Os ministros acovardados
Manoel Hygino
Leandro Mazzini, o bem informado jornalista que cobre Brasília para esta
folha, publicou em sua “Coluna Esplanada”, há poucos dias, nota que terá sido
lida por quem se interessa pelos destinos deste país. Dizia que, com a entrada
(que até hoje não houve, por força de decisões judiciais) de Lula no governo, e
com a efervescência popular dos protestos contra a presidente, o PT enviou seus
principais expoentes sondar o quadro nas Forças Armadas nos últimos dias.
Realmente, a situação no país é de inquietação e as manifestações de rua
se prestam a validar a necessidade da escuta. Há descontentamento em
ponderáveis parcelas da população, mas é sensível a atuação daquele segmento
que se forma nas vias públicas das capitais, com transporte pago para levá-lo
de distantes regiões para hipotecar solidariedade à chefe do governo e ao
ministro não empossado.
Os grampos de conversas entre autoridades são documento precioso para se
avaliar a hora que atravessamos. Esses diálogos levam a conhecimento geral os
planos e atividades de poderosos esquemas criminosos.
As Forças Armadas não pretendem entrar nesse imbróglio perigoso, “a não
ser que sejam convocadas a cumprir com o seu dever”, segundo o senador Jorge
Viana, do PT do Acre. Mas incomoda incontestavelmente que o atual governo tenha
escolhido para ministro da Defesa um integrante do PCdoB, exatamente no
octogésimo aniversário da Intentona de 1935. Esta deixou dores profundas nas
famílias dos militares, mortos inclusive dormindo, nos atos sangrentos daquela
frustrada rebelião.
O próprio Mazzini registra como foi a reação no Ministério da Defesa à
nomeação da ex-deputada Perpétua Almeida, do PCB do Acre, para secretária de
Produtos de Defesa da pasta. Cabe-lhe controlar vultosos contratos relativos à
aquisição de armamentos, munições, veículos e equipamentos, numa área antes
comandada apenas por especialistas.
Uma situação constrangedora, pois. Mas os militares decidiram, para
amenizar – se possível – o clima no ministério, indicar um experiente general
para monitorar de perto as ações da ex-parlamentar, e assim se vai carregando o
andor.
De todo modo, a situação é tênue. Enquanto a assessoria do ministério
nega qualquer tipo de indisposição, a secretária permanece gerindo a base
industrial da Defesa, que conta com 200 fornecedores de grande porte.
Nos altos escalões, o silêncio é total sobre o tema, mas paira no ar o
sintoma de não simpatia. Militar não fala, nem deve, a não ser em última
instância. Mas, em meados de março, o presidente do Supremo Tribunal Federal,
Ricardo Lewandowski, foi o convidado para uma conferência, em Manaus, dos
comandos da região amazônica de fronteira. Nada de mais. Em declaração à
imprensa, o ministro não pôde deixar de emitir opinião sobre a conversa
telefônica gravada, em que Lula acusa os integrantes do STF de estarem
acovardados, o que evidentemente ofendeu os membros da Suprema Corte.

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