Luciano Luppi
Quanto vale uma obra de arte? Quanto
vale uma pintura numa tela? Uma escultura? Quanto vale uma entrada para uma
peça de teatro? Para um show musical? Quanto vale um ingresso para assistir a
um filme no cinema? Ao fazer essas perguntas, estou me referindo a apenas ao
valor monetário, pois é evidente que os valores expressivos, simbólicos,
sociais, psicológicos, estéticos, históricos e outros são enormes e bem mais
difíceis de avalizar.
Focando estes questionamentos apenas
nas artes plásticas, pergunto: o que faz um quadro de Van Gogh valer R$ 201
milhões, enquanto o produto de um outro pintor da mesma época, com o mesmo
nível de refinamento artístico, mas pouco conhecido, custa infinitamente menos?
Para complicar ainda mais: o que faz um quadro do próprio Van Gogh, com os
famosos girassóis, valer admiravelmente mais que outro quadro do mesmo artista,
indiscutivelmente com o mesma qualidade? O que fez esta pintura se tornar
famosa e valer uma fortuna impressionante? Com certeza não será pelos
girassóis, nem pelo tema, nem pelo apuro técnico, nem pelo autor e nem pela
época (pois, como se sabe, o próprio autor só vendeu uma tela durante a sua
breve vida).
Não se discute a qualidade nem a
importância de Van Gogh, apenas se interroga sobre as desigualdades absurdas
nos valores praticados no mercado, quer sejam entre pinturas do mesmo artista
ou entre outros artistas. Mesmo não tendo sido reconhecido no seu tempo, a vida
e a obra deste genial autor já foi cantada em verso e prosa por todos os cantos
do mundo. Sua vida atribulada e miserável já deixou sua marca na história da
humanidade, e o mercado das artes plásticas se alimenta de histórias,
verdadeiras ou não, sobre a vida e as obras dos artistas, suas excentricidades,
suas glórias e tragédias.
Alimenta-se, também, da trajetória de
circulação de determinadas obras por quais mãos elas passaram, a quem elas
pertenceram, quais reis, magnatas, homens e mulheres famosos delas se serviram
ou se locupletaram.
Alimenta-se, ainda, da especulação
financeira, quer seja lícita ou não, do jogo de valoração intencional explorado
por investidores, marchand, galeristas, curadores, críticos especializados,
colecionadores e até artistas.
Este mercado alimenta-se de tantas
coisas, tantos interesses excrescentes à própria arte, que não fica difícil
entender porque existem disparidades imensas na sua precificação. E será assim
com todas as artes? Ou existem diferenças significativas em cada uma das
atividades?
Como cada área artística tem necessidades
e trajetórias específicas, é natural que a especulação financeira envolvida em
cada um desses segmentos passe por outros canais e outros filtros, mas o
assunto é bastante complexo e exigiria um outro artigo.
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