quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

SE TE SATISFAZ!



  

Simone Demolinari




“Eu tinha 15 anos quando comecei a assistir a pornografia, após meus pais me comprarem um laptop. Fiz o que praticamente todo adolescente faz e procurei sites de pornografia. Eu não conseguia ter ereções com mulheres de verdade porque eu tinha assistido a tanta pornografia. Não era mais excitante estar com uma mulher de verdade. Me sentia mal, não sabia o que havia de errado comigo. Sexualmente, não conseguia sentir nada por ninguém. Não tinha libido, minha libido parecia falsa. Eu tinha libido por pornografia, mas não por seres humanos reais”.

Este é o depoimento de Daniel Simmons para BBC Brasil, um jovem de 23 anos viciado em pornografia.

Com a ajuda da internet, o consumo de conteúdo pornográfico aumentou consideravelmente nos últimos anos. Fotografias e vídeos de teor sexual são disponibilizados e compartilhados livre e diariamente. O problema é que isso pode causar sérias consequências e uma delas é a dependência.

Viciados costumam passar horas do seu dia em função dessa atividade, inclusive comprometendo o lado profissional, familiar e social. Não é à toa que a pornografia é considerada a droga virtual. Usuários em busca da excitação querem cada vez mais. Funciona da mesma forma que outras dependências, conforme a exposição aumenta-se a tolerância, sendo necessário aumentar a dose.

Outro problema que o vício em pornografia pode causar é a fantasia idealizada. Indivíduos que consomem muito esse tipo de conteúdo passam a considerar aquilo como ideal de prazer, julgando sua vida sexual cada vez mais sem graça. Ao assistir aos filmes pornôs, parece que as pessoas esquecem que os partícipes são atores, que as cenas são friamente calculadas e que muitas vezes os gemidos são de dor.

Na produção de um vídeo erótico não há compromisso com o prazer, mas sim com a técnica. Mesmo assim, aquelas imagens parecem ficar introjetadas no imaginário.

Quando se vai para a vida real, a dinâmica é outra. Os protagonistas não são tão performáticos quanto os atores. Há limitações físicas, morais, incômodos, desencontros e isso causa no indivíduo uma grande frustração. Muitas vezes, durante a prática sexual, é preciso recorrer aos vídeos pornográficos para estimular a fantasia, uma vez que o parceiro não é o bastante.

Há casos em que a pessoa chega a considerar mais prazeroso a masturbação ao sexo presencial, devido ao nível de dependência à pornografia.

Estima-se que 37% do que é compartilhado na internet seja conteúdo pornográfico sendo o grande público masculino. Dessa forma cria-se um novo problema. Muitas mulheres, para agradar seus parceiros, fingem gostar da prática, demonstram-se excitadas enquanto na verdade dispensariam esse recurso na hora do sexo. Algumas cansam de fingir e abrem o jogo com seus parceiros, outras sustentam a farsa.

Em tese, a pornografia tem a intenção de estimular o prazer, mas, na prática, o que se vê é uma dependência e um eventual empobrecimento da relação sexual.

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