Orion Teixeira
O ano político recomeçou nessa
segunda, em Brasília, com a sensação de que 2015 ainda não acabou, ao herdar os
mesmos problemas para serem resolvidas em 2016. Impeachment da presidente
Dilma, afastamento ou cassação de Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara
dos Deputados, “Lava Jato” chegando ao andar de cima e uma crise econômica sem
precedentes. Se os problemas e os protagonistas dessas crises são os mesmos por
que razão o novo ano será diferente?
O pedido de impeachment perdeu força,
sim, como reconheceu o vice-presidente Michel Temer, maior interessado no
desfecho, mas ainda não está enterrado. O Supremo Tribunal Federal (STF)
regulamentou as regras e mandou que fosse reiniciado na Câmara dos Deputados,
sob a presidência de Eduardo Cunha ou de quem sucedê-lo, caso, e se, ele for
afastado. Cabe ao governo Dilma ter a mínima capacidade política de reunir 172
votos necessários para ter recomeço.
O afastamento de Cunha depende do STF,
já que na Câmara, enquanto for presidente, ele irá manobrar para não ser
cassado. A operação “Lava Jato”, que investiga os malfeitos na Petrobras, já
tem cinco parlamentares na mira e outras dezenas, o que pode igualmente
paralisar o Legislativo. A crise econômica continua a desafiar a liderança
política. Mais do que indicadores – desemprego, queda na arrecadação e nos
investimentos, entre outros –, a solução requer confiança de que a presidente e
seu governo retomarão o comando das mudanças adiadas por conta da crise
política.
Muito mais do que 172 votos e medidas
assertivas, o país ainda se ressente da falta de uma liderança política capaz
de conduzi-lo a um projeto nacional. Sem a credibilidade, a palavra chave, não
se vai a lugar algum nem mudanças serão feitas. Na semana passada, a presidente
Dilma apresentou três ideias-força para apontar um possível caminho ao país:
crédito, a reedição da CPMF e a reforma da Previdência.
No primeiro caso, é difícil convencer
a quem está endividado a tomar mais empréstimos; no segundo, a CPMF, é
rejeitada pela maioria do Congresso Nacional e o empresariado. Por último, a
reforma da Previdência é bombardeada pelos aliados do governo, a começar por
seu partido, o PT, os movimentos sociais e centrais sindicais. Tudo somado,
reflete a base do sentimento da sociedade, que, agora, volta com força total ao
Congresso após o recesso. Deputados e senadores voltam a Brasília com a orelha
quente de tanto ouvir reclamos em suas bases.
Se a receita da presidente para o
enfrentamento da crise é recepcionada dessa forma, o ambiente tende a ser ruim
como foi em 2015. Antes de avançar em suas propostas, ou de fazer outras, Dilma
precisa recuperar algum do cacife político que perdeu após ser eleita e no
primeiro ano de governo. Agora, no início do segundo ano do segundo mandato,
seu governo parece velho a dois anos e 11 meses de acabar.
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