quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O VOTO É ARMA MAIS IMPORTANTE



  

Manoel Hygino



Estamos entrando em novo ano, sem a sincera esperança de que será melhor do que 2015, já de triste memória e antevendo que 2016, em consequência, não será dos melhores. Em meio às muitas tragédias, além daquela cujo início se deu a partir do rompimento da barragem de resíduos de minérios de Bento Rodrigues, há a de natureza política e administrativa, cuja duração não será menor, nem menos prejudicial à nação, hoje conspurcada.
O desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, do Tribunal de Justiça e professor universitário respeitado, escreveu artigo em que homenageia o ministro Carlos Mário da Silva Veloso pela implantação, como presidente do STE, em 1996, das urnas eletrônicas, visando assegurar segurança na captação de sufrágio, e enfatizando a importância da Lei da Ficha Limpa no contexto histórico e político do Brasil. Para ele, “o texto legal exige, em sua interpretação e aplicação, sintonia com as expectativas contemporâneas da sociedade brasileira e o princípio constitucional da moralidade administrativa”.
No entanto, os resultados das duas ferramentas não foram os esperados, como se constata pela indignação e repulsa dos homens de bem deste país, que podem, contudo, conferir o esforço de determinados organismos do Estado, como o Judiciário e a Polícia Federal.
“Aplicar escorreitamente as normas de inegibilidade – especialmente a decorrente de improbidade administrativa – é mais que um imperativo ético, pois um dever de cidadania”, como adverte o desembargador.
Ser honesto é obrigação. Provar que o é, também. Combater a corrupção no contexto histórico e político brasileiro, em que “a chaga da improbidade espraia-se pelas diversas unidades federativas e esferas de poder”, é dever. O Brasil quer sair da lama, não a que se referiu Vargas, em momento trágico de sua vida, nem a que desceu pelas águas do rio Doce.
O professor Luiz Werneck Viana foi exato em artigo na imprensa paulistana. É hora de “a política se fazer presente, removendo práticas e instituições que levaram a atividade à degradação”. E alerta para “o risco de intervenções desastradas dos atuais governantes”.
Em adição a essas considerações, muitos princípios e lições, inclusive bíblicas, são incluídas por Garcia de Lima em seu artigo. Sem embargo, imprescindível que os ensinamentos da ética não fiquem circunscritos à publicação nos órgãos do poder público ou às cátedras. Como, aliás, acontece frequentemente. É preciso aplicar a lei.
A propósito, o historiador José Murilo de Carvalho, inspirando-se em Paulino José Soares de Souza, o visconde do Uruguai, referiu-se aos grandes males da política nacional, como a distância entre governo e povo, a burocracia absolutista e ineficaz, a mania de esperar tudo do Estado, o sufocamento dos municípios, a inadequada distribuição de responsabilidades entre os municípios, províncias e governo central, o empreguismo, o empenho, o clientelismo, o patronato, o predomínio dos interesses pessoais e de facções, a falta de espírito público, a falta de garantia dos direitos individuais, que continuam na ordem do dia, posto que atenuados”. Hoje, não é tanta e tamanha a atenuação como na época do Visconde.


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