Luiz Hippert
Duas cenas, duas madrugadas.
Um cara segue pela rua, está a pé e
sozinho, meio apreensivo pela pouca iluminação. Lá na frente, o jogo de luzes
alternadas revela uma viatura de polícia. O que deveria ser um alívio, sensação
de segurança, vira uma crise de pânico. Ele está em dia com tudo, não deve nada
a ninguém. Mas já pode prever a abordagem violenta. Torce para que, pelo menos,
seja breve. Este homem é negro.
Um casal anda de mãos dadas pela rua.
De vez em quando trocam selinhos, pequenas demonstrações de carinho. Lá na
frente, percebem um grupo que se aproxima. Ruidoso, truculento. O que poderia
gerar apenas um aceno amistoso – e talvez alegre – de boa noite, vira uma crise
de pânico. Eles estão tranquilos, não devem nada a ninguém. Mas já podem prever
a abordagem violenta. Torcem para que, pelo menos, saiam dali com vida Este é
um casal gay.
Situações corriqueiras numa sociedade
onde alguns grupos insistem em ser privilegiados. Vítimas profissionais, sempre
reclamando do que não existe, nessa sociedade que criticam, mas que se mostra
totalmente igualitária, a não ser pelos protestos e reclamações desse povo
implicante. Racismo e homofobia não passam de fantasias, argumentos forjados
por quem se sente detentor de direitos especiais e grita por leis exclusivas.
Uma sociedade onde a igualdade de gêneros também é algo incontestável e o
respeito chega a ser comovente.
São uns coitadinhos. Só que não.
Tá bom, mas coitadismos à parte, a
coluna de hoje não deveria ser sobre o Natal? Afinal de contas, essa é uma data
arrebatadora, e quando vai se aproximando, acaba tomando conta e se sobrepondo
a todos os assuntos.
Tem quem aproveite a oportunidade para
criticar. Protestos pelo consumismo, pelo esquecimento do “espírito de Natal”,
pelo mero pretexto para o incremento das atividades comerciais. Tem também os
que se queixam da crise, que chega para empobrecer, ou mesmo inviabilizar, a
fartura da ceia e a montanha de presentes ao pé de pinheirinhos de plástico
cobertos pela neve de algodão.
Mas tem ainda quem veja o lado mais
humano e espiritual. A oportunidade única do ano, onde praticamente o mundo
inteiro se encontra irmanado, ao mesmo tempo, no ideal da difusão do amor.
Então, estas são as nossas histórias
de Natal, e a madrugada pode ter finais surpreendentes, desfechos que nos
encantem pela gentileza e civilidade.
O policial acena para o homem negro,
que lhe devolve um sorriso e o cumprimento solidário pelo plantão em pleno
feriado. Segue o seu caminho, sentindo-se em segurança nas ruas desertas.
Os jovens em grupo barulhento rodeiam
o casal gay, para dividir com eles a alegria meio bêbada de quem volta de uma
confraternização familiar. Abraços são inevitáveis nessa noite de felicidade contagiante.
Duas pequenas histórias de final
inventado.
Quem sabe, um dia, não se tornem
reais. Feliz natal pra todos. Feliz Natal.
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