Eduardo
Costa
Nós, da mídia, somos pagos para
apontar defeitos, sugerir correções e cobrar providências. Tudo isso, claro, em
trabalho de reportar (lembrar) e transmitir (propagar) os fatos. Penso que a
contrapartida que devemos oferecer à sociedade é estar minimamente informado
para contribuir no debate dos temas, sem caluniar ou ofender, e sempre atentos
a atos e omissões para admitir também as nossas faltas. Assim é que, hoje,
quero assumir a minha parcela, como repórter, no rol de erros que resultaram na
tragédia da Samarco em Mariana.
E faço isso no dia em que a Rádio
Itatiaia comemora 64 anos para deixar bem clara a distinção entre os interesses
econômicos da empresa e a minha liberdade de trabalhar. Aquela frase dita em 20
de janeiro de 1952 por Januário Carneiro – “Nós vendemos espaço, não vendemos
opinião” – segue sendo um lema da casa e quero reiterá-lo.
Nos 30 anos em que nela estou como
colaborador, nunca fui impedido de tratar de um assunto apenas porque o patrão
não queria. Há, sim, ponderações, boa vontade com os parceiros, freios de
arrumação quando o assunto, apesar de render ibope, pode significar riscos à
integridade de terceiros, enfim, situações que exigem responsabilidade.
Censura, não! E posso encher a boca para dizer que também não acontece na Rede
Record e no Hoje em Dia.
A culpa que tenho como profissional de
mídia é não ter encontrado tempo e disposição para, nas últimas décadas, ser
mais incisivo na cobrança em relação a critérios de licenciamento e
comportamento da mineração. Deveria, em 2007, ter discutido com o governo do
Estado a construção da barragem de rejeitos de Fundão sem projeto definitivo.
Devia ter ido qualquer dia a Bento
Rodrigues para denunciar a proximidade daquelas vidas com o monte de lama;
devia ter ouvido especialistas sobre a possibilidade de um rompimento como
aquele resultar em contaminação de todo um rio da grandeza do Doce; devia ter
perguntado à polícia, ao Ministério Público e a ao Judiciário sobre punições a
outras empresas por desastres semelhantes, de menor repercussão, mas também
graves.
Posso apresentar a “des” culpa da
falta de tempo, ritmo alucinante da rotina diária, falta de estrutura das
empresas nas quais trabalho e muito mais. Prefiro, no entanto, assumir a culpa
de não ter feito. E questionado meus superiores, afinal, se agora temos tantas
equipes para cobrir a lama, por que não conseguimos uma para prevenir?
Ainda hoje, muitas perguntas estão no
ar, em relação à Samarco e toda a mineração. Faço minhas as palavras do grande
Apolo Heringer Lisboa: “A tragédia da Samarco é fruto de um tempo em que
mineradora manda na Federação das Indústrias, pauta governos e ganha mais
aplausos que questionamentos da mídia”.
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