terça-feira, 12 de janeiro de 2016

TEMPESTADE PELO PODER



  

Malco Camargos



Finalmente, a política deu alguns dias de paz aos atores principais, aos coadjuvantes e também à plateia. O recesso no Legislativo e no Judiciário foi capaz de apaziguar os ânimos neste início de 2016.
Contudo, a calma vivida na política atualmente parece aquele período que antecede a uma tempestade. Assim que o Carnaval passar, no início de fevereiro, com o retorno dos trabalhos no Congresso e nos tribunais, o cenário voltará a ser de muita turbulência.
Logo no início dos trabalhos legislativos, o primeiro tema em embate será interno, mas de grande importância simbólica: a eleição do líder do PMDB. A dúvida é se a liderança do partido continuará nas mãos do grupo que apoia a presidente Dilma ou se a bancada será comandada pelos que seguem o quase deposto presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Não obstante, a disputa é mais simbólica do que real, uma vez que o líder pode apontar a direção do voto da bancada, mas não é capaz de decidir pelos parlamentareis do partido individualmente. Em outras palavras, caso vença um lado ou outro, o PMDB continuará a ser o PMDB de sempre, articulando individualmente e com pouca coesão na hora de votar. Ao que tudo indica, o partido continuará dividido em 2016.
Paralelamente a questões internas do PMDB, o Legislativo viverá questões de suma importância. A primeira delas será o trâmite do processo de impedimento da presidente Dilma. O rito definido pelo Supremo Tribunal Federal começará a ser colocado em prática e culminará com a votação em plenário, no qual o governo precisará de 170 votos para liquidar o processo naquela casa. Caso não obtenha esse quórum, dependerá da votação de maioria simples no Senado e, caso o processo prossiga, de mais de 1/3 dos votos da Câmara Alta.
Com impactos diretos na política, teremos também, logo no início do ano legislativo, que lidar com os atos da Operação Lava-Jato e da Procuradoria Geral da República, que cada vez mais chega perto de atores da política. A começar pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, passando pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, e também de um número ainda desconhecido de deputados e senadores. Em 2016, poderemos ter uma avalanche de processos e cassações na esfera política.
Como se não bastasse, em 2016 teremos eleições municipais e, como vários membros do Executivo serão candidatos, uma reforma ministerial deve vir logo no início do ano para dar vez àqueles que querem disputar mandatos nas eleições.
Todos estes atos políticos acontecem concomitantemente com um cenário externo adverso, com a crise na economia da China e, também, a queda dos preços das commodities. Estes fatores, somados a questões internas em que a economia vem sendo marcada pela recessão, inflação e desemprego crescente, trazem maus prognósticos para o ano que se inicia.
Apesar da calma que antecede todas essas tempestades, dizem que depois que a chuva cai vem a bonança. Seguimos esperando e orando.
*Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver


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