Márcio Doti
Quem busca, de fato, uma solução para
o Brasil sabe que impeachment é apenas um possível elemento entre os tantos
necessários para ordenar a vida do país. Há tantos desacertos, que é pouco o
afastamento de um presidente, por mais grave que seja a medida, democrática e
nunca golpista, como querem rotular os malabaristas de sempre. Os sintomas que
estão por toda parte mostram que trocar uma peça nesse tabuleiro viciado talvez
seja apenas caminho de um fôlego sem, contudo, significar solução para a
necessidade de endireitamento da vida nacional. Por mais que existam milhões
querendo isso e apenas uns poucos oportunistas condenando a medida, por mais
que exista uma imensa torcida, mesmo vencidas as cascas de banana colocadas no
caminho, ainda será pouco para os que pretendem ver o Brasil consertado.
O que pensar de um país onde um
senador da República, Delcídio do Amaral, na importante posição de líder do
governo, é apanhado em escutas combinando até subornos e estradas de fuga para
alguém apanhado no centro do escândalo da Petrobras, Nestor Cerveró,
manipulador de milhões e milhões de reais e dólares, intermediador de operações
criminosas e delator, cujas informações levaram até ao próprio Delcídio.
E há quem diga que esse senador
importante da cúpula de governo só teve prisão autorizada porque nas gravações
ele revelou intimidade com ministros de nossas altas cortes e é preciso
acrescentar que tal senador deveria estar preso nas celas da Polícia Federal,
em Curitiba, mas foi transferido sob a alegação de que um barulho o incomodava.
Ele está hoje ocupando instalações do quartel do Batalhão de Trânsito da
Polícia Militar de Brasília. Ninguém duvide se estiver sendo tratado de
“excelência”.
O país à espera dos consertos que
todos desejamos está assistindo a todos os preparativos e medidas possíveis
para facilitar a vida de criminosos e até constranger agentes da lei. Advogados
de bandidos se juntam para publicar uma carta em que fazem críticas abertas ao
juiz federal que comanda a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, em conjunto
com o Ministério Público Federal e com a Justiça Federal, baseada em Curitiba.
Prova indiscutível de que o país precisa mais que mudar de presidente.
E por falar em Dilma, ela editou
medida provisória que facilita a vida dos empresários apanhados pela Lava Jato
ao contrariar artigo da Lei Anticorrupção e permitir que suas empresas tenham
relações comerciais com o serviço público. E, de igual modo, a presidente
sancionou lei que dá acesso a advogados a qualquer processo que corra em
qualquer instituição em claro favorecimento de bandidos que estejam sendo
rastreados, cujas operações poderão ser identificadas e documentos poderão ser
acessados por seus advogados.
Há muito mais do que isto. Há muita gente
cujos processos estão parados ou caminhando em marcha lenta e que continua
exercendo mandatos quando, em verdade, já deveria ter sido afastada do poder
por força de erros cometidos, condenações formalizadas ou acusações muito
fundamentadas. Há muitos vícios expostos e ao alcance. Cada qual que olhe em
volta para descobrir que o país e os políticos perderam a vergonha da mesma
forma que muitas autoridades. Será fácil perceber que mudar presidente é pouco.
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