Depoimento de José Dirceu na Lava Jato preocupa PT
De São Paulo
- Heuler Andrey/AFP
O depoimento do ex-ministro José Dirceu à Justiça Federal do Paraná,
marcado para sexta-feira (30) em Curitiba, se transformou em mais um motivo de
preocupação para a cúpula do PT. O temor é de que, para se defender das
acusações de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Dirceu
aponte o partido como responsável por indicações na Petrobras, o que abriria um
novo flanco de investigação contra dirigentes e ex-dirigentes petistas.
Até a quarta-feira, 27, era consenso no PT que Dirceu não incriminaria
diretamente outros nomes. Ao apontar o partido como responsável pelas
indicações, ele apenas colocaria em prática uma nova estratégia de defesa,
avaliavam os petistas. No entanto, o depoimento do ex-ministro poderá, nesse
caso, abrir um novo caminho para a investigação relativa ao partido.
Outro temor é de que Dirceu utilize um de seus ex-assessores e amigos
que também são alvos da operação para apontar novos nomes. Esse receio cresceu
nos últimos dias após o depoimento do empresário Fernando Moura, conhecido no
partido pela sólida amizade com José Dirceu.
Na última sexta-feira, 22, Moura, réu da Operação Lava Jato, disse que
pagou propina para o PT e que seus contatos sobre valores ilícitos foram feitos
com o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira e com o ex-diretor de
Serviços da Petrobras Renato Duque - preso desde abril do ano passado.
"Qualquer coisa que fiz a nível de partido, de conversa, foi feito
através do Sílvio Pereira", afirmou Moura em depoimento prestado no âmbito
da mesma investigação na qual Dirceu será ouvido na quinta-feira.
Interrogado pelo juiz federal Sérgio Moro, como réu no processo do
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (gestão Lula), o lobista apontou
contratos da Petrobras - obras de gasodutos, plataformas - em que ele diz ter
feito acertos envolvendo Sílvio Pereira e Duque e que tinham o PT como
beneficiário. Ele ainda citou os diretórios como receptores. "Porcentagens
de valores de comissão (iam) para o diretório nacional e diretório estadual de
São Paulo", afirmou Moura.
"Isso, tanto com o senhor, quanto o Sílvio?", questionou um
dos procuradores na audiência. "Tenho certeza de que o Sílvio conversou
comigo e com o Renato (Duque) também (sobre porcentuais)", disse Moura. O
procurador insistiu: "O senhor conversou com os empresários sobre isso
também?"
"Não. Os empresário eu não tive nenhum contato. O contato era
direto com o Sílvio", respondeu afirmativamente Moura, que fechou acordo
de delação com a Lava Jato.
Em outro ponto, Moura foi questionado diretamente sobre o ex-ministro.
"Com relação aos recebimentos de José Dirceu, o senhor tinha participação,
alguma vez coletou valores em espécie em favor dele?" "Nada. E nunca
negociei com o Zé, direto, de dinheiro de nada."
Moura também afirmou que Pereira "nunca" lhe "falou que
estava dando para o Zé". "Nunca paguei nada para ele e ele nunca
pagou nada para mim."
Moura foi questionado se Silvio Pereira sempre foi o contato entre ele e
Dirceu: "Silvo Pereira era quem eu tinha contato com ele, a minha relação
com Zé era muito mais de amizade", responde Moura.
Mensalão
Silvio Pereira está oficialmente afastado do PT desde o mensalão,
deflagrado em 2005. No final de 2002, logo após a vitória de Lula na disputa
pela Presidência, ele foi o responsável pelo preenchimento de cargos de
primeiro escalão no governo que começava a ser montado. No entanto, os petistas
afirmam reservadamente que Silvinho, como ele é conhecido no partido, não tinha
autonomia para as nomeações e trabalhava sob as orientações de Dirceu e do
ex-tesoureiro Delúbio Soares.
As informações são
do jornal "O Estado de S. Paulo".

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