Judiciário pode ser o
último recurso de Dilma para não cair
Orion Teixeira
Quem chega agora ao Brasil e se atualiza sobre a situação política não
acredita que a presidente Dilma Rousseff (PT) sairá dessa enrascada em que a
colocaram, claro, com ajuda dela e do próprio governo, e que seu destino será
mesmo o impeachment. Essa é a avaliação que, provavelmente, fizeram nessa
quinta-feira (24) – que, por conta da crise política, deixou de ser santa –, os
seis jornalistas estrangeiros que participaram da entrevista coletiva da
presidente. Em seu estilo aguerrido, Dilma adiantou-lhes que recorrerá a todos
os meios legais para barrar o impeachment, que caminha a toque de caixa na
Câmara dos Deputados.
Como na véspera, quando reuniu juristas que pensam como ela, no Palácio
do Planalto, Dilma não buscou, nem disse como faria, para convencer sua base
aliada a derrubar o processo dentro da própria Câmara, onde se dará a batalha
inicial por seu mandato. A presidente precisa somente de 172 votos dos 513
deputados federais. Pelo que se viu e ouviu, ela não deve ter conquistado um
voto sequer com o discurso desafiador. Pelas posições na entrevista à imprensa
internacional, sinalizou que a batalha política estaria perdida e que sua única
chance seria a judicializacão, ou seja, recorrer ao Supremo Tribunal Federal
(STF) contra o impedimento.
Longe da pressão das ruas e da disputa política, o STF pode ser a única
solução do conflito que deixa hoje em estado de guerra os poderes Executivo e
Legislativo por conta da simplória falta de entendimento político, o que deveria
ser uma prática e habilidade de quem se credenciou a integrá-los.
Se o impeachment é inevitável, também não há garantias de que o
posicionamento sóbrio e de guardião da Constituição deixará os ministros da
Corte Suprema imunes do contaminado ambiente político radicalizado, que nem
mesmo uma semana santa consegue adiar.
Em sua entrevista aos estrangeiros, Dilma fez questão de esclarecer qual
sentido de “golpe” está dando ao impeachment quando acusa a operação que
pretende tirá-la do cargo conquistado pela legitimidade de mais de 53 milhões
de votos. Distinguindo de um golpe militar, comparou-o a uma ruptura da ordem
democrática.
Com isso, conseguiu mexer também com os militares, que, até então,
estavam quietos. Ainda ontem, o comandante do Exército, Eduardo Villas Boas,
chegou a se manifestar, declarando que toda e qualquer atitude da Força será
“absolutamente respaldada no que os dispositivos legais estabelecem, desde a
Constituição até as leis complementares...”. O que em si não representa muita
coisa, até porque, diante do impasse institucional entre o Executivo e
Legislativo, somente o Judiciário, ao qual a presidente recorrerá, poderá dizer
se houve a ruptura democrática ou não.
Dilma não deveria jogar a toalha, mas apostar no diálogo e na recomposição
de sua base aliada no Congresso, até porque, em eventual derrota, o Supremo
poderá lhe devolver o mandato, mas nunca a governabilidade necessária para
administrar o país e seus gravíssimos problemas de ordem política, econômica e
moral.

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