A Quarta Revolução
Industrial
Ronaldo Lemos
Boa leitura para começar 2016: o livro "The Fourth Industrial
Revolution" (a quarta revolução industrial), do alemão Klaus Schwab.
Economista e engenheiro, ele é conhecido mesmo por ser o diretor do Fórum
Econômico Mundial, baseado em Genebra.
Para escrever o livro ele consultou boa parte da poderosa rede de
conexões do Fórum e fez um apanhado das transformações estruturais que seus
integrantes esperam ver nos próximos anos.
Schwab advoga que a palavra "revolução" é apropriada. O termo
denota mudanças abruptas e radicais, como aquelas geradas pela invenção da
agricultura ou do motor a vapor. Só que a "quarta revolução
industrial" tende a ser ainda mais profunda. Há ondas vindo de vários
lugares e simultaneamente: nanotecnologia, energia renovável, engenharia
genética, computação quântica etc. Antes eram necessárias décadas para que uma
transformação desse calibre se espalhasse. Hoje, não mais.
O livro aponta três elementos propulsores: fatores físicos, digitais e
biológicos. Dentre os físicos, vale destacar o desenvolvimento de novos
materiais como o grafeno. Ele é 200 vezes mais resistente que o aço e um milhão
de vezes mais fino que um fio de cabelo. Quando seu preço cair (hoje é um dos
materiais mais caros do planeta), mudará a indústria e a infraestrutura.
Os fatores digitais são mais perceptíveis. Em poucos anos os celulares
conectados à internet provocaram uma reorganização de diversos aspectos da
vida, como o transporte urbano. E isso é só o começo.
Já as transformações no campo da biotecnologia são mais difíceis de
visualizar. No entanto, são aquelas cujo potencial transformador é mais radical
(e preocupante). Por exemplo, foi preciso esperar dez anos para terminar o
sequenciamento do genoma humano, ao custo de US$ 2,7 bilhões. Hoje, o
sequenciamento genético de um organismo pode ser feito em menos de um dia e a
um custo de menos de US$ 1.000.
O próximo passo, no entanto, é a biologia sintética, com a evolução de
técnicas como a chamada CRISPR/Cas9, que permitem "editar" o código
genético de um ser vivo (incluindo o nosso). Com isso, será possível erradicar
doenças e até mesmo retardar o envelhecimento, de acordo com os mais otimistas.
Tudo isso traz questões éticas difíceis. Aperfeiçoar a democracia e os
modelos de tomada de decisão para acompanhar esses desafios torna-se uma tarefa
crucial nesse contexto. Mais do que nunca, os países que quiserem se
desenvolver, como o Brasil, precisarão criar normas que sejam amigáveis à
inovação, tema hoje relegado a segundo plano no país.
Entre nós acontece um triste fenômeno: somos ávidos consumidores de
tecnologia, mas medíocres produtores. Enquanto ciência, tecnologia e inovação
não se tornarem fatores para a promoção do desenvolvimento do país, aqui e
agora, ficaremos para trás da quarta e de qualquer outra revolução industrial
vindoura.
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