quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

SOMOS UM ZERO À ESQUERDA




Márcio Doti




Tenho ouvido esta pergunta com frequência cada vez maior. Diante de cada absurdo que surge nessa sucessão de escândalos, de fatos comprometedores e inimagináveis tentativas de dissimulação, os cidadãos estão a cada dia mais assustados. E o que dizem, o que questionam tem muita razão de ser. Não há como aceitar tantas coincidências, para serem absorvidas por milhões de pessoas que acompanham o evoluir dos fatos e se dizem incapazes de compreender como tanta coisa errada passou debaixo da ponte sem que nada vissem ou tomassem parte aqueles que são ou foram os responsáveis pela vigilância, pelo controle de tudo.
É verdade que existe um contingente pequeno que prefere acreditar que tudo não passa de “intriga da oposição”. Há os que fazem isso por uma crença absoluta nos ídolos que não pretendem destruir, ainda que alguns deles já tenham sido até condenados pela Justiça, tenham ficado ou estão presos, cumprindo as penas que receberam. E também acreditam naqueles que vivem uma liberdade provisória, por mais que tenham situações complicadas a passar pelo crivo da Justiça, ainda estão soltos e serão sempre inocentes aos olhos desses de boa-fé e também aqueles de absoluta má-fé, beneficiários de favores e condições que resultam da manutenção dessas pessoas nos postos chaves de que ainda desfrutam.
Expectadores distantes ousam considerar que essa fase difícil da vida nacional será um dia descrita como um tempo em que vários fatores se conjugaram para produzir um entorpecimento coletivo nascido de várias frentes. O primeiro deles é que se juntaram iguais e semelhantes a patrocinar impunidade e garantir regalias numa conjugação de poder que está construindo uma realidade insustentável por longo tempo. Nem os bilhões que estão sendo investidos na montagem de um falso cenário de aquecimento econômico serão capazes de apagar os danos que o momento produzirá para futuro próximo.
Ao longo de muito tempo, foram construídas as bases para o cenário desagradável que se implantou na vida nacional. Não há outra forma de explicar tantas coisas ruins ao mesmo tempo. O presidente que saiu, o ex-presidente Lula está sendo cercado por indícios, fatos, acusações e constatações que tornam difícil a manutenção de sua auto declarada pureza. A atual presidente, Dilma Rousseff, chegou à reeleição a poder de mentiras constatadas logo após o resultado das urnas. O presidente do Senado, Renan Calheiros, tem sobre sua cabeça suspeitas de participação no megaescândalo da Petrobras, um dos maiores espetáculos deprimentes dos últimos 12 anos, a ele se juntando aqueles outros em processo de apuração quais sejam a venda de medidas provisórias, os financiamentos do BNDES a grandes financiadores da campanha eleitoral de 2014, os grandes contratos de grandes empreiteiras nacionais, também financiadas com juros subsidiados pelo banco de fomento que deveria socorrer, isto sim, as empresas nacionais necessitadas de estímulo e apoio. Juntemos ao grupo o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, sob risco de perda de cargo e mandato por ter sido apanhado com dinheiro na Suíça por autoridades daquele país. O governador de Minas, Fernando Pimentel, personagem de vários relatórios da Polícia Federal, do Ministério Público e da comissão de inquérito da Câmara dos Deputados. Ele, sua esposa Carolina de Oliveira, seu amigo e grande beneficiário de contratos governamentais, Benedito de Oliveira.
Como pode o brasileiro conviver e seguir em frente com tantos absurdos postos juntos? Será apenas em função de um recesso que agora chega ao fim? Ou será fruto de uma conjunção de fatores que caminha apenas para a direção da impunidade? E diante de tudo isto, vale mesmo perguntar: afinal, o que somos?

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