Corrupção de campanhas
milionárias desestabiliza a democracia
Carlos Fernando dos Santos Lima
"A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais
formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos". A frase de
Winston Churchill foi proferida em 1947 em um discurso na Câmara dos Comuns.
Constantemente citada em apoio ao formato de governo democrático, ela aponta
não somente para uma verdade histórica, mas também para uma fragilidade
intrínseca à democracia: a sua tendência em degenerar-se em demagogia.
Aliás, a degeneração da democracia, bem como de outras formas puras de
governo, é umas das discussões clássicas em ciência política. Mas as demais
formas de governo não importam. Vamos ficar com a democracia.
É certo que a democracia é flor frágil, de beleza rara, mas muito
suscetível ao seu ambiente. Ela exige cuidados para florescer. Primeiro,
enfrenta sempre ventos autoritários, personalísticos, que veem no caudilho, na
ditadura benevolente, uma solução para os percalços políticos e econômicos de
um país.
Um ditador é sempre fácil de se escolher, porém difícil de remover. E
quem pode garantir sua sabedoria? Com certeza, a democracia não necessariamente
escolhe sábios, mas mantém os escolhidos sob constante escrutínio através de
eleições periódicas.
Além disso, há o poder do dinheiro. Na atualidade, democracia é um
processo caro, que envolve máquinas partidárias, campanhas eleitorais e
políticos profissionais. Apesar de estarmos em pleno século 21, a velha máxima
do pão e circo, base do poder da plutocracia romana, permanece um receituário
constantemente usado por nossos políticos. Assim, campanhas milionárias,
assistencialismo controlado por máquinas partidárias ou por caciques políticos
ou, simplesmente, a distribuição direta de favores econômicos ainda são os
principais componentes do nosso processo eleitoral.
Esse diagnóstico, de uma democracia imperfeita –quando não, ditaduras–,
acompanha a história de nossa República. Seja pela pouca abrangência do voto em
determinados períodos de nossa história, seja por nossa tendência
personalística, seja pelo abuso do poder econômico ou seja ainda pela
corrupção, antes atomizada, agora sistemática. Vivemos uma democracia de
fachada.
Assim, a crítica que muitos fazem à forma democrática de governo está
mais ligada à natureza falha de nosso experimento democrático do que realmente
aos fundamentos dessa forma de governo.
Democracia pressupõe não somente a vontade da maioria, mas,
especialmente, o respeito às minorias. Além disso, é preciso permitir que essa
minoria, através de um processo livre de convencimento, possa chegar a se
constituir maioria. Portanto, democracia implica na necessidade da livre
manifestação do pensamento, da liberdade e pluralidade de imprensa, de eleições
periódicas em todos os níveis e de um sistema verdadeiro de controle do poder
econômico.
Uma forma de abuso do poder econômico, ou melhor, uma maneira de se
alcançar esse poder é a corrupção. A corrupção, portanto, é uma das principais
pragas que ataca a democracia. Ela cria incentivos perversos, pois quando se
percebe que uma pessoa ou um partido está se capitalizando através dessa
prática, outros partidos e pessoas sentem-se legitimados a fazer o mesmo. Ou
seja, ao desnivelar o campo do jogo democrático, ela cria instabilidade no
próprio ambiente em que a democracia atua, numa corrida para "roubar"
mais.
Precisamos de muitas reformas, muitas além das 10 Medidas contra a Corrupção, portanto. Com
certeza, a reforma política é uma delas. Precisamos diminuir o custo das
campanhas políticas, diminuir a influência do dinheiro nas máquinas
partidárias, diminuir o número de partidos políticos, e, realmente, viabilizar
mecanismos de controle de abusos em campanhas eleitorais, assim fortalecendo,
ou melhor, tornando realidade a promessa de uma justiça eleitoral eficiente.
Por fim, o sistema terá de ser remediado pela classe política que aí se
encontra. Todos nós sentimos falta de políticos que possuam reserva moral, como
já tivemos em nossa história. Mas os políticos que aqui estão devem perceber
que os tempos mudaram e que eles devem mudar para não perecer. Agora a
sociedade vai fiscalizá-los, e as instituições, desta vez fortalecidas, estarão
bem mais atentas e capacitadas a fazer valer a Constituição e as leis.

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