Márcio Doti
A semana vai se consumindo em meio às
repercussões das revelações feitas por Nelson Cerveró em delação premiada. Suas
informações são muito importantes porque ele foi Diretor da Área Internacional
da Petrobras no momento em que a empresa viveu o maior ataque dos gafanhotos
acobertados pelo PT.
Começa por uma informação, que apesar
de forte não vem acompanhada de nomes e detalhes, foi passada apenas na base do
“ouvir dizer”. Mas, que ainda assim, deve chamar a atenção dos investigadores
da Lava Jato: segundo Cerveró, a venda da petrolífera argentina Perez Companc
para a Petrobras envolveu propina de U$100 milhões. O ex-presidente FHC rebate
dizendo que se tratou de uma operação limpa.
Em 2008, Cerveró foi afastado da
Diretoria Internacional e por uma questão de gratidão do PT, como Nelson
Cerveró afirma, ele foi compensado por ter sido demitido da Diretoria
Internacional em função de ocupar o seu cargo, por pressão do PMDB, Jorge
Zelada, que posteriormente foi preso pela Lava Jato. Mas, por gratidão, Cerveró
foi nomeado por Lula para uma diretoria da BR Distribuidora. Também porque os
petistas ficaram agradecidos quando Cerveró contribuiu para a quitação de um
empréstimo feito pelo Banco Schahin ao PT, com a ajuda de José Carlos Bumlai,
aquele pecuarista amigo de Lula que tinha até entrada livre nos palácios de
Brasília.
O empréstimo de R$6 milhões tinha sido
tomado para comprar o silêncio de um empresário da região do ABC que estaria
fazendo chantagem com os petistas, ameaçando contar detalhes do assassinato do
prefeito Celso Daniel, caso até hoje mantido com grande dose de mistério.
Olha só como o dinheiro rolava solto:
Cerveró quitou o empréstimo contratando a Schain Engenharia por U$1,6 bilhão
para a operação de um navio-sonda da Petrobras. Faz parte da delação de Cerveró
um detalhe não menos importante e revelador da trama, do emaranhado em que se
transformou o governo petista: foi dessa BR Distribuidora, muito presente nos
escândalos da Petrobras, que saiu o seu presidente, José Eduardo Vargas, já
falecido, com ordens de Lula para ir direto armar o desmonte de uma CPI sobre a
Petrobras, que em 2009 rolava no Congresso. Afirmou-se na época que a Petrobras
destinou R$ 50 milhões para a contratação de vários escritórios de assessoria
de imprensa a fim de controlar a mídia e engavetar a CPI. Certamente porque, já
àquela época, a Petrobras era um prato cheio, mas tão indigesto que não podia
vir a público.
Cerveró conta que em 2012 foi
convocado ao gabinete de Renan Calheiros que reclamou da falta de repasses de
propina acertada com a direção da BR Distribuidora. Isso foi contado em
detalhes que aqui não interessam porque o objetivo é só o de dimensionar o
tamanho e o alcance das propinas que saíam daqui e dali para bolsos de
autoridades do mais alto escalão da República.
A mais bombástica e recente delação de
Cerveró feita à Procuradoria Geral da República é a que liga a presidente Dilma
diretamente aos escândalos. Cerveró afirmou que ouviu o senador Fernando Collor
dizer que as negociações para indicar cargos de chefia na BR Distribuidora
haviam sido conduzidas diretamente pela presidente Dilma. As delações de
Cerveró, a bem da verdade, são um belo retrato do Brasil dos nossos dias.
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