terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

NINGUÉM QUER RESOLVER OS NOSSOS PROBLEMAS




Manoel Hygino



Engana-se rotundamente quem acha que os problemas do Brasil não têm solução. Pessimismo, alarmismo ou catastrofismo. Há propostas concretas à vista. Nilcemar Nogueira, neta de Cartola e Dona Zica, sugere por exemplo a criação da Academia Brasileira do Samba.
Tem pedigree a moça, como se vê, além de experiência. Está à frente do Museu do Samba, no Rio de Janeiro – claro – e do Centro Cultural Cartola. Ex-gestora da cozinha do Hospital do Câncer, doutoranda em psicologia social, insiste afirmar que não é neta biológica de Cartola, que apenas a criou ao lado de Dona Zica, de fato a avó.
Tudo isso é tão importante e precioso, que as pessoas terminam por não valorizar fatos cotidianos, ignorar o “estado democrático de direito”, expressão tão em moda nos círculos parlamentares ou na roda das “lideranças sindicais”, composta por cidadãos, alguns dos quais não têm por hábito trabalhar e dar duro.
Nesta época em que se preconiza uma crise maior do que a que vivemos, pode-se deduzir que nem tudo está perdido. Já começam os tamborins e tambores a anunciar que o carnaval está chegando, e a periferia se aproxima dos bairros das cidades grandes para confirmar que haverá alegria e prazer no tríduo momesco, que por sinal não se restringe somente a três dias.
Ninguém lembrará que ainda há risco de racionamento de água, que os mananciais secaram que o preço da energia, do feijão e da carne são altos, que houve acréscimo nas tarifas de coletivos, que os tributos sobre as bebidas aumentaram, que as autoridades constituídas perderam o rumo, depois de perderem a consciência do seu papel na sociedade.
A mídia oferece diariamente um rol imenso de divertimentos, algo que jamais se viu, demonstrando que estamos no melhor dos mundos como imaginava um personagem da literatura francesa. Por que e para quê pensar o pior ou o mais difícil? Ninguém reclamará do IPTU que chegou pesado ou do IPVA, da elevação de custos do material escolar. Não adianta chorar ou lastimar, porque a hora é de folgar, cantar e pular. O resto fica para depois...
Daqui a pouco, sumirão as manchas de lama do rompimento da barragem de Bento Rodrigues das telas das tevês e nas páginas dos jornais, ou o espectro dos que padecem com a maior onda de calor da história, segundo observatórios internacionais, além das tormentas do Sul ou com a seca de anos no Nordeste. Sobre Saúde e Segurança. Não é bom lembrar. Agora é folia.
E o desemprego, dizer o que? Milhares, que somam milhões, já não têm remuneração, nem sabem quando e onde encontrarão um novo vínculo empregatício. Viver de quê, sobreviver com quê? São perguntas que se fazem todas as horas, em todos os lugares, enquanto se discute o valor da bolsa família como se estas fossem a salvação da pátria.
Aos meios de comunicação não faltará assunto. O processo político está atravancado e ampliam-se denúncias e acusações nos quintais partidários. Ter-se-á tempo pelo menos para escolher candidatos às eleições de outubro. Não vamos cair na esparrela, mais uma vez. Pelo menos e espera. Chega.

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