segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

HARAKIRI ECONÔMICO





José Antônio Bicalho





E o harakiri econômico do governo Dilma continua. Nada muda e continuamos naufragando. É impressionante a capacidade desse segundo governo Dilma de se jogar no abismo abraçado com as ‘crenças do mercado’. Não existe mais ousadia nem esboço de tentativa de fazer diferente. É de dar saudades do Mantega, apesar de seu erro fundamental no câmbio.
Relendo minhas próprias colunas do início do ano, sinto-me um ingênuo. Mesmo sabendo que o novo ministro da economia Nelson Barbosa era uma incógnita político-ideológica, saudei a troca do ortodoxo Levy pelo Barbosa que se vendia desenvolvimentista. Sabia que podia errar, mas ante o baixo astral de 2015, preferi olhar para alguma luz prometida para 2016.
No dia quatro de janeiro, escrevi uma coluna sob o título ‘2016 não está perdido’. Naquele momento, o boletim Focus (pesquisa de expectativas feita pelo BCl) apontava para uma queda do PIB de 2,8%. Afirmei que “as previsões mau agourentas são chutes”. “Teremos um ano difícil, mas o pessimismo profundo e generalizado está descolado da realidade”.
A justificativa era a seguinte: “Como na economia não existe reversão milagrosa, o movimento de queda do PIB do ano passado contaminará inevitavelmente o ano de 2016. Mas essa curva, que vai da queda ao retorno do crescimento, poderá desenhar um “u” mais aberto ou fechado. Prefiro apostar na segunda hipótese, de uma recuperação rápida e vigorosa”.
Estava, na verdade, falando da esperança de Joaquim Barbosa ser um marco de mudança e reversão de expectativas. Pois bem. O ministro da Economia que na última sexta-feira anunciou que fará um contingenciamento de R$ 23,4 bilhões nas despesas discricionárias do governo em 2016 (nos gastos não obrigatórios), o equivalente a 0,4% do PIB, não corresponde nem de longe às nossas expectativas do início de ano.
A desaceleração econômica, gerada pelo fim do ciclo positivo das commodities, redundou em queda de arrecadação, que por sua vez se tentou equilibrar desde janeiro do ano passado (posse do Levy) com cortes nos investimentos, que mais uma vez gerou desaceleração e queda na arrecadação, e assim vamos mergulhando num poço que não tem fundo. Investimento em infraestrutura, redução de juros, política de ampliação de crédito e injeção de liquidez na economia via uso das reservas, dirão alguns dos meus caros e inteligentes amigos conservadores (e não há qualquer ironia aqui), é “populismo econômico”. Não, caros. Se uma agenda positiva inversa ao ajuste fiscal não for adotada com urgência, não sairemos do atoleiro. E correremos o risco de em mais alguns meses defrontarmos com uma economia e um caixa de governo tão fracos que não teremos mais como reagir.
No finalzinho do ano passado, em 29 de dezembro, escrevi sobre um artigo publicado no Valor Econômico de autoria do economista-chefe para a América Latina da agência Standard & Poor’s, Joaquin Cottani. Sua tese de mudança radical era baseada em três pilares (todas para conter a gigantesca sangria do dinheiro público para engordar especuladores). “1 – Suspensão imediata da venda de swaps cambiais; 2 – Redução da taxa Selic dos atuais 14,25% ao ano para 7,25%; 3 – Remuneração das operações de recompra de títulos da dívida pelo BC junto aos bancos comerciais (os chamados ‘repos’) à taxa inferior às de mercado, o que na prática significaria um freio nesse tipo de operação.
A estas eu acrescento usar uma bela fatia das reservas cambiais, de incríveis e recordes US$ 350 bilhões (algo próximo a R$ 1,4 trilhão) para sustentar um grandioso programa de obras de infraestrutura, financiamento do aumento da capacidade instalada das indústrias e crédito ao consumo. Mas para isso falta a ousadia que Barbosa teima em demonstrar que não tem. Melhor seria chamar de volta o Mantega.
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