terça-feira, 22 de dezembro de 2015

SUPLÍCIO DO PAPAI NOEL



  

João Carlos Martins




É de fato muito interessante e inusitado o encontro desse personagem, tão importante nas nossas festas natalinas, com um grande autor francês; o antropólogo Claude Lévi-Strauss e uma grande editora; a Cosacnaify!
O encontro se deu assim: No início desse dezembro, tomei para leitura um simpático livro desse autor, editado pela Cosacnaify! Trata-se de uma edição comemorativa ao centenário de seu nascimento, que traz um ensaio de sua autoria, intitulado: “O Suplício do Papai Noel”.
Esse encontro tornou-se ainda mais significativo quando me deparei com a notícia de que, de acordo com entrevista publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” em 30 de novembro passado, o editor Charles Cosac anunciou o fim da editora. Uma editora, como ele mesmo disse: “Cult, cujos livros são destinados a professores a acadêmicos e estudantes de arte”, como bem ilustra esse livro-homenagem. É um pequeno livro de capa dura, branca com detalhes em vermelho e com a pontuação do texto também em vermelho; uma delicada homenagem ao tema.
Mas que história é essa de suplício do Papai Noel? – Lévi-Strauss parte de um episódio ocorrido na França, em Dijon, em 1951, quando as autoridades eclesiásticas, preocupadas com a importância dada ao Papai Noel, em detrimento das motivações religiosas do Natal, promoveram o ato simbólico de enforcar o Papai Noel nas grades da catedral de Dijon e queimá-lo publicamente! “Ele foi acusado de paganizar a festa de Natal e de se instalar como um intruso, ocupando um espaço cada vez maior!”
Ao estudar, a partir desse incidente, as festas natalinas e a figura do Papai Noel, Lévi-Strauss nos ensina que “as razões aparentes que atribuímos aos acontecimentos nos quais somos atores são muito diferentes das causas reais que neles nos determinam algum papel”.
A variedade de nomes dados ao personagem incumbido de distribuir os brinquedos às crianças: Papai Noel, São Nicolau, Santa Claus, mostra que ele é o resultado de um fenômeno etnológico chamado de convergência e não um protótipo antigo conservado por toda a parte. A Igreja estava certa quanto à relação do Papai Noel com o paganismo, mas se equivocou quanto à sua perenidade!
Fazendo uma analogia entre o Papai Noel e um personagem do folclore de uma tribo indígena do sudoeste americano ou estudando a origem distante do Papai Noel a partir do Abade de Liesse e dos Reis do Natal medievais e sua ligação com as Saturnais da época romana, Lévi-Strauss conclui que as crenças e ritos ligados ao Papai Noel derivam de uma sociologia iniciática. “Trazem à tona, para além de uma oposição entre crianças e adultos, uma oposição mais profunda entre mortos e vivos! ”
Houve, segundo o autor, uma mudança para melhor, da nossa relação com a morte. Ao invés de periodicamente promover a subversão das leis e da ordem, como nas festas medievais, promover a vida através de uma “benevolência levemente desdenhosa”, ofertando símbolos, na forma de presentes e brinquedos, através das crianças, exaltando a “doçura do viver, que consiste em primeiro lugar, em não morrer!” Comemoremos!
Viva o Papai Noel! Obrigado Lévi-Strauss! Feliz Natal para todos!

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