João Carlos Martins
É de fato muito interessante e
inusitado o encontro desse personagem, tão importante nas nossas festas
natalinas, com um grande autor francês; o antropólogo Claude Lévi-Strauss e uma
grande editora; a Cosacnaify!
O encontro se deu assim: No início
desse dezembro, tomei para leitura um simpático livro desse autor, editado pela
Cosacnaify! Trata-se de uma edição comemorativa ao centenário de seu
nascimento, que traz um ensaio de sua autoria, intitulado: “O Suplício do Papai
Noel”.
Esse encontro tornou-se ainda mais
significativo quando me deparei com a notícia de que, de acordo com entrevista
publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” em 30 de novembro passado, o
editor Charles Cosac anunciou o fim da editora. Uma editora, como ele mesmo
disse: “Cult, cujos livros são destinados a professores a acadêmicos e
estudantes de arte”, como bem ilustra esse livro-homenagem. É um pequeno livro
de capa dura, branca com detalhes em vermelho e com a pontuação do texto também
em vermelho; uma delicada homenagem ao tema.
Mas que história é essa de suplício do
Papai Noel? – Lévi-Strauss parte de um episódio ocorrido na França, em Dijon,
em 1951, quando as autoridades eclesiásticas, preocupadas com a importância
dada ao Papai Noel, em detrimento das motivações religiosas do Natal,
promoveram o ato simbólico de enforcar o Papai Noel nas grades da catedral de
Dijon e queimá-lo publicamente! “Ele foi acusado de paganizar a festa de Natal
e de se instalar como um intruso, ocupando um espaço cada vez maior!”
Ao estudar, a partir desse incidente,
as festas natalinas e a figura do Papai Noel, Lévi-Strauss nos ensina que “as
razões aparentes que atribuímos aos acontecimentos nos quais somos atores são
muito diferentes das causas reais que neles nos determinam algum papel”.
A variedade de nomes dados ao
personagem incumbido de distribuir os brinquedos às crianças: Papai Noel, São
Nicolau, Santa Claus, mostra que ele é o resultado de um fenômeno etnológico
chamado de convergência e não um protótipo antigo conservado por toda a parte.
A Igreja estava certa quanto à relação do Papai Noel com o paganismo, mas se
equivocou quanto à sua perenidade!
Fazendo uma analogia entre o Papai
Noel e um personagem do folclore de uma tribo indígena do sudoeste americano ou
estudando a origem distante do Papai Noel a partir do Abade de Liesse e dos
Reis do Natal medievais e sua ligação com as Saturnais da época romana,
Lévi-Strauss conclui que as crenças e ritos ligados ao Papai Noel derivam de
uma sociologia iniciática. “Trazem à tona, para além de uma oposição entre
crianças e adultos, uma oposição mais profunda entre mortos e vivos! ”
Houve, segundo o autor, uma mudança
para melhor, da nossa relação com a morte. Ao invés de periodicamente promover
a subversão das leis e da ordem, como nas festas medievais, promover a vida
através de uma “benevolência levemente desdenhosa”, ofertando símbolos, na
forma de presentes e brinquedos, através das crianças, exaltando a “doçura do
viver, que consiste em primeiro lugar, em não morrer!” Comemoremos!
Viva o Papai Noel! Obrigado
Lévi-Strauss! Feliz Natal para todos!
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