José Antônio Bicalho
E o harakiri econômico do governo
Dilma continua. Nada muda e continuamos naufragando. É impressionante a
capacidade desse segundo governo Dilma de se jogar no abismo abraçado com as
‘crenças do mercado’. Não existe mais ousadia nem esboço de tentativa de fazer
diferente. É de dar saudades do Mantega, apesar de seu erro fundamental no
câmbio.
Relendo minhas próprias colunas do
início do ano, sinto-me um ingênuo. Mesmo sabendo que o novo ministro da
economia Nelson Barbosa era uma incógnita político-ideológica, saudei a troca
do ortodoxo Levy pelo Barbosa que se vendia desenvolvimentista. Sabia que podia
errar, mas ante o baixo astral de 2015, preferi olhar para alguma luz prometida
para 2016.
No dia quatro de janeiro, escrevi uma
coluna sob o título ‘2016 não está perdido’. Naquele momento, o boletim Focus
(pesquisa de expectativas feita pelo BCl) apontava para uma queda do PIB de
2,8%. Afirmei que “as previsões mau agourentas são chutes”. “Teremos um ano
difícil, mas o pessimismo profundo e generalizado está descolado da realidade”.
A justificativa era a seguinte: “Como
na economia não existe reversão milagrosa, o movimento de queda do PIB do ano
passado contaminará inevitavelmente o ano de 2016. Mas essa curva, que vai da
queda ao retorno do crescimento, poderá desenhar um “u” mais aberto ou fechado.
Prefiro apostar na segunda hipótese, de uma recuperação rápida e vigorosa”.
Estava, na verdade, falando da
esperança de Joaquim Barbosa ser um marco de mudança e reversão de
expectativas. Pois bem. O ministro da Economia que na última sexta-feira
anunciou que fará um contingenciamento de R$ 23,4 bilhões nas despesas
discricionárias do governo em 2016 (nos gastos não obrigatórios), o equivalente
a 0,4% do PIB, não corresponde nem de longe às nossas expectativas do início de
ano.
A desaceleração econômica, gerada pelo
fim do ciclo positivo das commodities, redundou em queda de arrecadação, que
por sua vez se tentou equilibrar desde janeiro do ano passado (posse do Levy)
com cortes nos investimentos, que mais uma vez gerou desaceleração e queda na
arrecadação, e assim vamos mergulhando num poço que não tem fundo. Investimento
em infraestrutura, redução de juros, política de ampliação de crédito e injeção
de liquidez na economia via uso das reservas, dirão alguns dos meus caros e
inteligentes amigos conservadores (e não há qualquer ironia aqui), é “populismo
econômico”. Não, caros. Se uma agenda positiva inversa ao ajuste fiscal não for
adotada com urgência, não sairemos do atoleiro. E correremos o risco de em mais
alguns meses defrontarmos com uma economia e um caixa de governo tão fracos que
não teremos mais como reagir.
No finalzinho do ano passado, em 29 de
dezembro, escrevi sobre um artigo publicado no Valor Econômico de autoria do
economista-chefe para a América Latina da agência Standard & Poor’s,
Joaquin Cottani. Sua tese de mudança radical era baseada em três pilares (todas
para conter a gigantesca sangria do dinheiro público para engordar especuladores).
“1 – Suspensão imediata da venda de swaps cambiais; 2 – Redução da taxa Selic
dos atuais 14,25% ao ano para 7,25%; 3 – Remuneração das operações de recompra
de títulos da dívida pelo BC junto aos bancos comerciais (os chamados ‘repos’)
à taxa inferior às de mercado, o que na prática significaria um freio nesse
tipo de operação.
A estas eu acrescento usar uma bela
fatia das reservas cambiais, de incríveis e recordes US$ 350 bilhões (algo
próximo a R$ 1,4 trilhão) para sustentar um grandioso programa de obras de
infraestrutura, financiamento do aumento da capacidade instalada das indústrias
e crédito ao consumo. Mas para isso falta a ousadia que Barbosa teima em
demonstrar que não tem. Melhor seria chamar de volta o Mantega.
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