Márcio Doti
O ano só começa depois do carnaval.
Isto não é novo. Com real em alta, com real em baixa, com inflação ou sem ela,
com uma epidemia de escândalos ou uma desarrumação generalizada, a verdade é
que as ações só surgem depois que os tambores se calam e a quarta-feira chega;
cheia de cansaço, de medos, arrependimentos e dissimulações. Essas coisas estão
previstas. Por mais que se queira vestir cores de esperança ou de otimismo, não
há números na economia, nem sinais nas bolsas de valores, sequer entusiasmo nem
mesmo nesse conselhão montado pela presidente Dilma Rousseff para encorajar
donos do dinheiro a enfiar as mãos nos bolsos e colocar no mercado suas
fortunas para mover engrenagens, fazer surgir empregos e, sobretudo,
compradores que ponham em movimento o que a incompetência cuidou de espantar,
afugentar e paralisar.
UM PAÍS ALQUEBRADO
Mesmo ao som dos tambores e das
cuícas, o que os foliões - que somos todos nós, estão percebendo, é um país
alquebrado, desanimado, de gente que olha para todos os lados e enxerga só
sinais de destruição, de desarrumação. Gente tentando ludibriar a opinião
pública, um pobre juiz herói sozinho contra toda uma estrutura que não diz a
que veio ou a que deveria vir. Uma Polícia Federal heróica que acaba de levar
um tiro nas asas ao perder do seu orçamento anual R$150 milhões. Será mesmo
verdade que o juiz Sérgio Moro teve que pagar do próprio bolso a conta de
energia elétrica da Superintendência de Curitiba? E o Ministério Público Federal
que também luta contra um corte de suas verbas no orçamento. Será que em meio a
tantos escândalos, tanta coisa para ser consertada, havia ambiente para retirar
desse órgão os recursos indispensáveis para as suas ações?
A DURA REALIDADE
Enquanto não chega a quarta-feira de
cinzas, o folião brasileiro olha para o outro lado e enxerga políticos se
mexendo para articular um grande movimento contra um anunciado e já alquebrado
impeachment presidencial. Cassaram o mandato do governador do Amazonas. O TRE
de lá tirou o mandato do governador José Melo, do PROS, depois de julgar ação
impetrada pelo outro candidato, Eduardo Braga, do PMDB. Qual seria o resultado
se fosse o contrário, se a ação fosse do candidato do PROS contra um governador
do PMDB? Não se arrisquem a responder.
Mas a quarta-feira de cinzas vai
chegar e em meio às confusões ressucitadas dos tribunais e dos plenários
legislativos haverá nas casas, nos bolsos e nas mesas o encontro de foliões
cansados com a realidade insuportável, já agora sentida, mas que pode ser mais
dura diante da absoluta ausência de futuro, de plano consistente, no que nos
repetimos do comentário dessa terça. Onde estão os planos? E mais que isso,
onde está o eldorado prometido?

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