de ministro da Aviação Civil.
Dias antes, o partido aprovara em sua convenção nacional uma moção que proibia
os filiados de assumirem cargos novos no governo num intervalo de 30 dias.
Ironicamenrte, Temer já havia tratado desse mesmo assunto com o próprio
Lula. Fizera isso quando o interlocutor lhe telefonara para dizer que,
acomodado por Dilma na chefia da Casa Civil, queria azeitar as relações com o
PMDB. Nesse telefonema, Temer avisara a Lula sobre o desconforto que Dilma
provocara no PMDB ao enfiar dentro do seu ministério um personagem cuja posse
estava desautorizada pela convenção nacional do partido. Lula ficara de
conversar com Dilma. E nada.
Temer também mencionou, como evidência do comportamento belicoso de
Dilma, o afastamento, há cinco dias, do presidente da Fundação Nacional da
Saúde, Antônio Henrique de Carvalho Pires, ligado a ele. O vice foi empilhando
críticas a atitudes inamistosas ou inadequadas de Dilma. E Lula não saiu em
defesa de sua afilhada política.
De volta a Brasília, Temer ofereceu um jantar no Jaburu, sua residência
oficial, aos senadores Romero Jucá e Eunício Oliveira, além do ex-ministro
Moreira Franco. Deu-se ainda na noite do domingo, poucas horas depois da
conversa com Lula. Durante o repasto, Eunício, que lidera a bancada do PMDB no
Senado, propôs que o rompimento com o governo fosse aprovado por aclamação, sem
a necessidade de coletar os votos dos membros do diretório.
Àquela altura, já havia uma maioria consolidada de pelo menos 80% dos
votos a favor do rompimento. Até o presidente do Senado, Renan Calheiros,
última esperança de resistência de Dilma, viu-se compelido a aceitar a fórmula
da aclamação. Numa votação nominal, a minoria pró-Dilma seria exposta em todo o
seu nanismo.

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