Malco Camargos
Muita coisa aconteceu na gestão
pública brasileira nos últimos anos e outras tantas poderiam ter acontecido.
Entre o que poderia ter acontecido, gostaria de destacar alguns fatores que,
dadas as oportunidades que os governos tiveram, principalmente no primeiro
mandado do ex-presidente Lula e também nos dois primeiros anos de mandato da
presidente Dilma, quando a opinião pública clamava por uma nova forma de se
fazer política.
O primeiro fator é o grau de dependência das empresas estatais para desenvolvimento do país. De Getúlio Vargas até hoje, sempre nos orgulhamos de nossas estatais, colocando-as sobre pedestais, em uma condição quase intocável.
Neste lugar, nossas empresas, com maior ou menor grau de competitividade no mercado interno e externo, sempre serviram de alicerce para financiamento das disputas eleitorais, recrutamento de cargos visando aos interesses políticos e regulação do mercado visando a beneficiar determinados setores. Em resumo, não foram apenas matrizes do desenvolvimento, mas também matrizes de vários problemas do nosso sistema político.
O segundo fator se correlaciona com o primeiro. Assim como somos dependentes das estatais, ficamos dependentes também de uma meia dúzia de grandes empreiteiras que, sozinhas, fazem as obras e geram quase todo o parque de infraestrutura mobilizado pelos governos estaduais e federal.
Em contrapartida, essas mesmas empreiteiras são responsáveis pela maior parte do financiamento das disputas eleitorais. O governante que pretender fazer diferente terá que romper com essa lógica, aumentando a participação de pequenas e médias empresas na arena pública, para que a relação entre governos e fornecedores seja formulada em outra lógica que não a de compromissos prévios e financiamentos futuros.
Estes dois vieses – no sentido negativo da palavra – da política brasileira ficam cada vez mais evidentes ao se analisar os desdobramentos da Operação Lava Jato da Polícia Federal. Com foco na Petrobras, que vinha de vento em popa, alardeando seus sucessos com o pré-sal e com a expansão na atuação em outros países, a operação revela uma teia de financiamento de políticos e da política que deve ser rompida para que a tão clamada eficiência do Estado possa ser desenvolvida no país.
A Operação Lava Jato proporciona uma oportunidade de transformar essas ameaças da política brasileira. A lógica atual, focada na dependência dos grandes financiadores, não é um arranjo interno do nosso sistema político e eleitoral, mas uma maneira que os agentes públicos construíram para se manter no poder.
Sendo assim, os desdobramentos da Operação Lava Jato podem gerar muito mais do que a punição de um grupo de políticos e empresários que se acostumou a locupletar-se no Estado brasileiro. Os desdobramentos podem gerar um espaço de menor dependência das estatais e também das grandes empreiteiras. Poderíamos, assim, transformar, como fazem os bons administradores, essa ameaça em uma grande oportunidade.
P.S. Esta é a minha última contribuição neste espaço. Foram quase dois anos de análise da política local e nacional. Que novas oportunidades possam surgir em um futuro próximo. Até breve!
*Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver
O primeiro fator é o grau de dependência das empresas estatais para desenvolvimento do país. De Getúlio Vargas até hoje, sempre nos orgulhamos de nossas estatais, colocando-as sobre pedestais, em uma condição quase intocável.
Neste lugar, nossas empresas, com maior ou menor grau de competitividade no mercado interno e externo, sempre serviram de alicerce para financiamento das disputas eleitorais, recrutamento de cargos visando aos interesses políticos e regulação do mercado visando a beneficiar determinados setores. Em resumo, não foram apenas matrizes do desenvolvimento, mas também matrizes de vários problemas do nosso sistema político.
O segundo fator se correlaciona com o primeiro. Assim como somos dependentes das estatais, ficamos dependentes também de uma meia dúzia de grandes empreiteiras que, sozinhas, fazem as obras e geram quase todo o parque de infraestrutura mobilizado pelos governos estaduais e federal.
Em contrapartida, essas mesmas empreiteiras são responsáveis pela maior parte do financiamento das disputas eleitorais. O governante que pretender fazer diferente terá que romper com essa lógica, aumentando a participação de pequenas e médias empresas na arena pública, para que a relação entre governos e fornecedores seja formulada em outra lógica que não a de compromissos prévios e financiamentos futuros.
Estes dois vieses – no sentido negativo da palavra – da política brasileira ficam cada vez mais evidentes ao se analisar os desdobramentos da Operação Lava Jato da Polícia Federal. Com foco na Petrobras, que vinha de vento em popa, alardeando seus sucessos com o pré-sal e com a expansão na atuação em outros países, a operação revela uma teia de financiamento de políticos e da política que deve ser rompida para que a tão clamada eficiência do Estado possa ser desenvolvida no país.
A Operação Lava Jato proporciona uma oportunidade de transformar essas ameaças da política brasileira. A lógica atual, focada na dependência dos grandes financiadores, não é um arranjo interno do nosso sistema político e eleitoral, mas uma maneira que os agentes públicos construíram para se manter no poder.
Sendo assim, os desdobramentos da Operação Lava Jato podem gerar muito mais do que a punição de um grupo de políticos e empresários que se acostumou a locupletar-se no Estado brasileiro. Os desdobramentos podem gerar um espaço de menor dependência das estatais e também das grandes empreiteiras. Poderíamos, assim, transformar, como fazem os bons administradores, essa ameaça em uma grande oportunidade.
P.S. Esta é a minha última contribuição neste espaço. Foram quase dois anos de análise da política local e nacional. Que novas oportunidades possam surgir em um futuro próximo. Até breve!
*Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver

Nenhum comentário:
Postar um comentário