segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

PRA ONDE VAMOS?




Paulo Haddad




Uma recessão muito severa que se aprofunda e se estende por muitos anos pode se transformar numa Grande Depressão. A última Grande Depressão registrada foi a crise econômica das economias capitalistas ocidentais que se estendeu de 1929 a 1939. Destaca-se também a Longa Depressão de 1873 a 1879. Já se tem denominado a crise econômica e financeira que se iniciou em 2008, como a Grande Recessão.
Os últimos resultados do desempenho da economia brasileira em recessão desde 2014, assim como as perspectivas desfavoráveis para 2016 e 2017, levam a perguntar: há risco desta recessão se transformar numa Grande Depressão? Os indicadores econômicos e sociais que caracterizam uma Grande Depressão são assustadoramente dramáticos. As taxas de desemprego podem oscilar em torno de 15 por cento da força de trabalho disponível, chegando a superar os 25 por cento para a população mais jovem e com menor nível educacional. O comportamento dos agentes econômicos mais dinâmicos passa a ser dominado pelo desânimo, pelo desalento e pela desesperança, o que impacta negativamente as propensões a consumir e a investir em novos projetos.
Alguém poderia dizer que são poucas as chances da atual recessão brasileira desembocar numa Grande Depressão. Afinal, há setores da nossa economia responsáveis por poderosas cadeias produtivas que têm condições de manter sua competitividade até mesmo numa conjuntura macroeconômica carregada de inconsistências, de desconfianças e de imprevisibilidades. Entre esses setores destaca-se a exuberância do agronegócio em regiões de nossa fronteira econômica dinâmica. Além do mais, a atual taxa de câmbio, ao se desvalorizar e tornar-se globalmente competitiva, está estimulando a economia de diversos setores e diferentes regiões a ampliar e a diversificar as exportações com seus efeitos multiplicadores. Da mesma forma, o câmbio desvalorizado ativa a substituição de importações de bens e serviços, como no caso do turismo.
Entretanto, há muitas dúvidas no horizonte do próximo biênio. O modelo político de presidencialismo de coalizão se esgotou e perdeu sua capacidade de gestão dos conflitos de interesses entre os grupos sociais, os interesses corporativos e as demandas regionais. Na verdade, a atual distribuição de 39 Ministérios entre 10 partidos representa nada mais que a formação de territórios administrativos onde se pratica um fisiologismo político, um balcão de negócios e um financiamento espúrio de campanhas eleitorais.
Do lado econômico, há dificuldades para se superarem os desarranjos e os desastres induzidos pela nova matriz econômica do primeiro mandato de Dilma Rousseff, que desafiou e confrontou as lógicas da economia mista de mercado e os imperativos de um capitalismo moderno e inclusivo. Os instrumentos econômicos tradicionais da política fiscal e da política monetária vêm perdendo eficácia como mecanismos de controle da inflação e de formação de um novo ciclo de expansão.
Essa combinação da simultânea falência de um modelo econômico, eivado de contradições em sua concepção e implementação, e de um modelo político, carcomido pela corrupção administrativa, faz com que a trajetória de uma Grande Depressão possa estar a caminho com maior probabilidade. Enquanto isto, vão sendo desestruturadas as conquistas sociais e econômicas dos brasileiros obtidas nas duas últimas décadas: as políticas sociais perdem sua força compensatória, a nova classe média perde sua dimensão e as desigualdades sociais vão se aguçando.

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