Márcio Doti
Tenho ouvido esta pergunta com
frequência cada vez maior. Diante de cada absurdo que surge nessa sucessão de
escândalos, de fatos comprometedores e inimagináveis tentativas de
dissimulação, os cidadãos estão a cada dia mais assustados. E o que dizem, o
que questionam tem muita razão de ser. Não há como aceitar tantas
coincidências, para serem absorvidas por milhões de pessoas que acompanham o
evoluir dos fatos e se dizem incapazes de compreender como tanta coisa errada
passou debaixo da ponte sem que nada vissem ou tomassem parte aqueles que são
ou foram os responsáveis pela vigilância, pelo controle de tudo.
É verdade que existe um contingente
pequeno que prefere acreditar que tudo não passa de “intriga da oposição”. Há
os que fazem isso por uma crença absoluta nos ídolos que não pretendem
destruir, ainda que alguns deles já tenham sido até condenados pela Justiça,
tenham ficado ou estão presos, cumprindo as penas que receberam. E também
acreditam naqueles que vivem uma liberdade provisória, por mais que tenham
situações complicadas a passar pelo crivo da Justiça, ainda estão soltos e
serão sempre inocentes aos olhos desses de boa-fé e também aqueles de absoluta
má-fé, beneficiários de favores e condições que resultam da manutenção dessas
pessoas nos postos chaves de que ainda desfrutam.
Expectadores distantes ousam
considerar que essa fase difícil da vida nacional será um dia descrita como um
tempo em que vários fatores se conjugaram para produzir um entorpecimento
coletivo nascido de várias frentes. O primeiro deles é que se juntaram iguais e
semelhantes a patrocinar impunidade e garantir regalias numa conjugação de
poder que está construindo uma realidade insustentável por longo tempo. Nem os
bilhões que estão sendo investidos na montagem de um falso cenário de
aquecimento econômico serão capazes de apagar os danos que o momento produzirá
para futuro próximo.
Ao longo de muito tempo, foram
construídas as bases para o cenário desagradável que se implantou na vida
nacional. Não há outra forma de explicar tantas coisas ruins ao mesmo tempo. O
presidente que saiu, o ex-presidente Lula está sendo cercado por indícios,
fatos, acusações e constatações que tornam difícil a manutenção de sua auto
declarada pureza. A atual presidente, Dilma Rousseff, chegou à reeleição a
poder de mentiras constatadas logo após o resultado das urnas. O presidente do
Senado, Renan Calheiros, tem sobre sua cabeça suspeitas de participação no
megaescândalo da Petrobras, um dos maiores espetáculos deprimentes dos últimos
12 anos, a ele se juntando aqueles outros em processo de apuração quais sejam a
venda de medidas provisórias, os financiamentos do BNDES a grandes
financiadores da campanha eleitoral de 2014, os grandes contratos de grandes
empreiteiras nacionais, também financiadas com juros subsidiados pelo banco de
fomento que deveria socorrer, isto sim, as empresas nacionais necessitadas de
estímulo e apoio. Juntemos ao grupo o atual presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha, sob risco de perda de cargo e mandato por ter sido apanhado com
dinheiro na Suíça por autoridades daquele país. O governador de Minas, Fernando
Pimentel, personagem de vários relatórios da Polícia Federal, do Ministério
Público e da comissão de inquérito da Câmara dos Deputados. Ele, sua esposa
Carolina de Oliveira, seu amigo e grande beneficiário de contratos
governamentais, Benedito de Oliveira.
Como pode o brasileiro conviver e
seguir em frente com tantos absurdos postos juntos? Será apenas em função de um
recesso que agora chega ao fim? Ou será fruto de uma conjunção de fatores que
caminha apenas para a direção da impunidade? E diante de tudo isto, vale mesmo
perguntar: afinal, o que somos?
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