Ricardo Galuppo
No curto período em que a Hungria
viveu sob o domínio do comunista Béla Kun, no início do século passado, um
agrônomo recebeu a missão de plantar laranjais às margens do lago Balaton. O
rapaz tentou se esquivar da tarefa. Argumentou que o clima frio da região era
inadequado e que laranjais morreriam tão logo os ventos frios do inverno
começassem a soprar. Como resposta, ouviu que o partido já havia tomado a
decisão e tudo o que ele tinha que fazer era obedecer. As árvores foram, então,
plantadas. Mas morreram antes que a primeira nevasca caísse. Os comunistas,
então, prenderam e mandaram enforcar o agrônomo. Afinal, ele havia se oposto
desde o início à ordem do partido. E se as plantas tropicais não suportaram o frio,
certamente foi porque ele boicotou a ideia.
Essa história, por absurda que pareça,
é real. Ela foi contada na abertura do livro Os Laranjais do Lago Balaton, do
cientista político francês Maurice Duverger. E, muito embora não exista no
Brasil um partido com força suficiente para mandar para a forca os que se
recusam a contrariar sua lógica, com certeza tem companheiro por aí que
adoraria estar no lugar dos que mandaram executar o agrônomo. Essa é a ideia
que se tem quando se acompanha os destemperos praticados em nome da tentativa
de preservar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva das denúncias de têm
caído sobre ele.
Triplex no Guarujá
É ingenuidade do PT imaginar que pode
livrar seu grande líder do chumbo grosso que, com base em manifestações como a
que se viu na porta do Fórum da Barra Funda, em São Paulo. Como se sabe, o
ex-presidente deveria ter estado lá na quarta-feira passada para explicar a
história mal contada de um triplex cuja propriedade é atribuída a ele, no
balneário do Guarujá. Lula não foi. Os chicaneiros contratados por ele agiram e
o ex-presidente não precisou depor. Mas, ao se recusar a falar do assunto,
deixou no ar a sensação de não ter como se defender da acusação. E olha que a
história do apartamento é bem menos cabeluda do que a do tal sítio, cuja
propriedade também é atribuída a ele, no município de Atibaia.
Vinhos caros
O mais intrigante nesse enredo que
está muito longe de chegar ao fim é a súbita revelação de detalhes que só
podiam ser conhecidos ou por quem recebeu ou por quem fez os favores. Nem os
jornalistas, nem o Ministério Público nem os vizinhos do sítio saberiam, por
exemplo, que o engenheiro que tocou a reforma do sítio é funcionário da
Odebrecht se alguém, ou pelo lado de Lula ou pelo lado da empreiteira, não tivesse
providenciado o vazamento da informação. Será que a origem da informação é dona
Marise Letícia ou algum amigo de Lula? Pouco provável.
Embora os companheiros petistas não
tenham, como tinham os asseclas de Béla Kun, o poder de mandar matar os que
participaram de seus projetos fracassados, eles estão cometendo erros
colossais. Antes de acusar a oposição, deveriam verificar a origem dos
vazamentos. Se conseguirem recolher o fio do novelo, provavelmente encontrarão,
na outra ponta, gente com quem, até outro dia, se sentavam na mesa para tratar
de negócios e degustar vinhos caros.

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